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Bala na Cesta

Personagens do Basquete Brasileiro: Iziane - Parte I

Fábio Balassiano

05/08/2016 00h34

izi1005Aos 34 anos, Iziane Castro Marques começa amanhã contra a Austrália (17h30) a disputar a sua segunda Olimpíada. Presente em 2004 e cortada em 2008 e 2012 por motivos disciplinares, a maranhense de São Luís tenta recolocar o basquete feminino em posição de destaque depois de desempenhos ruins em Pequim-2008 e Londres-2012.

Dona da personalidade forte, a jogadora, campeã recentemente pelo Sampaio Correa na LBF, admite que depois do Rio-2016 parará de jogar profissionalmente. Iziane é uma Personagem do Basquete Brasileiro.

izi104BNC: Você jogou uma Olimpíada em 2004, foi cortada duas vezes por problemas de disciplina em 2008 e em 2012, passaram mais de 10 anos e vai jogar a sua segunda e última 12 anos depois. Nem se você escrevesse esse roteiro daria certo, né? Sua última, né?
IZIANE: Ah, com certeza que não conseguiria escrever esse roteiro. Eu falo pra todo mundo que jamais imaginei jogar uma Olimpíada. Agora serão duas e essa em casa. Que atleta que jogou uma Olimpíada em casa? É um sonho, sonho. Sobre ser minha última, tem muita gente que fala que estou bem, que ainda posso seguir mais um pouco, mas o corpo está sentindo. E penso: 'Por que não fechar bem?'. Fechar com uma Olimpíada, com um título brasileiro pela minha cidade, sendo MVP das finais. Se tiver uma medalha olímpica nesse final seria excepcional. Meu desejo é terminar bem.

izi1001BNC: Você fez 34 anos. O que pensa pro fim da carreira? Quando você deseja parar?
IZIANE: A medalha olímpica é uma fixação e quero muito terminar a minha carreira com ela no peito. Em termos de carreira eu acho que fui muito além do que todos esperavam. Minha história diz isso. Jogar Mundial, Olimpíada em casa. Jogar 11 anos na Europa e WNBA, títulos. A carreira foi além do que esperava. Nunca imaginei o mundo esportivo que existia ao redor. Só queria saber de seleção brasileira. Não espero mais nada. O que vier hoje é lucro.

izi2BNC: Vai jogar até os 40 anos então, é isso?
IZIANE: Não, nada disso. Pretendo terminar bem. Consegui o título com o Sampaio, quem sabe agora a medalha olímpica pra fechar bem…

BNC: Peraí. Então se você ganhar uma medalha você encerra a sua carreira? É isso?
IZIANE: Na seleção termina agora. Em clube já disse que encerrei. O pessoal é que não acredita. Depois do Rio-2016 o pessoal não vai mais me ver em quadra. Essa é a ideia. Já falei antes e sigo falando isso.

izi1BNC: Eu não acredito nisso. Se o Sampaio tiver um time lá na LBF, próxima temporada, você não mais jogar?
IZIANE: Não, não. Não quero mais. Estou bem, satisfeita, realizada com o que propus para a minha carreira. De repente, se precisar da Iziane para conseguir um patrocínio, pro basquete não acabar lá, aí quem sabe eu fico mais um ano. Mas minha ideia é parar mesmo e ficar em cima do que construí. Quero seguir com meu Instituto Iziane Castro.

izi1004BNC: Antes de falar mais de basquete, conta pra gente quem é a Iziane Castro Marques. Infância, formação, família, essas coisas…
IZIANE: Sou de São Luís do Maranhão, nascida na Santa Casa de Misericórdia, no Centro de São Luís, no dia 13 de março de 1982 às 06h20 da manhã. Foi uma sexta-feira, 13. Estou brincando. Foi sábado (risos). Tenho uma irmã dois anos mais velha, a Isis, que me chama de Neném até hoje inclusive. A gente sempre morou com a nossa avó, porque meu avó era cego. Então minha mãe ajudava a minha avó a cuidar do meu avô e todos morávamos juntos. Crescemos nesse vínculo familiar muito forte. Todos sempre agarrados, né. Estudei no Colégio Batista, onde comecei a jogar basquete. Quando era criança, antes do basquete eu fiz balé e também natação. Em São Luís todo mundo faz natação por causa da praia, né. Quando criança eu sempre fui muito de rua. Brincava de tudo. Desde empinar pipa até jogar futebol, boneca, elástico, pular corda, essas coisas. Eram tempos antigos de brincar na rua e estudar.

