Com o fim da suspensão, a hora do necessário alinhamento entre Liga Nacional e CBB
Você leu aqui ontem em primeira mão que a FIBA retirou a suspensão do basquete brasileiro, fazendo com que Guy Peixoto, eleito em março de 2017 para quatro anos de mandato, alcançasse a sua primeira e grande vitória como presidente da Confederação Brasileira.
Estou tentando confirmar algumas coisinhas, como as condições impostas pela Federação Internacional à CBB (muitos rumores em relação a isso, mas nenhum fato até o momento), mas como isso ainda não foi possível vale tocar em um assunto delicado que vem sendo conversado nas trincheiras das duas entidades mais importantes da modalidade no país.
Em português claríssimo, Confederação Brasileira e Liga Nacional de Basquete estão longe de falar a mesma língua, batendo de frente sucessivamente, como no caso que envolve a Liga de Desenvolvimento de Basquete. A competição Sub-22 é organizada pela LNB, que soltou até uma Nota Oficial relacionada a isso, mas a CBB faz questão de tocá-la de agora pra frente, conforme divulguei em primeira mão aqui recentemente. É uma briga que envolve muita coisa, desde poder, até apoio das Federações e, óbvio, contratos com patrocinadores.
De verdade não estou aqui pra me meter nessa questão e muito menos para bancar quem está certo e quem está errado nessa situação toda. Espero sinceramente que as duas partes consigam se acertar o quanto antes, mas algumas coisas para quem acompanha esse cenário político há algum tempo são bem fáceis de detectar.
Pra começar, a Confederação Brasileira era, até a entrada de Guy Peixoto, uma casa sem dono, isso está claro e não sou eu que preciso ficar repetindo. A Federação Internacional verbalizou algo que venho falando há 7/8 anos quando da suspensão do basquete brasileiro em novembro de 2016.
Ao mesmo tempo também é muito claro que a Liga Nacional faz um bom trabalho de reconstrução da modalidade através do seu mais conhecido produto, o NBB. O crescimento é evidente e, embora com problemas, mostra bem como o esporte pode ser tratado de forma organizada por aqui. Pra azar da CBB, o contraponto óbvio entre quem trabalha corretamente (LNB) e quem não fazia nada por aqui (Confederação) era quase que ao mesmo tempo, pois a criação da Liga há nove anos coincide com o tempo de (indi)gestão de Carlos Nunes à frente entidade máxima (o gaúcho foi presidente entre 2009 e 2016).
Só que o momento agora é outro na Confederação e isso também é muito óbvio. Guy Peixoto é empresário de sucesso, tem apoio de inúmeras Federações, atletas, ex-atletas, um punhado empresas de sucesso dispostas a ajudá-lo e tem claro na cabeça dele que a CBB é a Casa do Basquete Brasileiro. Ou, como ele diz em seu círculo de amigos e funcionários, a "nave mãe" da modalidade no país. No que ele tem total razão, digo eu. Na escala hierárquica do esporte mundial, é, no final das contas, sempre a Federação Nacional que responde pela modalidade no país. Isso é irrefutável e negar isso é negar a realidade.
E é aí que gostaria de chegar. Se é verdade que a CBB é quem "apita na brincadeira", ela também precisa e MUITO da Liga Nacional e da Liga de Basquete Feminino. São nelas que as novas peças do basquete brasileiro brotarão para brilhar nas seleções. São nelas que aparecerão os ídolos. São nelas que o basquete expandirá as suas fronteiras. E, pelo mesmo lado da moeda, tanto LNB/NBB quanto LBF precisam muito de uma Confederação forte, organizada e atuante. Sem um projeto de massificação forte na modalidade, popularizar os dois produtos será uma missão sempre mais difícil do que a efetivamente já é.
Como empresário de sucesso que é, Guy Peixoto sabe o que é uma "matriz de responsabilidade" de uma organização. É algo bastante utilizado no mundo corporativo e serve para delegar funções com bastante clareza. Como novo presidente da CBB, Guy tem a oportunidade de fazer algo que NUNCA foi feito por aqui – colocar em uma sala, em uma mesa, os principais players do mercado de basquete do país (CBB, Federações, LBF, LNB, Clubes etc.) em torno do bem comum, que é o basquete brasileiro, e sair de lá com um plano de ação com ações e donos das ações muito bem definidos.
Por fim, o óbvio ululante por aqui. Ligas não sobrevivem sem Confederações fortes. Confederações não sobrevivem sem Ligas fortes. A Liga já faz um NBB muito bom e que tem muito a evoluir. Que ela continue melhorando o campeonato, mantendo o seu modelo de gestão e ajustando o que deve ser ajustado. A CBB era uma tragédia na gestão Nunes, mas está tentando, através do novo modelo de gestão de Guy Peixoto, sair da lama e ganhar credibilidade e força no cenário nacional. Torço fortemente para que Confederação e LNB atinjam seus objetivos juntas – e não uma contra a outra.
Muita gente fala que a CBB, através de uma grita geral das Federações, quer retomar o Nacional, hoje um produto rentável e com ótima visibilidade, para suas mãos, mas por enquanto isso é um rumor, ninguém confirma isso e de verdade acho que este não é o caminho. Voltando a citar a matriz de responsabilidade, cada um em um universo imenso chamado basquete tem a sua parcela de ação para recolocar a modalidade em um lugar aceitável. Usando um clichê absurdo, agora é o momento de todos somarem, e não de dividirem esforços. Ficarem um criticando o outro, como está acontecendo há meses, não vai adiantar de nada – e sendo muito sincero, as críticas, sobretudo as veladas, vêm em igual proporção dos dois lados. Publicamente eles podem até negar, mas a verdade é que o clima não está bom, não.
As duas partes, que possuem boas pessoas e boas mentes que pensam sobre basquete, precisam de verdade sentar em uma mesa, algo que ainda não foi feito formalmente desde que Guy Peixoto assumiu a CBB, para aparar as arestas e para colocar o esporte em primeiro lugar. Brigar sem parar só vai ajudar em uma coisa – a derrubar a modalidade como aconteceu em anos anteriores.
E isso ninguém quer, certo? Nem Liga, nem CBB, nem eu e nem você.
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