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Bala na Cesta

Nestor Garcia, Sergio Hernandez, Rubén Magnano e a oportunidade de aprender

Fábio Balassiano

14/09/2015 01h47

nestor1Iniciando o terceiro NBB, o Minas Tênis Clube trouxe uma novidade – a contratação do técnico Nestor Garcia para a temporada 2010/2011. Na antiga casa, cheguei a entrevistá-lo inclusive (aqui). O Minas tinha um elenco bem modesto, e até onde lembro Nestor fez um bom trabalho, levando a equipe ao playoff com a campanha de 13-15, desenvolvendo jogadores como Cauê Borges, Raulzinho, e Cristiano Felício (estes dois últimos hoje na NBA…) e só caindo nas oitavas-de-final no quinto e decisivo jogo para o experiente Joinville (Paulinho Boracini, Shilton, Gruber, Andre Goes etc.) por 71-66. (os mineiros chegaram a ter 2-1, jogo em casa, mas não fecharam a série ao perderem por 85-74 após um desastroso primeiro tempo (54-25). A expectativa era enorme para o que Che Garcia faria no ano seguinte, conhecendo mais o grupo e a liga brasileira.

oveja1No começo da temporada 2013/2014, Brasília trocou o comando técnico. Saiu José Carlos Vidal (que agora está de volta…) e veio Sergio Hernandez, simplesmente um dos técnicos mais vencedores do continente (ganhou tudo com o Peñarol, de Mar del Plata, e foi bronze com a seleção argentina na Olimpíada de 2008) e a quem também entrevistei. A turma da capital tinha um elenco fortíssimo (Alex, Giovannoni, Nezinho, Osimani, Goree, Arthur, Ronald etc.), de fato não fez uma campanha excepcional para a qualidade do elenco (apesar dos 21-11, morreu nas quartas-de-final ao ser varrida de forma inapelável por São José), mas esperava-se continuidade de um trabalho que tinha tudo para ser muito melhor no ano seguinte.

nestorE vocês sabem o que aconteceu tanto com Nestor Garcia quanto com Sergio Hernandez? Ambos não tiveram seus contratos renovados no Minas (optou por Raul Togni Filho – bom técnico aliás) e no Brasília (voltou José Carlos Vidal).

Corta para 2015, e o que vimos na Copa América? Nestor Garcia e Sergio Hernandez brilhando ao levarem Venezuela e Argentina à decisão e ao sonho da conquista da vaga olímpica.

sergio2Não estou aqui querendo ser oportunista ao vangloriar dois treinadores que têm seus defeitos mas que acabaram de acabaram de conseguir ótimos resultados com elencos bem diferentes. Muito menos avalio as decisões de Minas e Brasília, que têm diretorias para guiar as equipes no NBB acompanhando muito mais de perto as situações de suas equipes que eu. O que espanta, para mim, é a falta de paciência com o novo que há por aqui.

Qual, de fato, é o motivo de Ovelha e Che Garcia não terem durado mais tempo no NBB? Será mesmo que, analisando apenas a qualidade do trabalho, não valeria a pena lutar para mantê-los por mais uma, duas temporadas? Por que é tão difícil aceitar o novo, conviver com o diferente no basquete brasileiro? Será mesmo que os dois treinadores que agora estão se encaminhando para o Rio-2016 com Argentina e Venezuela não tinham nada a mais para acrescentar em terras brasileiras? Temos, de fato, 16 técnicos em ótimas condições de dirigir na primeira divisão do país que podemos abrir mão de excelentes profissionais de fora?

magnanoVemos o mesmo (torto) raciocínio inclusive com Rubén Magnano na seleção brasileira masculina. O técnico é contestado simplesmente porque tenta trazer novas ideias, novos conceitos, novas formas de ver o jogo. Se eu gosto de tudo o que ele faz? Não. Se ele acerta em tudo? Óbvio que não. Se é meu técnico ideal? Não. Mas será que é tão errado assim ele testar coisas novas em um jogo que se modifica a cada ano? Não creio, embora aqui, com raríssimas exceções, se pratique o mesmo basquete há 20, 30 anos. Para citar um exemplo, Magnano, vejam só vocês, é criticado porque faz trocas incessantes durante as partidas. As pessoas nem sempre conseguem compreender que o sistema (dele) só funciona com uma defesa que marque loucamente pelos 40 minutos. E no ritmo (dele) é necessária, sim, uma troca fluente e constante de atletas para que eles (os jogadores) consigam marcar com intensidade pelo maior tempo possível. É realmente tão impossível entender isso? Acho que não.

trioNão deixa, por fim, de ser uma saborosa coincidência que três dos quatro técnicos das Américas classificados para o Rio-2016 sejam argentinos (Nestor Garcia com a Venezuela, Sergio Hernandez com a Argentina e Rubén Magnano com o Brasil – a exceção é o Coach K com os EUA mesmo). Sei, obviamente, que nem tudo que é bom vem de fora, mas acho que já passou da hora de o basquete brasileiro ser mais receptivo para conceitos e culturas diferentes na modalidade.

caverna1Recheado de problemas em todas as esferas, este país tem na pluralidade de culturas uma de suas maiores qualidades (e graciosidades). Qual o motivo de o basquete não refletir isso também em nossas quadras, aumentando o aprendizado e ganhando, todos, em maior abrangência do jogo? Creio que seria muito salutar que estivessem aqui cada vez mais técnicos, jogadores e assistentes estrangeiros. Só assim a modalidade vai crescer. Vai crescer usando o que já se faz muito bem aqui (e há inúmeras coisas sendo bem feitas em terras brasileiras) e acrescentando outros conceitos de profissionais de primeira linha.

Para isso, no entanto, é preciso que o basquete brasileiro esteja pro para receber o conhecimento. E não fechado em sua caverna com medo de ver algo diferente de tudo aquilo que sempre assistiu.

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