betinho1BNC: Como o basquete surgiu então?
IZIANE: Foi na escola mesmo. Nas minhas aulas de educação física a gente fazia todas as modalidades. Meu colégio era muito tradicional, de gente rica mesmo, e como eu era uma menina de rua, de brincar de tudo, eu nunca tive frescura de nada. Nas aulas, o professor, vendo meu biótipo, pediu para eu tentar jogar basquete. Eu não queria, mas ele insistiu tanto, mas tanto que teve uma vez depois de quase um ano que eu falei pra ele: "OK, vou lá jogar só pra você parar de me encher o saco". Foi assim que eu comecei. Quando esse professor me viu jogar, logo me encaminhou ao Betinho (Nota do Editor: primeiro técnico da Iziane) e foi assim que comecei. Tinha 11 para 12 anos, e me apaixonei. Logo o Betinho viu que tinha facilidade para aprender, para evoluir e fui participar dos campeonatos escolares e estaduais.

izi10030BNC: Uma coisa que me chamou atenção: você falou que era de um colégio de galera rica. Mas você veio de uma família de classe média, não?
IZIANE: Sim, de classe média. Meu pai era técnico de edificação, ganhava bem na época e sempre enfatizou muito essa parte de educação. Minha mãe é professora, e tudo o que eles tinham eles investiam na parte educacional minha e de minha irmã. Minha mãe, Marinei, passou fome. Meu pai, Aldeir, sempre enfatizou essa questão do estudo.

BNC: Você sofreu algum tipo de preconceito por estudar em um colégio com uma galera mais rica que você?
IZIANE: Não, não mesmo. Nunca sofri nenhum tipo de preconceito. Inclusive ainda levava a galera para o meu bairro, que é a Liberdade, bairro de pobre mesmo. E levava porque era muito estudiosa, boa aluna, e quando tinha trabalho em grupo todo mundo queria fazer comigo. Aí chegava lá, um monte de carrão na porta do bairro e eles vinham estudar comigo. Minha avó continua morando neste bairro. Quando meu avô faleceu, meus pais se mudaram. Eu, como nunca gostei de morar em apartamento, sempre mantive meu quarto na casa da minha avó, até porque passei 11 anos jogando fora do país, né. Depois que eu votei pro Maranhão eu comprei uma casa, mas quase não ficava lá. Dormia quase direto na casa da minha avó. Mudei, mudei mesmo, ano passado, quando minha avó teve um AVC muito sério e minha mãe teve que voltar pra casa da minha avó. Fico hoje em dia todo na casa da família e só retorno ao bairro da minha casa, São Francisco, pra dormir.

izi1000BNC: Aí você começou a se destacar jogando basquete na Escolinha do Betinho…
IZIANE: Comecei, comecei indo bem. Peguei seleção colegial, seleção maranhense e fui indo. Teve um ano que o Maranhão jogou a Copa Brasil, que hoje é a LBF mesmo. Havia o time da Paula, o BCN, e o nosso time foi lá. Eu tinha 14 anos, e já jogava de titular. Disputando essa Copa Brasil de 1998 eu lembro bem que o primeiro jogo foi contra o BCN e eu fui cestinha, sabia? Lembro que tinha Claudinha, Tuiu, galera toda de seleção e eu lá jogando. Foi engraçado que recebi o convite da Maria Helena Cardoso e da Eleninha para jogar no BCN, mas o Betinho não me disse nada, acredita? Passou o ano todinho, ele deixou acabar o campeonato e pediu para que elas duas contatassem a minha família para explicar o que elas queriam fazer comigo. Ainda era infantil, né.

