Herói do ouro, Benite fala da conquista do Pan e planeja próximos passos
Ninguém tem dúvida que Vitor Benite foi um dos melhores jogadores da seleção brasileira que conquistou o ouro nos Jogos Pan-Americanos de Toronto no sábado passado. Aos 25 anos, o ala-armador do Flamengo terminou a competição com 18,5 pontos e foi uma das peças fundamentais do time de Rubén Magnano. De volta ao Brasil e aguardando a convocação para o Pré-Olímpico do México, ele conversou com o blog sobre o torneio no Canadá, o magnífico jogo contra os Estados Unidos, os próximos passos de sua carreira, sua incrível evolução na temporada do Flamengo e planos futuros. Confira!
BALA NA CESTA: Você foi sem dúvida alguma um dos destaques do Brasil no Pan-Americano. Pouca gente lembra, mas dois anos atrás você fez parte do grupo que não foi bem naquela Copa América da Venezuela. O que mudou em você de uma maneira particular e neste grupo do Pan de maneira mais ampla ?
VITOR BENITE: Primeiramente em mim mudou muita coisa. Eu passei por muito aprendizado desde aquela época. Tive uma cirurgia no joelho, tive que enfrentar muitos desafios novos em relação a superação, a ficar muito tempo sem jogar, a desconfiança, a ter uma dúvida grande. Tudo o que um atleta passa. E além disso tudo teve a Copa América, como você citou. Mas depois de passar por esses obstáculos eu me fortaleci. Hoje sou mais confiante, mais focado, sei lidar melhor com as coisas ruins, resultados. E no grupo eu acho que essa seleção que se juntou tinha muita vontade de dar um recado, de mostrar um basquete coletivo, solidário, bem jogado defensivamente e ofensivamente altruísta e sempre se importando com quem estava mais livre pra chutar. Jogamos soltos e muito focados. Estávamos muito confiantes e todos com vontade de se estabelecer dentro da seleção brasileira. De 2013 pra cá acho que foi isso que mudou e estas qualidades do grupo que te apontei foram fundamentais para que pudéssemos ganhar o Pan.
BNC: O jogo contra os EUA foi o melhor jogo da sua vida? O que você sentiu jogando aquela partida? Foram 8 bolas de 3, 34 pontos, parecia em outra dimensão aquela noite.
BENITE: O jogo contra o EUA foi o melhor da minha vida, sim. Pelas circunstâncias todas. Fazer 34 pontos contra uma equipe com uma camisa tão forte, com jogadores que já tinham passado por Euroliga, com uma história, e eu ter conseguido fazer aquela partida foi realmente muito bacana. Mas insisto no ponto: o mais gostoso daquele dia foi ver como o time estava vendo o meu bom momento e todos me procurando, me abastecendo para pontuar. Não havia egoísmo. Me senti numa das melhores noites da minha carreira. Além da bola estar caindo legal havia uma sintonia impressionante com todos. Isso foi o mais legal e que ficará marcado para sempre na minha cabeça.
BNC: Com as suas atuações no Pan seu nome ficou muito em voga no mercado internacional (foi elogiado inclusive por Marc Stein, um dos jornalistas mais conceituados do mundo e que cobre a NBA há tempos). Você recebeu propostas? Jogar na Europa mexe muito com você ou hoje encara como algo natural?
BENITE: Foi muito bacana essa repercussão, muita coisa sobre mim apareceu e as pessoas puderam ver exatamente como eu jogo. O Pan tem uma visibilidade bacana e muito foi falado por mim. Houve, sim, alguns times falando, mas encaro uma eventual ida para a Europa como algo natural e que se acontecer vou pensar em caso de receber uma proposta. Sou muito feliz no Flamengo e valorizado no Brasil. Tenho vontade, sim, de um dia ir para a Europa. Quando chegar uma proposta concreta vou sentar, analisar e ver se é uma situação bacana. Precisa ser de forma natural.
BNC: E a importância do Magnano pra este jovem grupo que foi ao Pan ? Escrevi que foi o melhor time desde que ele chegou a seleção e de longe pareceu haver uma empatia incrível entre todos vocês.
BENITE: O Magnano tem uma importância muito grande por ser um cara que trouxe uma filosofia diferente. Tanto de jogo quanto de convivência entre todos nós. E é um treinador que nos cobrou para melhorar, para buscar o jogo que conseguimos no Pan. Ele sempre pediu jogo coletivo, confiante, com muita raça. Ele passou a mensagem e creio que o grupo todo comprou a ideia para transformar naquilo que vocês viram. Todos queriam muito o título, provar a capacidade da equipe. O Magnano foi o grande comandante para fazer tudo dar certo.
BNC: Depois do Pan você recebeu alguma mensagem que te emocionou? A gente sabe que a Paula tinha seu pai como ídolo e tem muito carinho por você.
BENITE: Recebi através do meu pai uma mensagem da Paula e isso me deixou muito feliz, sim. Ela foi falando com meu pai durante os jogos e isso foi muito bacana. A mais emocionante mesmo foi a da minha família, que viu os jogos juntos e depois da final me mandou uma mensagem. Sentir a felicidade deles por um objetivo alcançado foi algo que mexeu muito comigo. A gente conquistou tudo junto e logo depois do jogo ter recebido aquela mensagem foi a mais emocionante possível.
BNC: Você falou de um tema e queria retomar. Queria que você falasse dessa superação da cirurgia e de como foi atravessar a dúvida que passa por todos que sofrem este tipo de lesão. Você fez algum trabalho com psicólogo, essas coisas? Ou foi tudo força de vontade sua para melhorar?
