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Bala na Cesta

Uma das melhores histórias da temporada da NBA é o retorno de Derrick Rose à velha forma

Fábio Balassiano

23/01/2019 05h55

No dia 28 de abril de 2012 o Chicago Bulls enfrentava o Philadelphia 76ers na primeira partida dos playoffs daquele ano. E isso aqui aconteceu quando faltavam menos de 120 segundos pra acabar o duelo:

Eleito o melhor jogador da temporada anterior, o mais jovem a conseguir o feito aliás, Derrick Rose foi ao solo. Rompeu os ligamentos do cruzado anterior do joelho esquerdo e teria que operar. Era um retrocesso e tanto pra ele, que começava tão bem a sua carreira, pro time, que depositava nele as esperanças de conquistar um título depois de 15 anos, e para a torcida, que venerava Rose à época. Ninguém sabia bem o que esperar, e por isso a temporada seguinte, a de 2012/2013, foi com ele no estaleiro. Na seguinte, a de 2013/2014, Rose estaria saudável, mas aí seu calvário começou, ou melhor, se prolongou por um período bem longo.

Logo no começo da temporada ele lesionou o menisco do outro joelho (o direito), algo bem comum em atletas que instintivamente "compensam" a força muscular do outro lado ao anteriormente machucado. O Chicago fez a operação, o retirou de todo campeonato e queria "moldar" um novo corpo para o rapaz conseguir aguentar o tranco de uma NBA cada vez mais física e acelerada. Não deu certo.

A série de lesões continuou, cada hora em uma parte do corpo e com problemas também na parte psicológica, algo bem natural também. Rose chegou a dar declarações estranhas na época em que era atleta do Chicago falando que se preocupava mais em levar os filhos à escola do que em estar 100% bem pra jogar. É justo, normal até, se não fosse o fato de que uma franquia e uma cidade inteira depositavam nele uma esperança abissal de retornar aos dias de glória – e pagando um salário altíssimo para tal.

Antes da temporada 2016/2017 o Chicago desistiu de Derrick Rose. Despachou o armador pro Knicks, onde ele nem foi mal (18 pontos de média em 64 partidas), mas era o errático New York Knicks e nada funciona por lá. Em Cleveland, 16 jogos, 7 vindo do banco, nenhuma grande aproximação com LeBron James na temporada passada e mais uma vez o MVP foi tratado como mercadoria de segunda categoria. Foi trocado ao Minnesota e para ser reserva de Jeff Teague, alguém que, vamos combinar, não tem metade do talento que Rose sempre teve. Foram medianos 9 jogos, 5,8 pontos de média, 12 minutos por jogo e muita gente imaginava que a carreira dele na melhor liga de basquete do mundo estava finalizada. Se como reserva do Teague ele só entregava isso aí, valia a pena continuar apostando em um cara de 30 anos e com o corpo em frangalhos? Era o que se pensava até o final do campeonato passado.

Ninguém sabe bem como e nem o que esse cara fez mas em 2018/2019 Derrick Rose, trazido ao Minnesota muito por conta do seu antigo treinador em Chicago (Tom Thibodeau, que nem mais em Minnesota está) anda jogando… como o Derrick Rose que a gente conheceu lá atrás. E tem sindo lindo pra caramba de ver. A cada noite é uma experiência diferente, uma emoção distinta, um reencontro com o passado mas no presente. É estranho descrever porque alguém com 30 anos ainda está no auge de sua forma física, mas com Rose é tudo muito surreal.

Novamente vindo do banco, ele tem as animalescas médias de 19,3 pontos, a sua maior desde 2012 e a segunda maior do time, 4,8 assistências e 43% nos tiros de três, recorde de sua carreira. Em um Minnesota irregular (23-24), com suas estrelas quase sempre em rota de colisão (Karl Anthony-Towns e Andrew Wiggins), com técnico (Thibodeau) demitido e uma torcida descrente (é a terceira menor média de público com 15,1 mil pessoas por noite), um dos poucos motivos de alegria atende pelo que o camisa 25 tem feito em quadra – e como tem feito. Dá só uma olhadinha no que ele fez contra o Phoenix Suns no dia 20 de janeiro:

Autor de 31 pontos em 38 minutos, Rose ainda teve fôlego para cravar a bola decisiva diante do Suns em casa. Já são 7 partidas seguidas com 15+ pontos, e o mais maravilhoso disso tudo não é a gente ver o camisa 25 do Minnesota jogando como a grande estrela que a gente sempre soube que ele poderia fazer (seu corpo o traía nos últimos tempos). O mais bacana mesmo é ver a reverência da NBA, atletas e técnicos sobretudo, para com um cara que sofreu muito pra retornar às quadras. E também do público, que agora enche Derrick de amor.

Arte: NBA Media Day (Divulgação NBA)

"Ele é uma lenda viva. A gente tem um respeito imenso por ele por tudo o que passou e por como tem conseguido se recuperar", disse Karl Anthony-Towns, garotão do Wolves que diz se espelhar em Rose. A resposta do público vem em forma de votos. Como o armador mesmo diz, não há rede social dele pedindo voto, mas os fãs respondem lhe dando 2,7 milhões de "intenções" de vê-lo no All-Star Game de Charlotte como titular.

Ele atualmente está em segundo entre os armadores do Oeste e se mantiver nesta posição conseguirá voltar à festa iniciando a partida. O líder de votos do público, Steph Curry, tem 2,9 milhões. James Harden, o terceiro, 2,3mi.

Em uma NBA que agora vê o Golden State Warriors voltando a voar (líder do Oeste, 8 vitórias seguidas e com todas as suas 5 estrelas jogando bem), nenhuma história é mais emocionante do que a de Derrick Rose voltando a jogar bem como a gente viu no começo da década. O único desejo de quem ama basquete é que ele se conserve saudável para este e próximos campeonatos.

A imagem dele sorrindo e sendo aplaudido na quadra é mais legal que a dele triste com suas lesões.

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