izi1000000BNC: Aí você foi pro BCN no final de 1999. Já era em Campinas?
IZIANE: Estava saindo de Piracicaba para Campinas. Era engraçado que eu treinava com o time de base em Piracicaba e com o adulto em Campinas. Fazia esse trajeto algumas vezes na semana. Esse convite surgiu e no começo minha família não queria deixar, claro. Era muito nova, mas falei pra minha mãe que eu queria tentar, queria seguir na carreira de jogadora profissional de basquete. Ela foi, viu tudo, mas não assinou, acredita? Meu pai é que teve que convencer minha mãe.

BNC: Você ainda era estudante do segundo grau, seus pais sempre falaram muito de estudo e você passaria a praticamente a viver de esporte. Eles Não ficaram preocupados com o fato de você se dispersar um pouco do caminho do estudo?
IZIANE: Imagina! Disseram que se eu não estudasse, se não tivesse boas notas que eu voltaria correndo. Tanto foi assim que eu estudava em escola particular. Era das únicas do time que estudavam em escola particular. A maioria fazia escola pública de manhã. Eu, escola particular à noite, depois de treinar em dois períodos. Era pauleira, e em um colégio tradicional, o Anglo-Americano. Me formei no segundo grau e ainda passei na faculdade, acredita?

izi20.BNC: Sério? Faculdade? Essa eu não sabia…
IZIANE: Em Medicina na UNIP…

BNC: Pô, mas essa eu não sabia mesmo. Iziane, então quando as pessoas te chamarem daqueles nomes feios você precisa falar essas coisas todas…
IZIANE: Minha mãe sempre disse que eu seria médica, é mole? E aí eu passei pra medicina, só que preferi continuar como jogadora mesmo.

maria2BNC: Como foi esse começo com Maria Helena e Eleninha, duas técnicas muito vencedoras. Você veio de um time humildade, quase amador, direto para uma potência do esporte, com treinadoras de ponta e estrelas no time adulto. Esse início assustou um pouco?
IZIANE: Foi duro, Bala. Eu tive dois anos seguidos anemia, sabia disso? Por causa da adaptação à comida. Até hoje eu acho ruim a comida de longe de casa, mas atualmente já consigo comer melhor. Mas naquela época foi difícil. Passei fome, cara. Não sabia a quem consultar, com quem falar. O BCN era muito organizado, tinha refeitório, nutricionista, tudo direitinho, mas eu que achava todas as comidas ruins, mesmo. Minha mãe teve que vir do Maranhão para fazer a minha comida, meus lanches. Sentia falta da farofa, do açaí, do tempero do Maranhão. Além disso tinha o clima, o frio. Lembro que cheguei a São Paulo de sandália, saia, blusa sem manga. Mas logo vi que o sol não esquentava. Chuva, frio, chuva, comida e ainda tinha o boicote da galera, né. Você chega, nova, do Maranhão, as meninas pensam que você vai tomar o espaço delas e começam a te boicotar. Não foi fácil não, cara.

paula3BNC: E quando foi que você começou a perceber que daria pra ser jogadora profissional? Quem estava lá naquele time adulto da época?
IZIANE: Ah, estava a Paula, Karina, Adrianinha, Kelly.

BNC: Verdade, tinha a Paula. Como era treinar com a Paula?
IZIANE: Rapaz, você tinha que me ver treinando contra a Paula. Como eu era infanto, só podia treinar na categoria. Jogar, não. Mas aí treinava contra elas. A Maria Helena e a Eleninha adoravam ver, adoravam me ver treinando contra a Paula. Eu tinha vergonha de falar com a Paula. Tremia, sabe, tremia mesmo. Até hoje quando a vejo fico meio assim, meio tímida. Um ídolo, uma referencia pra mim. Acha que é fácil? Eu tentava fazer o meu melhor, não errar, fazer tudo direitinho.

paula5BNC: Ela te dava algum conselho?
IZIANE: Nossa, bastante. Lembro que a gente jogou um Jogos Abertos com a gente porque estava em recuperação e entrou pra atuar pra ganhar ritmo de jogo, essas coisas. Aí ela vinha me levando às vezes pro treino, conversava, explicava coisas de basquete e da vida. Tentava absorver tudo o que ela falava.

