Topo

Bala na Cesta

Além de Drake: quem é o torcedor que gasta R$ 1 milhão por ano e não perde um jogo do Raptors

Fábio Balassiano

09/06/2019 07h44

Reprodução Instagram Nav Bhatia

O Toronto Raptors que pode se consagrar amanhã campeão da NBA contra o Golden State Warriors tem em Drake, o rapper, seu torcedor símbolo e um dos caras mais falados desses playoffs da liga norte-americana. Engana-se, porém, quem pensa que o cantor é o único fanático famoso nos arredores da arena do time que tem 3-1 na série final, está a apenas uma vitória do inédito título e joga em casa nesta segunda-feira às 22h para levantar o troféu Larry O'Brien.

É bem comum pra quem assiste às partidas do Toronto na Scotiabank Arena reparar em um senhor no fundo da quadra (perto do banco oposto ao do time canadense) usando um turbante branco e algum uniforme do Raptors. Sempre gesticulando e com sua barba também particular, o indiano Nav Bhatia tem 66 anos e desde 1995, ano de fundação da franquia, gasta mais de R$ 1 milhão de reais para comprar seus ingressos e também para doar para jovens carentes da região de Mississauga, nas cercanias de Toronto.

Figura muito querida entre os jogadores (na sexta-feira, em Oakland, onde foi ver o Raptors bater o Warriors na decisão da NBA, ele publicou uma imagem em seu Instagram com o brasileiro Leandrinho, que já jogou no Raptors), Nav, nascido na Índia, chegou ao Canadá na década de 80. Como acontece com quase todos os imigrantes, não conseguia encontrar um emprego formal e, com o seu turbante tradicional marrom (à época), acabou trabalhando como vendedor de carros em uma na região de Toronto – uma região então bem perigosa em termos de violência. Quando ele entrava para atender clientes, no começo e devido ao preconceito contra seu turbante ele era visto como um motorista ou um pedinte. Isso o chateava mas não fazia sua fixação por resultados mudar.

Sua força de vontade desde o primeiro dia chamou atenção dos donos da revendedora de carros. Suas vendas, ainda mais. Ele vendeu nada menos que 127 carros em noventa dias, número recorde para a Hyundai até os dias de hoje. Como ele mesmo gosta de dizer, não há segredo na profissão. Nav se tornou dono da concessionária anos depois, mas faz questão de atender aos clientes até hoje:

"Eu gosto de conversar com as pessoas, saber o que elas querem para eu de fato oferecer o melhor produto. Faço um pouco da venda à moda antiga, mais consultiva e menos reativa, mas acho que funciona. Prefiro ser honesto com meu cliente e recomendar um carro de menos valor para que ele sempre se lembre de mim e retorne a minha loja. O importante é ter paciência para escutar, refletir, isso gera empatia com as pessoas. Estamos abertos nos sete dias na semana e o maior erro que um empreendedor pode ter é se tornar inacessível, distante. Estou aqui, as pessoas podem falar comigo, eu converso com as pessoas. Estar disponível é uma das melhores armas para se vender", afirmou ao Toronto Star há dois anos.

Seu respeito na comunidade de Toronto foi crescendo na mesma proporção de suas vendas, mas ao contrário da afetação dos novos-ricos e do esquecimento que muita gente tem de suas raízes Bhatia sempre fez questão de olhar para os mais necessitados e de relembrar de onde veio. Do milhão investido em ingresso do Toronto Raptors por temporada, metade é para seus próprios ingressos, 25% ele utiliza para distribuição aos mais necessitados e os demais 25% em ações de marketing na sua loja, disparada a que mais vende carros da montadora coreana em solo canadense.

Foi assim que, com sua fama crescendo, em setembro de 2017 no Festival Internacional de Cinema de Toronto ele apareceu para dar boas vindas a todos os presentes da sala que veriam um documentário sobre Vince Carter, um dos primeiros ídolos da franquia Raptors. Durante o filme Nav dá um belo depoimento inclusive. Algumas semanas depois ele foi escolhido para ser fotografado com o ex-presidente dos EUA, Barack Obama, em um evento no Canadá. Obama, fã de basquete, disse a Bhatia que sempre o via na quadra dos jogos da Raptors e pediu para conhecê-lo pessoalmente.

"Estas três semanas de 2017 realmente foram muito emocionantes para mim. Vince Carter foi o nosso primeiro grande ídolo. Dias depois tive a oportunidade de dizer ao presidente Obama que, humildemente, eu meio que reúno o mundo através do jogo de basquete já que falo de imigração, aceitação do diferente, diversidade, essas coisas. E senti que ele estava muito feliz com isso. Ter encontrado um presidente dos Estados Unidos não sendo um jogador de basquete, mas apenas um cara comum que ama o esporte, foi esplêndido. Sou um grande fã dele e me senti muito abençoado. Quando entrei no meu carro pra voltar pra casa fiquei petrificado uns cinco minutos até entender o que tinha se passado comigo. Vim da Índia para o Canadá na década de 80 e menos de 40 anos depois me encontrei com um presidente da República. Quem iria imaginar isso?", indagou ao mesmo jornal.

Sua dedicação às vendas e o amor ao Raptors são bem conhecidos na cidade. Amanhã, Nav espera poder comemorar em Toronto o primeiro título da franquia na história da NBA. Vendo todas as partidas desde 1995, nada mais justo, não é mesmo?

"A chave para o sucesso dele é sua dedicação. Ponto. Qualquer pessoa que conheça o Nav sabe como ele se compromete com suas paixões, que incluem a Hyundai e os Raptors, assim como sua família, sua fé e sua caridade. A maioria das pessoas o vê nos jogos de basquete. No entanto, ele investe ainda mais tempo em suas concessionárias em todas as áreas do negócio que vão de atendimento, parte comercial, estratégia, marketing, finanças e operação. Ele é incansável e é por isso que é um dos maiores e mais bem-sucedidos revendedores que temos em todo planeta", finaliza Dan Romano, chefe da montadora sul-coreana no Canadá.

Sobre o blog

Por aqui você verá a análise crítica sobre tudo o que acontece no basquete mundial (NBB, NBA, seleções, Euroliga e feminino), entrevistas, vídeos, bate-papo e muito mais.