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Bala na Cesta

De vaiado a aplaudido, o ótimo começo de Kristaps Porziņģis no Knicks

Fábio Balassiano

25/11/2015 13h00

porza1A expectativa era grande no dia 25 de junho de 2015 no Barclays Center, em Nova Iorque. O Knicks teria a quarta escolha do Draft, a mais alta desde 1985, quando selecionou Patrick Ewing na primeira posição. Aí Phil Jackson, o manda-chuva da franquia e dono de 13 anéis de campeão da NBA (11 como técnico, 2 como jogador do próprio Knicks), decidiu escolher o jovem Kristaps Porziņģis, ala da Letônia então com 19 anos e 2,21m. A recepção, obviamente, não foi muito boa da torcida (primeiro vídeo) e nem de boa parte da imprensa (o segundo vídeo é um exemplo disso, e as palavras são de Stephen A Smith, "polêmico", por assim dizer, articulista da ESPN e um dos mais influentes da mídia norte-americana na atualidade)

porza2A desconfiança, como se vê, era imensa. Em primeiro lugar porque ninguém conhecia Porziņģis. Sua temporada no Sevilla, da primeira divisão da Espanha (Espanha que tem duas pratas olímpicas seguidas e a segunda melhor liga do mundo), não valia de nada naquele momento apesar dos respeitáveis números (21,6 minutos, 10,7 pontos e 4,9 rebotes). Havia, sobretudo, ignorância (no sentido de emitir opinião sobre alguém que se desconhece) e muito preconceito (gerado pelo desconhecimento sobretudo). Em português claro, o pensamento era: "Como o Knicks vai escolher, com um pick tão alto, um europeu e branco desse jeito?". É um pensamento deplorável, reprovável e que nem de longe encontra eco neste espaço, mas era assim que estava funcionando nos Estados Unidos. A pré-temporada veio e o camisa 6 foi indo evoluindo e tendo espaço inclusive com Carmelo Anthony (maior estrela da equipe). Mesmo assim os elogios não vinham. Dizia-se o famoso "são apenas amistosos, vamos esperar partidas pra valer".

Pois muito bem. A nova vida de Kristaps Porziņģis começou em 28 de outubro com 16 pontos e 5 rebotes em 24 minutos apesar dos 3/11 nos arremessos diante do Bucks. Havia algo para prestar atenção ali. Os olhares, e os corações, nova-iorquinos, começaram a se abrir para o novo.

porza3Menos de um mês passou e agora vemos a Porziņģis Mania na Big Apple. Como? Simplesmente porque o letão, cada vez mais habituado à NBA, tem jogado muita bola – principalmente nas últimas semanas. Em 15 jogos sua média é de 13,7 pontos, 9,1 rebotes e 1,5 toco, algo muito bom, mas o que dizer de três dos seus quatro últimos jogos? O cara teve 20+ pontos e 10+ rebotes contra Hornets, Rockets e Heat, times que brigarão por playoff (ou estarão lá com certeza). Diante do Houston fora de casa, aliás, uma atuação esplêndida: em 36 minutos, 24 pontos (8/12 nos chutes), 14 rebotes, 7 tocos e 2 assistências. Ele foi tão bem, o gigante, que no final do jogo o técnico Derek Fisher, nem tão verborrágico quanto seu chefe Phil Jackson, disse: "É, até que ele sabe jogar, né? Alguns de vocês (jornalistas) se apressaram um pouco ao avaliá-lo, não acham?".

porza4Mais do que a parte técnica, o que impressiona no letão é a sua personalidade para ajudar o time a obter respeitáveis 8-7 no Leste (um Leste que está muito mais forte este campeonato com Indiana, Boston, Detroit e Charlotte lutando muito bem). Ele está jogando em uma franquia popular, com uma pressão imensa para reverter anos de insucesso na NBA e com uma estrela (Carmelo Anthony) que precisa ir longe nos playoffs o quanto antes para não ficar eternamente rotulado como um grande pontuador que nunca chegou a uma final da liga. Não é, digamos, um cenário fácil de se conviver para um estrangeiro de 20 anos e cuja experiência no basquete é pequena (pequena como a de qualquer novato, claro). Foi com essa personalidade que ele decidiu o jogo do Knicks contra o Charlotte no dia 11 de novembro com uma bola de três. Infelizmente o relógio já havia estourado e o lance não valeu, mas o lance mostrou bem que a força mental para aparecer em momentos decisivos está em dia.

porza5Dentro de quadra, além do bom tempo de bola para tocos (em 12 das 15 partidas ele teve ao menos um bloqueio), rebotes ofensivos (seus putbacks, quando ele transforma um rebote em enterrada, já são famosos) e de sua boa disposição para defender perto da cesta ou no perímetro, chama a atenção a facilidade que ele tem para criar seus próprios arremessos (31% dos chutes certeiros vieram sem assistência) e também a boa técnica para bolas longas (34,1% de aproveitamento para alguém de 2,21m e que joga na posição quatro é um bom índice – Draymond Green, do Warriors, tem 33,2% na carreira, por exemplo) e ganchos (63% de conversão neste tipo de jogada). Não é algo usual para um novato e cuja vantagem competitiva por ter alguém desta altura fazendo algo tão distinto tem sido bem aproveitado pelos Knicks neste animador começo de temporada para os nova-iorquinos.

porza7Derek Fisher sabe que Carmelo e Porziņģis são alas altíssimos para os padrões das posições 3 e 4, e espaçar bem a quadra para jogadas de um-contra-um perto da cesta tem sido utilizado pelo treinador em momentos específicos das partidas. Fica difícil para o adversário marcar, e não é raro vermos dobras em cima de Melo ou do letão, o que invariavelmente faz com que a bola rode para encontrar alguém livre na linha dos três pontos (ao lado está o mapa de arremessos do calouro, que teve 12 dos 74 chutes convertidos com assistência de Melo e que passa 20% das vezes para o camisa 7). É uma evolução do Knicks e sobretudo do técnico Fisher, que parece muito mais à vontade em seu segundo ano na função (embora Kobe Bryant tenha dito em inglês bem claro que a turma da Big Apple não jogue no Sistema de Triângulo….).

porza6Os próximos jogos, contra Orlando (hoje fora de casa) e depois Miami, Houston, Sixers e Nets no Madison Square Garden serão importantíssimos não só para a franquia, que pretende fincar o pé na zona de classificação aos playoffs, mas principalmente para o novato, que se consolida como um dos melhores calouros da temporada. Como tudo em Nova Iorque é potencializado (pro bem ou pro mal) recomenda-se um pouco mais de paciência – e racionalidade. Porziņģis já provou que não é o pereba que pintavam antes da temporada. Se ele será uma estrela só o tempo e sua evolução é que dirão. Que seu começo traz os melhores sentimentos para os Knicks, ninguém tem dúvida. Que ter uma das suas franquias mais populares brilhando de novo é excelente para a NBA, tampouco. O correto, no entanto, é aguardar um pouco mais (um ano, dois anos, se possível for) para sabermos se o camisa 6 será mais um bom jogador ou o craque que agora se pinta.

Independente disso tudo, no momento a história de Kristaps Porziņģis, o letão vaiado na noite do Draft, é uma das mais bonitas da temporada 2015/2016 da NBA. Que ele sustente este belo roteiro por muito mais tempo. Quem gosta de basquete (e de bons enredos) está adorando.

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