BNC: Aí chegou a primeira convocação para a seleção adulta, é isso?
IZIANE: Sim, foi em 2001 na Copa América lá em São Luís. Mas ali eu já tinha uma perspectiva. Já estava encaminhada, sabe? Tinha pego seleções de base, jogava em um time adulto forte, tinha ótimas técnicas e uma bagagem. Fiquei muito feliz de poder estrear pela seleção brasileira jogando na minha casa. Eu era reserva da Janeth, quase não jogava, mas pra mim aquilo ali tudo era o máximo. O Castelinho ficava lotado e ainda no final conseguimos o título em cima de Cuba.

izi100BNC: Qual foi a sensação da sua família e a sua naquele momento específico? Você saiu do Maranhão, foi jogar em São Paulo e volta para atuar no Maranhão com a seleção brasileira adulta. Foi uma vitória ali, não?
IZIANE: Lembro que pensava assim: 'Caramba, estou conseguindo realizar tudo aquilo que eu tinha planejado quando saí daqui (do Maranhão)'. Era esse filme que passava pra minha cabeça. Quando saí de lá, lembro que falei pra minha família: 'Vou sair daqui, vou jogar bem em São Paulo, vou chegar à seleção brasileira e vou jogar uma Olimpíada'. Minha mãe titubeava e eu dizia que venceria. Aí quando eu volto me sinto realizada por estar dando andamento ao meu sonho e também ao da minha família. Estava vendo que todo aquele sofrimento, tudo o que passava, estava valendo a pena. E eles são muito colados comigo até hoje. Nos jogos do Sampaio Correa na LBF, por exemplo, estão todos lá sempre ao meu lado me apoiando. Acho que eles têm muito orgulho, muita felicidade da minha trajetória. Creio que eles também se realizem através das minhas realizações.

izi1008BNC: Lembro que um dos primeiros jogos que vi seus foi pela TV Bandeirantes. Acho que era um sábado ou um domingo pela manhã, foi um jogo do BCN, você apareceu, começou de titular esse jogo, acho que você não tinha nem 20 anos e entrevistaram a Maria Helena para falar a seu respeito. Lembro dela falando que você seria o futuro do basquete brasileiro, te tecendo elogios absurdos e tal. Você sempre foi tratada assim, né? Como potencial, como pedra preciosa. Isso atrapalhou alguma coisa?
IZIANE: Creio que não. Me acostumei com isso porque desde sempre as coisas fluíram neste sentido. Não acredito que tenha atrapalhado em nada, não. Sempre soube lidar com isso. As pessoas também me blindaram muito. As pessoas me incentivavam, e não me expunham neste sentido.

maria1BNC: Como era com Maria Helena e Eleninha? Ambas são muito exigentes…
IZIANE: Foi tranquilo, bem tranquilo. Elas me acolheram como uma pupila, como uma filha. Elas queriam desenvolver o meu potencial. A Macau, que era a minha técnica no infanto, tinha que brigar com elas pra eu parar de treinar (risos). Elas se envolveram muito comigo tipo nessa época aí que fiquei doente, sabe? Me chamavam direto para almoçar com elas. Todas ficaram muito preocupadas comigo. Cansei de ir na casa delas almoçar. Algumas vezes com minha mãe inclusive. Me trataram como uma pessoa da família mesmo.

