Como veterano de 39 anos colocou a Argentina entre as 4 melhores da Copa do Mundo da China
Fábio Balassiano
11/09/2019 05h58
O cronômetro zera e todos os jogadores da Argentina vão na direção do mesmo atleta. Os mais novos do elenco correm pra abraçar Luis Scola, que em mais uma performance descomunal foi o protagonista platense na vitória desta terça-feira de 97-87 contra a Sérvia em Dongguan.
Na partida que levou os hermanos à semifinal da Copa do Mundo na sexta-feira contra EUA ou França, que se enfrentam nesta quarta-feira, ninguém anotou dos vencedores anotou mais pontos (20) que o veterano de 39 anos e que há quase duas décadas protagoniza, de forma brilhante, atuações irrepreensíveis por uma equipe que em Mundiais e Olimpíadas ficou sete vezes entre as cinco melhores no Século XXI, algo incrível e que fala muito sobre o ótimo trabalho do basquete argentino.
Para chegar ao Mundial da China, no entanto, Luis Scola, autor de 17,8 pontos, 7,3 rebotes, 46% de tiros de quadra e 40% nas bolas de três de média na competição, teve que mudar e adaptar seu jogo a sua idade, disparada a maior do elenco platense que tem a média de 27 anos (ele é o único com mais de 30 anos aliás).
Atuando no mesmo país em que agora brilha com a seleção, Luifa, como é conhecido, levou Marcelo López como preparador físico individual para o Shanghai sharks, por onde atua há uma temporada. O objetivo era modificar algumas coisinhas em sua rotina para prolongar uma carreira que conta com duas medalhas olímpicas (2004, ouro, e 2008, bronze), um vice-campeonato mundial (2002), um ouro pan-americano (2019 em Lima) e outro punhado de conquistas:
"Scola é um visionário: ele antecipa as coisas e faz o que o basquete exige. Ele é alguém que sabe o que precisa em cada estágio de sua carreira. Eu o ouço e faço contribuições mínimas, vendo suas necessidades. Mexemos em sua alimentação, em suas rotinas e até em seu sono. Trabalhar com ele é uma experiência única. Acho que me beneficiei mais do que ele por participar de tudo o que ele faz", afirmou Lóez ao site Basquet Plus.
Para este Mundial Scola se fechou em sua casa de Castelli, a 180km de Buenos Aires, onde por 14 semanas praticamente consecutivas se preparou para Pan-Americano e Mundial antes do início dos treinamentos oficiais com o elenco comandado pelo técnico Sergio Hernandez. Como esta poderia ser a sua última participação de alguém que o povo brasileiro se acostumou a ver como algoz recente, o camisa 4 platense queria deixar uma boa impressão.
Ao lado de sua esposa, Pamela, e dos filhos Tiago (este nome em homenagem ao brasileiro Splitter, seu ex-companheiro de Baskonia, na Espanha), Lucas, Tomás y Matías, pediu tranquilidade, privacidade e que os famosos doces da casa fossem "escondidos". Seu único luxo é o mate do qual Scola não abre mão por nada. Incentivados por ele, alguns jogadores da seleção argentina passaram, há alguns anos, a utilizar o famoso Método Busquet, que mexe na alimentação e também previne lesões para prolongar a carreira de atletas (Manu Ginóbili era um dos adeptos do sistema de Paulo Maccari, da equipe nacional, por exemplo).
Na quadra, algumas mudanças. Ao invés de ficar mais perto da cesta, onde os choques são mais frequentes e nocivos ao corpo de alguém com quase 40 anos, Scola foi se distanciando, adicionando arremessos de três pontos ao seu já vasto repertório de chutes.
"O mais impressionante de Luifa é que em todos as férias ele trazia uma novidade. Nos nossos últimos anos de seleção ele sentiu a necessidade de "abrir" um pouco, sair do garrafão, mesmo sendo invariavelmente a figura mais alta de nossa equipe. As bolas de três pontos dele passaram a ser confiáveis, um convite às infiltrações dos armadores e também uma prova de que não há limite para a evolução de um atleta", escreveu Manu Ginóbili recentemente em sua coluna no jornal argentino La Nación.
Neste Mundial o ala-pivô tem 40% de aproveitamento (8/20) do perímetro, em uma prova de quão confortável ele está em uma arma que quase nunca fez parte de sua vida na NBA, onde jogou por uma década entre Houston, Phoenix, Indiana, Toronto e Brooklyn. Outro ponto melhorado em seu jogo foi nos lances-livres. Se na NBA ele tinha 74% de aproveitamento, na China o número saltou para 84%.
Para o interminável Scola, que na China se tornou o segundo maior pontuador da história dos Mundiais, atrás apenas do brasileiro Oscar Schmidt, seu ídolo de infância, a verdade é que o passado foi glorioso, o presente é incrível e o futuro, lendário. No basquete FIBA, poucos jogaram mais basquete do que ele. Aqui cabe discussão.
Creio que nenhum tenha maior paixão de jogador pelo seu país do que ele neste século. E aqui acho difícil alguém discordar…
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