Topo

Bala na Cesta

Eu não deveria, mas peço desculpas - os campeões mundiais de 1994 deveriam ser mais reverenciados

Fábio Balassiano

12/06/2019 12h12

Parece que foi ontem que Luciano do Valle gritava para acordar o Brasil com o seu "ah, dois, um, CAMPEÃO DO MUNDO. CAMPEÃO DO MUNDO!".

Parece que foi ontem que eu via, com meu avô e meu pai, a seleção brasileira dominar o planeta e se sagrar campeã mundial feminina na Austrália naquele 12 de junho de 1994. Eram outros tempos. Tempos de gênios como Paula, Hortência e Janeth em quadra. Tempos em que nossos técnicos surpreendiam os rivais com esquemas diferentes, audaciosos, potencializando as habilidades do elenco (e não produtos prontos em que os jogadores devem se adaptar às filosofias deles, treinadores). Tempos em que o Brasil metia medo e vencia os Estados Unidos, como foi naquela semifinal de 11 de junho nos 111-107, provavelmente o melhor jogo do esporte das meninas em todos os tempos.

Tempos que não voltam mais e pelo visto nem reverenciados como deveriam são. Caramba, faz 25 anos que essas meninas dominaram o mundo, dobraram de Haixia a Teresa Edwards, de Blanca Torres a Leonor Borrell. Esperava, em um afã de ingenuidade, que a Confederação Brasileira investisse mais do que no modelo almoço-coletiva-selo comemorativo (selo!?). Entendo todas as dificuldades financeiras do momento, mas, poxa vida, nada diferenciado para uma geração diferenciada? Esperava um documentário, uma festa grandiosa, anéis, um jogo contra a China vencida na final por 96-87, sei lá eu. Deve ser coisa de antigamente celebrar os feitos do passado. Se ainda vencêssemos no presente, atenuaria a dor. Mas nem isso. Os tempos que não voltam também são os tempos em que o basquete feminino enchia ginásios, nos enchia de orgulho e nos enchia de troféus e medalhas.

Se o texto é saudosista e doloroso, é simplesmente porque o basquete brasileiro feminino adormeceu no tempo no final do século passado e infelizmente ainda está tentando acordar. Está tentando e sabemos que todo processo de reconstrução é lento, doloroso e sem certeza de sucesso. Devido a gestões tenebrosas da Confederação (Brito Cunha, Grego e Carlos Nunes), que dizimaram o esporte das meninas em particular e o basquete de modo mais amplo, nada do que foi feito pelas meninas em quadra foi aprendido para ser utilizado fora dela. Popularização, crescimento, novas praças, novos polos, novos times, nova filosofia. Como se o título naquele 12 de junho na Austrália tivesse sido obra do acaso. Não foi. Não foi.

Aquela geração que foi campeã mundial em 1994 viveu tempos difíceis, tendo apenas uma conquista grande (Pan-1991) em meio a uma série de frustrações / derrotas. Muita gente boa, de atletas a Maria Helena Cardoso, que formou 99% das atletas campeãs daquele time, foi sacrificada. Mas a equipe, e o basquete feminino brasileiro à época, perseverou, tentou, foi tentando, tentando e buscando um lugar ao sol. Treinando, se inquietando, não se contentando com sétimos, oitavos, nonos lugares e achando que, pô, isso tá tudo bem. Está tudo bem uma ova. Não está, não. A falta de senso crítico das atletas atualmente também ajuda a derrubar a modalidade, não há dúvida.

Parabéns, Hortência, Paula, Janeth, Leila, Ruth, Cintia, Alessandra, Helen, Adriana Santos, Roseli, Simone, Dalila, Miguel Angelo, Hermes, Sergio Maroneze, Sergio Barros e tantos outros.

Eu peço desculpa, mesmo sem ter culpa de nada. Se o Brasil não os reconhece como deveria, azar do Brasil. Vocês são eternos e a conquista, gigantesca.

Sobre o blog

Por aqui você verá a análise crítica sobre tudo o que acontece no basquete mundial (NBB, NBA, seleções, Euroliga e feminino), entrevistas, vídeos, bate-papo e muito mais.