izi10010BNC: Nessa época você já tinha jogado um Mundial Sub-19 em 2001. Naquele Sub-19, ali com o Paulo Bassul, você e a Érika meio que surgiram para o mundo. As pessoas olhavam pra vocês e viam que tinha algo diferente. O que você lembra desse torneio, desse começo de trajetória com a seleção brasileira de base?
IZIANE: A gente teve uma geração muito boa, né. Sempre entre as quatro primeiras do mundo, sempre com destaque internacional. Foi essa geração que foi vice-campeã do mundo Sub-21 em 2003. Eu não fui neste torneio porque estava na WNBA, mas era uma galera bem talentosa e que tinha o respeito de todo mundo. Lembro que fazíamos jogos duros inclusive contra a galera da mesma idade dos Estados Unidos. E eram Diana Taurasi, Seimone Augustus, Lindsay Whalen, só fera. A gente sempre conseguiu manter o equilíbrio contra essa galera. Você cresce com essas meninas, joga contra essas meninas e quando chega no adulto não tenha aquela estranheza, aquela coisa de bicho-papão. Elas nos conheciam, e a gente conhecia a elas também. Existia um certo respeito, e isso ajudou muito na minha carreira e também na da Érika na WNBA.

izianeBNC: Aí logo em 2004 você foi para a sua primeira Olimpíada. Tinha 20, 21 anos e teve a média de 15 pontos por jogo. Ali realmente foi a primeira vez que te vi jogar e fiquei um pouco assustado. Era um time que tinha a Janeth como líder, como craque, e você foi a segunda cestinha em um elenco que tinha Alessandra, Helen, Cintia, Kelly… Como foi aquela primeira Olimpíada da sua carreira?
IZIANE: Ah, tem uma história interessante dessa Olimpíada. Um dia antes do primeiro jogo a Karla (Costa) me deu uma joelhada sem querer no treino e eu tive uma hiperextensão. Não conseguia nem andar. A Vila Olímpica era enorme e para eu andar até o quarto era um sofrimento. Preocupada pra caramba, os médicos me fizeram uma bandagem lá e eu disse a eles: "Nem que eu quebre o joelho eu vou jogar. É minha primeira Olimpíada. Não perco isso por nada". O primeiro jogo foi bem fácil contra o Japão (128-62), joguei 20 minutinhos e depois fui poupada porque sentia muitas dores.

izi1002BNC: Como foi fora das quadras? Vila Olímpica, os ídolos, a cerimônia de abertura…
IZIANE: Cerimônia de abertura? Queria saber também, porque nós não fomos (risos). Não deixaram a gente ir porque tinha jogo logo da manhã do dia seguinte à cerimônia. Mas eu aproveitei muito aqueles Jogos ali na Vila. Fiz vídeos, fotos, caramba. Muita gente, muito personagem legal, sabe. A gente é jogador, mas ao mesmo tempo é torcedor, gosta de esporte e dos esportistas. O Mauricio (Lima), levantador do vôlei, está em quase todas as minhas fotos. Lembro da seleção americana de basquete, Serena Williams, o próprio Manu Ginóbili. Nessa Olimpíada o time masculino não ficou na Vila, ficou em um navio, mas foram para a Vila antes da cerimônia de abertura e aí aproveitei. Não só eu. Teve menina que chorou e tudo. A Adrianinha se emocionou quanto tirou foto com o Allen Iverson, sabia? Eu sempre fui muito focada, muito concentrada, mas ali na Vila Olímpica era possível também ser um pouco fã do esporte. Sempre que podia assistia aos jogos do Brasil também. Não tenho muitas memórias das coisas, mas dessa Olimpíada eu lembro de tudo. Da alimentação, dos ginásios, dos treinamentos, dos trajetos. Tudo. E sabe o que é o pior, Bala? O primeiro jogo ganhamos de quase 70 pontos. E eu dizia assim: "Foi por isso aí que nós não fomos na cerimônia de abertura?".

izi1BNC: Você disse isso alto, né? Consigo imaginar…
IZIANE: Disse, disse (risos)…

