Da boca do Mão-Santa
De seleção brasileira Oscar Schmidt entende. Foram cinco Olimpíadas, 1.093 pontos (recorde absoluto dos Jogos) e mais de 20 anos vestindo a camisa amarela (isso sem falar no bronze no Mundial de 1978 e no inesquecível Pan-Americano de 1987). Oscar dispensa apresentações, ora bolas, e o Bala na Cesta foi conversar com o Mão Santa neste momento tão conturbado a respeito do basquete do país após o pedido de dispensa de Nenê e a polêmica naturalização do norte-americano Larry Taylor. Leia o papo.
BALA NA CESTA: Na última sexta-feira o Nenê pediu dispensa da seleção brasileira, o que gerou uma série de mensagens pouco amistosas dos torcedores em relação ao pivô do Denver Nuggets, da NBA. O que você achou da atitude do atleta?
OSCAR SCHMIDT: Achei deplorável. Se Manu Ginóbili (ala da Argentina e campeão olímpico), Dirk Nowitzki (ala-pivô da Alemanha que acaba de se sagrar campeão da NBA) e Kobe Bryant (ala-armador norte-americano considerado um dos melhores de todos os tempos), craques consagrados, jogam por suas seleções com gosto, não justifica, de maneira alguma, que os nossos atletas fiquem de fora.
— Invariavelmente o seu nome e o do Marcel, bem como de Paula e Hortência também, são citados como uma turma que jogava pela seleção com muita paixão. Hoje parece que os tempos mudaram. Você consegue enxergar isso também?
— Claro, claro que enxergo isso – e como enxergo. Isso me deixa com muita raiva, e essa é a pior parte dos maus resultados da seleção dos últimos anos (essa falta de paixão mais do que perceptível). Quer saber? Que não venham mais então.
— Outro assunto que chamou a atenção foi a naturalização do Larry Taylor, o que gerou até um comentário seu: "Um técnico argentino convocou um americano para a seleção brasileira". Como você viu o chamado do Taylor? Achou normal?
— Olha, eu não gostaria, mas já que os nossos atletas não conseguiram atingir os objetivos recentemente, por que não convocar o rapaz? O mesmo penso em relação ao técnico, apesar de, na minha opinião, termos vários bons que mereceriam uma chance por aqui (Claudio Mortari, Marcel, Guerrinha etc.).
— Por outro lado, o Pré-Olímpico de Mar del Plata contará com a geração dourada dos argentinos (campeã das Olimpíadas em 2004), e com um caso emblemático, o do Fabricio Oberto, que se recuperou de uma arritmia cardíaca e pediu para jogar a competição para se despedir com seus companheiros. Dá para comparar o espírito dos hermanos com o que os atletas daqui apresentam, Oscar?
— Vou dizer uma coisa a você sinceramente: eu invejo o patriotismo dos argentinos e dos norte-americanos, e me dá raiva que muitas vezes os brasileiros não tenham o mesmo sentimento. O caso do Oberto que você cita é apenas um dos milhares de exemplos que há por aí.
— Como mostrar para o jovem que hoje começa na modalidade que a seleção brasileira pode fazer parte da lista de prioridades dele? É possível isso?
— Cara, poderia te dar mil explicações, mas de verdade? Isso nasce com a pessoa. Não adianta, não dá para ensinar, mostrar. Infelizmente ou a pessoa tem isso ou não.
— Depois de quase dois anos de gestão, como você avalia o trabalho do presidente Carlos Nunes? Algo mudou, ou estamos na mesma?
— Até agora eu acho a gestão da CBB boa. Oficializou a LNB, contratou a Hortência e o Vanderley para cuidar das seleções feminina e masculina e mudou o estatuto para uma só reeleição – algo inédito. Por enquanto só tenho elogios, mas ainda falta um centro de treinamento e mais escolinhas pelo Brasil.
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