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Bala na Cesta

Na NBA dos três pontos, rejeitado armador 'mão de pau' brilha na maior surpresa do playoff até agora

Fábio Balassiano

18/04/2018 08h54

Crédito: Instagram New Orleans Pelicans

Acompanhar um jogo da NBA hoje em dia é ao mesmo tempo um exercício de adaptação e de velocidade no olhar. Adaptação porque os arremessos de três pontos acontecem com uma frequência absurda (30 vezes por jogo e 34% dos chutes totais na média dos 30 times do campeonato) a tal ponto de um time, o Houston Rockets, ter tentado mais bolas de perímetro (3.437) do que de dois pontos (3.418). E velocidade porque as partidas estão cada vez mais rápidas, com jogadores cada vez mais atléticos e correndo melhor a quadra.

Mas neste começo de playoff a maior surpresa atende pelo New Orleans Pelicans, cujo armador, ao contrário de Stephen Curry e Damian Lillard, especialistas em bolas de três pontos, é um reconhecido "mão de pau" nos tiros longos. Rajon Rondo, o camisa 9 de um Pelicans que venceu o Portland ontem por 111-102 para abrir 2-0 com dois triunfos fora de casa (único time que venceu as duas partidas fora de casa nesta primeira "perna" da pós-temporada aliás), tem 30% de conversão nos arremessos de três pontos em sua carreira e é reconhecidamente um cara que gosta de ter o controle das partidas em suas mãos. Curry possui 43,6%. Lillard, 38%.

Rajon Rondo é um armador tão à moda antiga em uma NBA que mudou a alcunha dos atletas "posição para função" que teve dificuldade para se recolocar no mercado depois que, em 2014/2015, saiu do Boston Celtics por onde foi campeão em 2008. Rondo perambulou por Dallas, Sacramento e Chicago sempre arrumando problemas com os técnicos das franquias e despertando a ira dos gerentes-gerais que o contratavam. Não à toa quase não conseguiu contrato para esta temporada e, aos 32 anos, aceitou praticamente a única oferta que lhe chegou antes do campeonato – os US$ 3,3 milhões do Pelicans são o pior salário desde que ele ainda era novato e apenas o oitavo maior da franquia nesta temporada.

Só que se ao mesmo tempo Rondo tem problemas para arremessar (8,3 pontos por jogo), com ele o Pelicans é um time muito melhor em quadra – melhor e absurdamente mais inteligente. É óbvio que Anthony Davis (o camisa 23 da foto) é o craque da franquia (foram 40 e 22 pontos nas vitórias contra o Portland), Jrue Holiday é um excepcional atleta nos dois lados da quadra e Nikola Mirotic tornou-se uma arma cada vez mais confiável nas bolas de três pontos, mas é o armador que dita o ritmo das coisas e controla com mão de ferro um time jovem e que tenta se firmar entre os melhores do Oeste.

É o camisa 9, aliás, que está marcando Damian Lillard, craque do Portland e que arremessou apenas 13/41 neste começo de pós-temporada. Estudioso ao extremo, Rondo conta que decora TODO sistema ofensivo dos adversários para quando o armador rival acenar com as mãos qual será a jogada no ataque gritar para seus companheiros se posicionarem da melhor maneira para defender. Seu ex-técnico em Boston, Doc Rivers, diz que Rajon gasta mais tempo vendo vídeos do que treinando arremessos, o que explica muito bem a dificuldade que ele tem para chutar e a facilidade absurda que ele tem para enxergar o jogo – exatamente como faziam os armadores até o começo desta década.

Não deixa de ser irônico, porém, que ontem, quando Anthony Davis teve desempenho "mediano" com 22 pontos, Rondo tenha assumido também o controle da pontuação com 16 pontos e acertando 2 de suas 3 tentativas nos três pontos. É algo tão incomum que esta foi a sexta maior pontuação do atleta nas 67 partidas em que atuou no campeonato. Seu forte, seu forte mesmo, sempre foram as assistências. Na temporada a média dele é de 8,2 e em 22 vezes ele teve 10+ passes que foram convertidos em cestas pelos seus companheiros (no dia 27 de dezembro ele obteve 25 assistências contra o Brookyln Nets em 30 minutos, um número absurdo!).

O camisa 9 do Pelicans agora tem um dia de descanso até a terceira partida do time, na quinta-feira em casa contra o mesmo Portland. Vencer significa abrir 3-0 e se aproximar da primeira série vencida pela franquia desde 2007/2008, quando o New Orleans ainda se chamava Hornets.

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