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Bala na Cesta

O ocaso de Derrick Rose - quando o corpo vence a vontade do atleta

Fábio Balassiano

25/11/2017 17h00

Deu um nó na garganta quando, na sexta-feira, eu li na ESPN americana que Derrick Rose, que não joga desde o dia 7 de novembro devido a uma lesão no tornozelo, pediu afastamento do grupo do Cleveland Cavs. De acordo com fontes ouvidas pela reportagem, o armador "não aguenta mais sofrer com dores em seu corpo e que isso está acabando com ele mentalmente".

Quem é mais jovem, ou quem chegou recentemente à NBA, talvez fique pensando o famoso "ah, Bala, mas é outro atleta vitimado por lesões". Não, não é o caso. Derrick Rose surgiu pro mundo e em pouco tempo já ganhou o MVP da NBA. Em três temporadas na liga ele transformou-se em um armador explosivo, preciso, alucinante de se acompanhar e ainda com chão pela frente. Jogador mais valioso do campeonato de 2011, ele ainda tinha espaço absurdo pra evolução e uma chance imensa de ser o maior responsável pelo retorno do tradicional Chicago Bulls aos tempos de glória.

Mas o dia 28 de abril de 2012 acaba sendo emblemático quando a gente conta essa história toda. Vindo da temporada de MVP, Rose liderou o Bulls a uma campanha de 50-16 (naquele ano o campeonato teve apenas 66 partidas devido às discussões salariais) mas seu corpo já dava alguns sinais de cansaço. Na primeira partida do playoff contra o Sixers, pertinho do final de abril, Derrick Rose foi ao chão pela primeira vez. Rompimento dos ligamentos do joelho esquerdo.

Dali em diante o corpo de Rose deu sinais de fraqueza – e com isso a sua cabeça também passou a não funcionar como a gente se acostumou a ver. O armador imarcável deu lugar a uma pessoa frágil, que, como qualquer outro ser humano, dizia se preocupar mais em como sua saúde estaria em 30, 40 anos do que em jogar basquete. Ninguém pode dizer que ele estava errado, já que ano sim, outro também, ele passava por cirurgias, fisioterapias, cada hora em uma parte de tornozelos ou joelhos.

O Chicago bem que tentou, mas ano passado o trocou para o Knicks, onde ele até foi bem (18 pontos de média em 64 jogos). A franquia nova-iorquina, porém, não fez a menor força para renovar com Rose, que para esta temporada aceitou papel secundário (o de reserva do baixinho Isaiah Thomas) no Cavs. Era uma maneira de jogar menos para ficar mais tempo na NBA.

Mas Isaiah estava machucado no começo da temporada, Jose Calderón também se lesionou, Ty Lue, o técnico, tentou LeBron James de armador, mas não rolou. Derrick Rose foi titular, jogou 25+ minutos em quase todas as partidas em que atuou e no dia 7 de novembro seu tornozelo esquerdo pifou. Segundo médicos do Cleveland, estava inchado e o armador mal conseguia andar. Era tempo de parar, analisar, pensar e repensar tudo.

Ninguém gosta de se machucar e nem de ver atletas de machucando. O nó na garganta quando a gente fala em Derrick Rose é simplesmente pelo fato de que esse cara tinha todas as ferramentas técnicas para ser um dos melhores jogadores de sua geração – algo que, agora vemos, nem de longe vai acontecer. Não era Russell Westbrook o cara mais explosivo e comentado do mercado anos atrás. Não se falava em Steph Curry. Chris Paul estava bem atrás dele.

Derrick Rose mandava na liga, tinha tudo pra ser a cara da NBA por uma década e o maior rival de LeBron no Leste. O corpo dele não deixou. Agora é saber quando a cabeça de Rose respeitará os limites de seu corpo, que pede penico depois de tanto sofrer. Mentalmente, ninguém tenha a menor dúvida disso, o cara deve estar totalmente destruído. O sonho de criança virou o pesadelo da vida adulta.

Se é o fim do camisa 1, é um fim triste.

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