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Bala na Cesta

Sem tirar nem por: Magic Johnson falou foi pouco sobre a sua saída do zoneado Lakers

Fábio Balassiano

23/05/2019 01h00

Você leu aqui no UOL no começo da semana que Magic Johnson deu entrevista à ESPN americana falando sobre os motivos pelos quais ele optou por pedir demissão do cargo de manda-chuva de basquete do Los Angeles Lakers.

Em resumo, Magic, um dos maiores (se não o maior…) ídolo da história da franquia Lakers, afirmou ao entrevistador Stephen A. Smith que um subordinado seu, o gerente-geral Rob Pelinka, o estava traindo, falando mal dele pelas costas, algo que o site The Athletic já havia divulgado há cerca de um mês. E aí eu me assustei um pouco quando li a reação da turma da internet criticando o comportamento de Johnson. Li, entre outras coisas, que o eterno camisa 32 angelino não deveria ter falado nada. Aí é que não entendi nada. E explico abaixo.

Em primeiro lugar: Magic Johnson NUNCA foi vice-presidente de operações, diretor geral, o nome que você quiser dar sobre funções de basquete. Se ele nunca foi isso e foi contratado pra tal, que se critique quem o contratou (Jeanie Buss, a dona que é uma alucinada completa) e não ele. A contratação do Magic pelo Lakers foi muito mais emocional / simbólica do que racional / pra resolução de problemas de forma organizada e inteligente. A cara do Lakers, obviamente.

Sendo assim, podemos passar pra análise. Seu trabalho foi ruim, bem ruim (mais aqui e aqui). Não há dúvida disso e meu ponto pra escrever este texto não é esse. Magic Johnson é o maior (ao lado do Kobe) ídolo da história do Lakers. A história de vida do cara, de superação do começo até hoje, é daquelas que você abre o olho pra ver se não tá sonhando. E havia uma promessa de, após entregar resultados de quadra em três, quatro anos, que ele compraria parte da franquia, o sonho da vida dele. O MAIOR SONHO DA VIDA DELE.

Se havia, obviamente, uma questão de cuidar de sua imagem, de não misturar a sua idolatria com um risco desmedido de tentar algo que ele nunca havia feito em uma franquia que está cambaleando há quase uma década, me parece meio óbvio que a auto-confiança de Magic é gigantesca e o desafio me parecia bastante animador também. Talvez seu maior erro tenha sido não se cercar de pessoas experientes na função, mas, de novo, o objetivo do texto é menos falar de sua performance como executivo e mais sobre o tratamento que ele recebeu da franquia nos quase dois anos em que esteve por lá.

Como, então, ele foi tratado por um Zé Curica da função, Rob Pelinka, que também nunca havia sido nada, e era um de seus funcionários? Traído, recebendo e-mail em que Pelinka o criticava abertamente e sendo motivo de troça internamente (algo bem comum no mundo corporativo). Pô, com todo respeito, mas que Pelinka vá pra bem longe com uma atitude assim.

Magic poderia ter esperado algum tempo, feito um texto cheio de storytelling no Players Tribune porque a galera adora e se emociona achando que atleta escreve tudo aquilo, poderia ter chorado no Jimmy Kimmell, mas, caraca, vocês acham que o maior ídolo de uma franquia como o Lakers ia cair assim calado? E ele foi mega político, mega tranquilo com as palavras. Nem abriu tanto o jogo quanto MUITA gente que está lá por dentro diz que ele poderia fazer, já que a parada aparentemente foi bem mais suja. Apenas usou a palavra "traído" e nada mais. Não entrou no mérito, não citou casos, não deu a famosa carteirada ("eu sou o Magic Johnson, ídolo do Lakers"), nada.

NINGUÉM, nenhum de nós, ficaria calado sendo o Magic Johnson. De novo: sendo o Magic Johnson, um dos dez maiores jogadores de todos os tempos. NINGUÉM! A gente só não faz isso no nosso mundo corporativo porque precisa do Linkedin contando coisas bonitas mesmo na demissão para comprar fralda no dia seguinte.

Hoje, hoje, o Lakers precisa mais dele do que ele do Lakers. E Olhem como a franquia tratou o cara! Falta de respeito do cacete. Olhem como um neófito (na função) tratou o cara. Falem sério: vocês acharam mesmo que o Magic Johnson, o Magic Johnson do Lakers, cairia calado? Eu não ficaria calado. Você não ficaria. E eu acho que ele falou é pouco. Só não sobrou pra Jeanie Buss, a sua chefe e dona da franquia, porque ele sabe que é através dela que seu sonho maior (comprar o time) vai ser alcançado algum dia – se é que será.

Então quando olho as análises da galera criticando a entrevista do Magic acho que falta empatia (de se colocar no lugar do cara), de entender de quem estamos falando (Magic no Lakers é tipo o Michael Jordan no Bulls, "só" isso..) e bastante de respeito e educação. Não ter chamado o Pelinka de mau caráter pra baixo ao vivo era o mínimo…

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