BENITE: As dúvidas acontecem porque quando você volta pra quadra tem aquela desconfiança natural. Seu corpo precisa se adaptar a alguns movimentos, você precisa perder o medo de fazer alguns movimentos, principalmente aqueles que se parecem com o que lhe causou a lesão. Na verdade você passa por um processo que vai reaprendendo algumas coisas. O principal trabalho que eu fiz não foi com psicólogo, não. Foi vir mesmo para ficar perto de casa, da família. Moro longe de casa faz tempo e estar ao lado das pessoas que amo foi muito importante. Vim me tratar em casa, com meus amigos, com meus pais por perto. Os dois primeiros meses pós-cirurgia eu comi tudo o que eu queria, fiquei bastante com meus amigos e tentei aproveitar ao máximo as pessoas para tentar ficar mais feliz, alegre, mesmo em um momento complicado. Queria passar por aquela fase bem de cabeça. Além disso tive uma força de vontade grande. Todo atleta é movido a isso. Eu sabia que voltaria mais forte. Precisava ter paciência e passar degrau por degrau. Não tentar queimar etapas, essas coisas. Sabia que ia demorar e precisava ter tranquilidade para subir aos poucos até uma fase boa.
BNC: Quão importante pra você ter brilhado na seleção foi ter fechado bem a temporada com o Flamengo? No começo do NBB você era uma opção vindo do banco, tornou-se titular no começo de 2015 e fechou a temporada como campeão e peça fundamental do NBB.
BENITE: Foi fundamental, fundamental mesmo. Foi uma temporada no Flamengo com várias fases como você disse. O começo da temporada eu ainda tinha problemas no joelho. Ele inchava, tinha dores e em muitos jogos eu não entrava devido a isso. Quando naturalmente isso tudo foi passando eu fui melhorando meu físico, minha confiança e meu jogo foi crescendo. A equipe, da comissão técnica, atletas e médicos, passou a me dar muita confiança e as coisas foram fluindo. Quando você faz uma temporada assim no seu clube, sendo campeão do NBB no final dela, você chega na seleção confiante. Em bom ritmo de competição e também preparado psicologicamente. Era, então, uma questão de manter o foco para o momento esperado na seleção. O Flamengo foi essencial para eu chegar bem à seleção.
BNC: Quando você chegou ao Flamengo acho que fui um dos primeiros que o entrevistou. E levei uma paulada por e-mail (no bom sentido) do seu irmão depois escrevi que sentia que você, pela qualidade que tinha, poderia estar optando por ir a um time grande para ser uma segunda opção ao invés de uma equipe em que poderia ser o líder técnico. Olhando hoje, três anos anos depois da sua escolha pelo clube da Gávea, como você enxerga os passos da sua carreira e o seu momento atual ? Você já se considera hoje uma "estrela", no sentido de saber a responsabilidade de protagonista que sua qualidade lhe coloca? Seu irmão ainda liga pra blog?
BENITE: (Risos) Desde que eu fui para a Gávea eu não fui pensando em ser uma segunda opção. Eu fui pensando em jogar em uma equipe competitiva e que disputaria títulos. Foi assim que eu pensei quando vim ao Flamengo. Precisava da pressão, da cobrança de estar em um time grande e do dia a dia treinando contra grandes jogadores. Este embate diário te faz crescer também. O Flamengo me proporciona isso. Ganhamos muitos torneios, assumi um papel de protagonismo em algumas vezes em um grupo muito qualificado e acredito que isso tudo fez com que eu crescesse ao longo destes três anos em todos os aspectos do jogo. Desde a parte técnica, passando pelo físico e também no psicológico. Mentalmente eu precisava estar preparado para jogar bem no meio de tantos jogadores de qualidade. Creio que fui muito feliz com estas escolhas. E, não, não me considero uma estrela. Sou um jogador de grupo com uma responsabilidade dentro do Flamengo. E gosto disso. Espero manter isso e crescer o quanto for possível. E meu irmão e minha família leem tudo o que sai sobre mim. Vão me defender sempre com unhas e dentes pois eles conhecem e fazem parte da minha carreira. Eles vão ficar em cima sempre, não tem jeito (risos).
BNC: Conhecendo a sua exigência e seu alto nível de cobrança, em quais partes do seu jogo você pode evoluir mais?
BENITE: Por você saber que eu me cobro muito eu não posso dar uma resposta muito clichê, né? Então vamos lá. Pensando agora eu gostaria de continuar melhorando minhas infiltrações, o passe para achar os companheiros livres, a defesa, o físico. Tem muita coisa ainda. Eu vou chegar a falar aquele famoso "eu preciso melhorar em tudo", mas é por aí mesmo.
BNC: Esta pergunta é meio lugar-comum, mas difícil de fugir. Jogar a Olimpíada de 2016 sempre esteve em seu radar, obviamente. Com o Pan que você fez e com a provável convocação para o Pré-Olímpico do México atuar no Rio-2016 ficou mais próximo?
BENITE: Eu acho que deixa mais próximo, mas eu tento não ficar muito atrelado a isso. O que já passou já foi. Preciso focar no presente e nos próximos passos. As Olimpíadas do Rio de Janeiro serão uma consequência do que já fiz e do que ainda farei até lá. Fico muito feliz de estar sendo reconhecido, de estar me sentindo bem em quadra e é isso que vou tentar manter para chegar aos meus objetivos.
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