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Bala na Cesta

'Time de camisa', rubro-negro e líder do NBB: o surpreendente começo do Vitória

Fábio Balassiano

29/11/2016 01h00

vitoria1Quando se olha a classificação do NBB a gente vê um rubro-negro invicto na liderança da competição. A alcunha se encaixa no Flamengo, que tem 4-0 e é o atual tetracampeão da competição. Mas há outro time que veste vermelho e preto na mesma situação. É o surpreendente Esporte Clube Vitória, da Bahia, que ainda não perdeu após cinco partidas disputadas. Sob o comando do ótimo técnico Régis Marreli, treinador que foi vice-campeão com São José em 2012, os leões já despacharam Pinheiros, Brasília, Minas, Caxias do Sul e Vasco (três triunfos fora de casa, inclusive o último, em São Januário, Rio de Janeiro, na quinta-feira, por 70-60) e enfrentam o Campo Mourão na quarta-feira para manter a boa fase.

vitoria4"É surpreendente, sem dúvida alguma. Nossa realidade é para brigar para ficar entre os oito melhores, pegar uma Liga Sul-Americana quem sabe. Mas de fato o começo está sendo muito legal. O encaixe está sendo excepcional. Os jogadores se gostam e quando isso acontece é muito legal. Costumo dizer que às vezes o elenco é excepcional, mas as peças não se encaixam. Aí não tem jeito. E há o contrário. Peças menos estelares, como é o nosso caso, que se dão muito bem no dia a dia. Eu prezo muito isso. É fundamental ter um ambiente de trabalho tranquilo para melhorarmos no dia a dia", destaca Régis Marrelli, que faz questão de citar a diferença entre o primeiro e o segundo ano do time no NBB: "O começo foi muito difícil, mas a chegada do diretor Marcelo Falcão deu outra cara pro projeto. Ano passado cheguei aqui faltando 18 dias para começar o campeonato. Não tinha camisa, academia, preparador físico, nada. Teve treino que fizemos que nem água tínhamos para beber. Esse ano temos a estrutura, tivemos treinamento, dois torneios preparatórios, um preparador físico de alto nível, o Felipe Tinoco, que veio de Macaé, e um respaldo muito grande do corpo diretivo".

vitoria9Um dos pontos que chamam a atenção da campanha do Vitória é a equipe ainda não levou 80 pontos (a maior pontuação sofrida foi contra o Brasília nos 88-77). A agremiação tem a defesa menos vazada (71 pontos/jogo) e a segunda que menos permite tiros de fora convertidos (27,4%). Se as cinco vitórias surpreendem, o apreço pela marcação está na ordem do dia do comandante.

"Estes números que você cita não são coincidência. É o meu carro-chefe desde sempre. Coloquei pra eles na pré-temporada que teríamos que marcar e marcar muito. Temos um elenco mediano e não é vergonha alguma dizer isso. Mas se marcarmos muito bem e com inteligência podemos chegar longe. Não abro mão disso. Meus atletas sabem que se quiserem ficar em quadra têm que marcar. Diferentemente do ano passado, nesta temporada eu participei da montagem do elenco. Dentro do limite financeiro pude escolher os atletas. Todos os atletas são de médio para bons na defesa e pensei muito nisso. E, óbvio, há o mérito dos atletas, que estão acreditando. Não adianta eu querer se eles não acreditam".

vitoria100Na ausência de estrelas, Régis faz o time correr. E correr muito. O Vitória tem 9 atletas jogando 14 ou mais minutos por jogo, o que faz com que a intensidade vista em quadra seja sempre altíssima. Além disso, são oito jogadores (Dawkins, Coimbra, André, Keyron, Renato, Kurtz, Hayes e Edu Mariano) com 7 ou mais pontos por partida e 16 assistências os 26 arremessos convertidos por jogo (ótimo índice). E Marrelli quer mais, mas mantendo sempre a serenidade.

vitoria8"É intensidade. Palavra-chave para mim e nisso o preparador físico Felipe Tinoco tem sido fundamental. Esse rodízio é o que tenho que fazer. E olha que acho que o Dawkins e o Andre Goes (armadores) ainda jogam muito tempo, mais de 30 minutos por jogo. O Arthur (ala, ex-Brasília) volta em breve e eles vão diminuir um pouco. O grande time é aquele que você não sabe quem vai ser o cestinha, o melhor. E o outro técnico também não sabe. Eu acredito muito nisso. Falta mta coisa. Estou até preocupado porque de fato nosso começo é muito bom, mas ao mesmo tempo falta uma temporada toda pela frente. Todos estão muito empolgados, mas vamos precisar manter o pé no chão. Na teoria dá pra fazer mais algumas vitórias até o final do ano, mas pensando jogo a jogo. Temos que sonhar", revela, destacando um dos jogadores preferidos do blogueiro, o ala Andre Goes (foto), que tem 11,6 pontos e é um dos líderes da equipe retornando de grave lesão: "Sempre gostei muito de jogar com 2 armadores. Foi assim com Laws e Fulvio em São José. E aqui encaixou o Andre e Dawkins. O Andre retornou no NBB passado em Macaé, foi bem, e o vi no Paulista em Osasco também muito bem. É um cara de grupo, ótimo jogador e ótima pessoa. Está sendo muito útil. E olha que os dois, ele e Dawkins, podem melhorar muito juntos. Não consegui ainda ter um jogo de transição mais rápido. Ainda estamos muito lentos no cinco contra cinco. Nossos jogadores podem ousar mais".

vitoria3Experiente, Régis está treinando o seu terceiro time "de camisa de futebol". Com passagens por Corinthians e Palmeiras, ele consegue ver diferenças claras neste começo de história em Salvador.

"Passei por Corinthians, Palmeiras e agora estou no Vitória. Aparentemente são coisas parecidas, mas há uma grande diferença. O Vitória, no basquete, joga em um bairro chamado Cajazeiras, que tem 680 mil habitantes. É um bairro humilde e que tem ginásio bacana para duas mil pessoas. O que acontece é que 99% da nossa torcida é do bairro. É uma torcida muito carente de eventos, e também por isso estamos tendo muito carinho. No Vasco na semana passada eu vi a torcida e ela foi muito agressiva com atletas e comissão técnica após a derrota pra gente.

vitoria10O Vitória está muito diferente de uma torcida de futebol, digamos, normal. É tudo muito novo, eles estão aprendendo o que é o basquete e estamos adorando esse contato. São quase mil pessoas por jogo. Está sendo muito legal. É difícil até de explicar. Sentimos falta de não termos um ginásio central, porque do centro de Salvador até Cajazeiras são no mínimo 50 minutos, mas o carinho que a gente recebe da galera é lindo. E até espanta. No torneio preparatório que fizemos aqui estávamos perdendo de 20 um jogo, levamos pra prorrogação, mas saímos derrotados. Estávamos chateados, mas no final todos os torcedores estavam sorrindo, aplaudindo, agradecendo pelo empenho e pela luta. Estamos nos sentindo muito acarinhados. Não tínhamos água pra tomar em um treino. Não tinha uniforme. Agora estamos melhorando", finaliza Régis.

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