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Bala na Cesta

Com 'vergonha na cara', Clarissa vira protagonista na seleção feminina

Fábio Balassiano

23/09/2011 00h37

Corria o ano de 2006, e quem frequentava o ginásio das Laranjeiras para ver o time feminino do Fluminense no Nacional daquele ano ficava impressionado com a camisa 11 que registraria as médias de 16,7 pontos e 12,1 rebotes no campeonato. Mesmo assim havia uma série de ressalvas: "Ela é baixa", "Ela é gordinha", "Jogar em time de menor investimento é mole" ou "Ela não aceita sair do Rio de Janeiro". Era o que se ouvia. Cinco anos passaram, Clarissa saiu do Flu, passou pelo Vagos (Portugal), Catanduva e agora está em Americana, onde é uma das principais jogadoras de uma das principais equipes do país.

Se a história terminasse aí já seria bacana para quem até 2005 conciliava o basquete com lançamento de disco e arremesso de peso no Projeto Esportivo do Miécimo da Silva (na Zona Oeste do Rio de Janeiro), mas a menina hoje com 23 anos e um sorriso que não sai do seu rosto foi além. Com "vergonha na cara", como ela mesma diz, aprimorou a parte física, manteve a sua fantástica garra intacta, evoluiu em termos técnicos e se tornou uma das principais armas da seleção feminina que começa a jogar o Pré-Olímpico no sábado (ela acaba de ser escolhida a melhor jogadora do torneio de preparação disputado, e vencido, em Pitalito). Confira o papo completo com a jogadora!

BALA NA CESTA: Você consegue acreditar que há menos de cinco anos nem sabia se seria jogadora de basquete e hoje você está aqui, na seleção adulta, e como uma das protagonistas?
CLARISSA: De verdade? Não, não mesmo. Nunca planejei muita coisa na minha vida. Até pouco tempo atrás eu acreditava que poderia seguir no atletismo e no basquete ao mesmo tempo. Você me conhece e sabe que sou meio desligada, então eu acabo não pensando muito no futuro. Vivo o presente e acho que tem sido bacana assim mesmo. Acho que meu maior mérito foi não ter desistido. Tive ótimas pessoas ao meu lado, como o Guilherme Vos (seu técnico na Mangueira e Fluminense), além da minha família, e hoje estou aqui para ajudar a seleção feminina.

BNC: Até que ponto a sua ida para Portugal te ajudou a ser a jogadora que você é hoje? Por menos evoluído que o basquete de lá seja, foi a sua primeira experiência internacional e longe de casa, certo?
CS: Cara, foi lá que realmente eu vi que estava vivendo de basquete, que poderia dar uma situação melhor para a minha família e que estava sendo reconhecida pelo que fazia. Foi lá, longe da minha mãe e da minha avó, com quem eu morava no Rio de Janeiro, que passei a me cuidar mais, ter vergonha na cara mesmo, e a entender que tudo tinha um limite. Treinei mais, me cuidei mais e os resultados foram aparecendo. Foi um período muito bom para mim, em termos pessoais e profissionais, e eu só tenho a agradecer aos portugueses e ao Vagos, meu time. Tanto foi assim que quando voltei ao Brasil, para Catanduva, a primeira coisa que me falaram era que minha parte física tinha que ser aprimorada – e eu entendi perfeitamente.

BNC: Com pouco mais de seis anos de basquete, como você vê a sua evolução como atleta (dentro de quadra mesmo)?
CS: Olha, eu continuo errando muito, fazendo muita besteira mesmo. Eu sei e me cobro demais em relação a isso. Acho que tenho um tempo bom de rebote e sou agressiva no ataque, mas como comecei tarde na modalidade, meus fundamentos não são tão perfeitos como o das outras meninas. Isso pra mim é muito claro, mas tenho me esforçado demais nos treinamentos para reduzir as minhas falhas. Vou chegar lá (risos).

BNC: Você surgiu no basquete do Rio de Janeiro, e agora está atuando no basquete de São Paulo. É um "mundo" completamente diferente em relação ao restante do país em termos de estrutura de basquete?
CS: Olha, São Paulo tem mais investimento, mais gente trabalhando e mais meninas jogando. Por isso acaba "saindo" mais jogadoras. Mas é muito claro pra mim que no Brasil inteiro tem jogadoras de ótimo nível. Você vai a um brasileiro de base e vê uma série de atletas com um potencial absurdo a ser explorado. Não é que não se faça basquete sério em outros cantos do Brasil, tanto que a Ivana, que está na Mangueira, treinou aqui na seleção conosco. A diferença é que em São Paulo há oito, dez equipes com investimento forte na base e um campeonato com mais jogos.

BNC: Sei que sua cabeça está no Pré-Olímpico de Neiva, mas passa pela sua cabeça jogar em 2016 no Rio de Janeiro diante de toda a sua família e amigos?
CS: Nesse momento eu só penso nessa vaga olímpica. Depois a gente vê o que acontece. Preciso treinar, treinar e continuar treinando. Já evoluí bastante em relação ao que era, e quero continuar assim, melhorando, me desenvolvendo. Se chegar em 2016 bem e for convocada, será uma emoção grande. Mas até lá tem muito chão, né (risos).

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