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Bala na Cesta

A saia-justa entre LeBron James e David Blatt no Cleveland

Fábio Balassiano

19/06/2015 11h45

blatt2A final da NBA terminou na terça-feira, mas ao que parece a cicatriz da derrota ainda não foi fechada no Cleveland. Um dos mais conceitudados e confiáveis jornalistas dos Estados Unidos, Marc Stein publicou uma coluna mostrando o que viu na decisão.

Credenciado pela ESPN Radio, Stein ficou ao lado da quadra e escancarou (segundo o que ele ouviu) a péssima relação entre LeBron James, astro da equipe, e David Blatt, o técnico. O link em inglês está aqui e o traduzido, aqui. Notem bem: não foi uma coluna de opinião, análise ou argumentativa, mas sim um relato com o que ele viu e ouviu. São coisas diferentes.

blatt4"Eu vi de perto (…) LeBron essencialmente pedindo tempos e fazendo substituições. LeBron abertamente gritando com Blatt após decisões que ele não gostava. LeBron se reunindo com os assistentes e olhando para todos, menos para Blatt. Teve LeBron, em um caso que testemunhei atrás do banco, balançando a cabeça intensamente de forma negativa depois de uma jogada que Blatt desenhou no jogo 5, juntando a reação mais alta não verbal que você possa imaginar. E que forçou Blatt, em frente do time todo, a apagar o que estava escrito na prancheta e desenhar outra coisa", disse Stein.

blatt2Em que pese isso não ser exatamente uma novidade na relação tortuosa de LeBron James com Blatt (o jornalista Briand Windhorst, bem próximo a LeBron e também da ESPN, já havia divulgado algo parecido duas ou três vezes na temporada), chama a atenção no relato de Stein a riqueza de detalhes (gerou um debate bem interessante lá no Facebook do Bala na Cesta, veja só). E também por isso ter acontecido em uma final da NBA, onde a confiança do jogador no técnico já, em teoria, deveria estar nas alturas devido aos resultados alcançados. Mas pelo visto não foi o que isso aconteceu.

blatt1Na tarde de ontem, na coletiva final da temporada em Ohio, David Griffin, o gerente-geral, e David Blatt, o técnico, obviamente negaram tudo (e ninguém esperava que fosse diferente) e tentaram minimizar a saia-justa. Mas Marc Stein é fonte pra lá de confiável e (insisto nisso) sua riqueza de detalhes de fato assusta pois ele estava muito perto do banco do Cleveland. Por isso é mais do que pertinente perguntar quatro coisinhas: 1) Há clima, ainda, para Blatt continuar como técnico do Cavs?; 2) Será mesmo que um técnico tão respeitado na Europa como é o norte-americano precisa passar por isso?; 3) Será que Blatt quer mesmo passar por isso?; e 4) Que tipo de técnico LeBron James quer ter comandando o seu time?

São questões difíceis de responder daqui. Estamos longe e há uma série de situações internas da franquia, mas está claro que algo precisa ser feito rapidamente para acabar de vez com esta saia-justa. É um caso chatíssimo para um time que acabou de terminar com o vice-campeonato da NBA e que quer ganhar um título logo, logo. Convém, portanto, que os manda-chuvas de Ohio resolvam rápido que caminhos querem seguir – seja ele qual for.

blatt11Não custa lembrar: LeBron James pode não renovar por mais uma temporada com os Cavs (embora não acredite que isso vá acontecer) e isso se torna um trunfo do camisa 23 em relação aos dirigentes do time nesta queda de braço pra lá de desconfortável. Desconfortável porque além do constrangimento relatado por Stein LeBron joga muita bola e ninguém gostaria de perdê-lo e por mostrar uma faceta que nenhum atleta/técnico gosta de ver – se achar o dono de tudo de um lado, submissão do outro.

O cenário, com o que se configura, então é: a corda tende a arrebentar para o lado mais fraco mesmo. Dono de brilhante currículo, David Blatt não tem, agora, muitos motivos para permanecer no Cleveland – a não ser que aceite se curvar aos desejos de LeBron.

lebron1Caso saia, ao Cavs não custa perguntar a sua estrela que tipo de técnico ele gostaria de ter nos próximos anos de sua carreira antes de efetivamente fazer a contratação. Tendo sido treinado por Mike Brown, Erik Spoelstra e David Blatt, técnicos com quem ele sempre teve liberdade para fazer o que queria, talvez falte um nome de muito peso na NBA para mostrar a LeBron James uma outra face do jogo, uma outra face do basquete. Uma face, digamos, mais real da modalidade (menos mimada, talvez).

A de que jogador, joga. Treinador, treina. E dirigente, dirige. Algo bem básico e que pelo visto não tem se aplicado nos últimos momentos profissionais do camisa 23.

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