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Bala na Cesta

Fiel ao seu estilo, Tim Duncan se aposenta do basquete

Fábio Balassiano

12/07/2016 00h21

tim1Aí em uma despretensiosa manhã de segunda-feira o mundo do basquete vira do avesso. O mercado de agentes-livres já deu aquela esfriada, o Pré-Olímpico acabou, a Olimpíada ainda vai começar. E Tim Duncan anuncia a aposentadoria do basquete. Na verdade, nem é por aí. Quem anunciou mesmo foi o San Antonio Spurs, em um comunicado simples, sem grandes adjetivos, sem muita pompa. Não houve coletiva de imprensa, não houve barulho em rede social. Não houve jogo de despedida. TD saiu de cena como todo mundo imaginava – na dele, quieto, tranquilão.

tim2E confesso a vocês que é muito difícil escrever sobre Tim Duncan, ganhador de cinco anéis de campeão da liga, duas vezes MVP da fase regular e três vezes das finais, único cara deste planeta a levantar o caneco em três décadas diferentes, o líder do principal trio da história do jogo, o rapaz que fez parte da melhor franquia dos últimos vinte anos (50+ vitórias em TODOS os campeonatos) e mais um punhado de recordes.

Não pelo lado técnico da coisa, pois esse cara foi incontestavelmente um gênio do basquete de um tamanho absurdo, absurdo mesmo. Dos que vi jogar, está ali no mínimo junto de Karl Malone e Charles Barkley como o melhor ala-pivô da história do esporte (pra mim ele está acima…), mantendo o nível de excelência do primeiro ano em que esteve na NBA (1997-1998) até o último em que defendeu a camisa do Spurs. Em 18 das 19 temporadas teve 10+ pontos e 8+ rebotes, em uma regularidade que quando a gente para pra olhar fica espantado.

tim3É muito complicado escrever de Tim Duncan de forma emotiva porque Tim Duncan é justamente o que todo profissional deve ser (e é algo que nem sempre, como latinos, conseguimos entender): frio, calculista, focado apenas no trabalho (e só no trabalho) e sem nenhuma reação exacerbada para o ambiente externo.

Nada de gritos, espalhafatos, comemorações exageradas ou sofrimentos em público como se a vida fosse terminar no dia seguinte (aquele tapa na quadra no jogo 7 contra o Miami em 2014, depois de errar um gancho curto a um minuto do final, foi a exceção que confirma a regra). Nunca foi assim que funcionou com ele. Se o basquete é a válvula de escape de muita gente, a (válvula) de Duncan sempre teve silenciador. Se havia dor, alegria ou qualquer sentimento, ele expressava para si mesmo – se é que expressava. Eram dele, com ações, as últimas palavras na Torre de Babel que é a franquia Spurs. Franquia que tem a sua cara, o seu jeito, moldada por e para ele pelo único técnico que teve na carreira (Gregg Popovich).

tim5Com Kobe Bryant, outro que se aposentou em 2016, havia sentimento envolvido. Muita gente amava, muita gente odiava. Era impossível não sentir nada pelo camisa 24 do Lakers. Com Tim Duncan é diferente. Acompanhei a carreira toda do cara e confesso a vocês que não tenho nenhum sentimento que não respeito e admiração. É bem diferente do famoso "ame ou odeie". Admirava a maneira como, mesmo em um jogo 7 de final de NBA, o cara se mantinha impassível, controlado, controlando seus companheiros, as emoções dele e ainda era capaz de segurar o nível de excelência lá no alto. Está aí, aliás, uma palavrinha que Duncan pode usar até dizer chega – excelência!

tim10Para nós, latinos, sangue-quente até em partida de porrinha, Tim Duncan não será "só" um dos melhores jogadores de todos os tempos. Ele será pra sempre o inatingível passional e intelectual das quadras de basquete, um ambiente em que a razão normalmente perde para a emoção para 99% dos seres deste planeta. Duncan estava acima disso. Simplesmente não havia como castigá-lo psicologicamente, algo quase impossível no esporte – seja ele qualquer esporte.

Tim Duncan não precisaria de um texto emotivo, eloquente, daqueles que colocam lágrimas nos olhos de quem escreve e de quem lê. Para ele, entrar em quadra e jogar aquilo, o fundamental do jogo, era básico, banal, simples e tranquilo. Sair de cena não poderia ser de maneira diferente.

Obrigado, Duncan! Foi maravilhoso não se emocionar e te admirar por 20 anos.

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