BNC: Pena que o final foi um pouco frustrante, não? Derrotas para Austrália na semifinal e para a Rússia no jogo do bronze. Lembro que xingava muito a vocês na disputa do bronze. Estavam com o jogo encaminhado e perderam o último período meio feio (24-16)…
IZIANE: Aquela Olimpíada, na quadra, foi meio esquisita. Perdemos duas vezes na fase de classificação para Austrália e Rússia, mas tivemos um jogo para ir adiante contra a Espanha nas quartas-de-final. Lembro que a Janeth jogou muito aquela partida (27 pontos) e guiou o time para a disputa das medalhas. Infelizmente depois alguns momentos do jogo, detalhes, nos impediram de chegar à medalha. Tínhamos um time bom, focado, mas acabou não dando certo. Apesar de não termos conseguido medalha acho que foi uma boa experiência pra mim, sabe. Era muito nova e a comissão técnica do Antonio Carlos Barbosa me dava uma força danada. Me passavam uma confiança, Bala, que você não tem ideia. Isso foi muito importante pra mim, sabe. Tinha menina ali que eram minhas ídolos, sabe. Janeth, Alessandra, Cintia, Helen. Era fácil jogar com essa geração. Só tinha craque.

iziane1BNC: Você saiu dessa Olimpíada e saiu muito valorizada pra caramba, retornou pra WNBA ainda mais por cima…
IZIANE: Verdade. Já tinha jogado na WNBA, mas saí da WNBA para treinar com a seleção pros Jogos Olímpicos de 2004. Nesse ano eu perdi meu título da WNBA, porque o Seattle Storm acabou sendo campeão. A técnica Anne Donovan ficou doida comigo, me queria muito lá, mas eu estava me preparando com a seleção. Eu era titular daquele time que tinha Sue Bird, Lauren Jackson, Betty Lennox.

BNC: E tinha a Europa no meio disso tudo também, né? Você rodou um bocado…
IZIANE: Sim, era metade do ano na Europa e a outra na WNBA. Eu sempre coloquei pros meus agentes assim: "Tem proposta boa, pode me colocar sem problema algum que eu vou". Nunca tive medo de absolutamente nada. Comecei com 19 anos na Espanha em 2001. Foi muito inteligente por parte dos meus agentes me colocar em Lugo, Espanha. Era frio lá, viu. Fui bem lá. Era uma equipe que precisava de uma estrangeira, ficamos na primeira divisão, conseguimos o objetivo. Depois fui pra França e logo de cara fomos campeãs europeias com o Aix-En Provence, mas só tinha sete jogadoras, sabia? Éramos eu, uma australiana, uma francesa, uma alemã, outra americana e duas reservas que mal entravam. O técnico matava a gente (risos). Nessa época tinham mais seis brasileiras na França. Adriana Santos, Claudinha, Mamá, Kelly, então a gente se encontrava muito. Nos primeiros anos fora do Brasil havia sempre muita brasileira jogando e a gente sempre se via.

iziBNC: Depois você foi parar no Ekaterinburg, na Rússia…
IZIANE: A Rússia foi tenso, sabe. Não de basquete, mas de adaptação ao país, cultura, clima, e eu não topei, não. E na época ganhava-se muito bem lá, você não tem ideia. Não consegui. Foram sete meses trancada em casa. E você me conhece, eu sou muito ativa. Nem dormir de tarde eu durmo. Mas tinha que fica trancada em casa porque não dava pra sair devido ao frio. Era papo de 30 graus negativo. Aviões antigos, bem antigos, sabe. Toda vez que entrava no avião eu ligava pra minha mãe me despedindo, dando tchau (risos). Ficava o dia inteiro em casa. Sabe o que eu fazia? Via série. Lembra aquela série "24 horas"? Acho que vi todas as temporadas possíveis em uma semana. Naquele time tinha muita fera – Teresa Edwards, Yolanda Griffith e uma sérvia. A base éramos nós quatro mesmo. Fomos campeãs da Copa da Rússia em casa. No campeonato perdemos do CSKA. Voltei pra Espanha, no Perfumerias Avenida, em Salamanca, depois fui para a República Tcheca, França um pouco.

Continua…

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