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Bala na Cesta

A volta por cima de Leandrinho, pela 1ª vez na final da NBA

Fábio Balassiano

02/06/2015 01h52

Leandro Barbosa, Kobe BryantNo dia 6 de maio de 2006 lembro que fiquei até tarde no centro de Salamanca, Espanha, onde morava, pra ver a sétima partida entre Phoenix e Lakers do playoff do Oeste da NBA. Era a temporada alucinante do Kobe Bryant (35,4 pontos), o mata-mata que ele havia matado duas bolas surreais no jogo 4 e um duelo que chegou a estar 3-1 para os angelinos. Naquele dia, porém, não teve Kobe, não teve Steve Nash (o MVP), não teve pra ninguém.

Leandrinho Barbosa saiu do banco e converteu 26 pontos (cestinha) em uma partida praticamente perfeita (10/12 nos arremessos). Foi o protagonista da classificação do Suns e um dos mais ovacionados pela torcida que lotou a America West Arena, no Arizona. No final da partida o brasileiro foi entrevistado pela TV dos EUA e comentei com os amigos que me acompanhavam naquela madrugada salmantina: "Cacete, esta é a terceira temporada dele. Olha o barulho que o cara já está causando. O futuro pode ser mágico".

lb2O tempo passou e muita coisa mudou na carreira de Leandrinho. Na sequência daquele playoff de 2006 ele seguiu crescendo em termos técnicos, táticos, físicos e mentais, alcançou a incrível marca de 18,1 pontos na temporada seguinte (a maior média entre os brasileiros que já jogaram na NBA), foi eleito o melhor reserva da temporada 2006/2007 (único prêmio individual de um atleta do país na melhor liga do planeta) e com 25 anos muita gente apostava que ele seria não só titular do Phoenix, mas estrela da franquia.

Toronto Raptors v Cleveland CavaliersNão dá pra saber muito bem onde as coisas deixaram de caminhar como a gente (e ele também) esperava, mas o fato é que Leandrinho teve uma das trajetórias mais malucas da NBA nos anos seguintes ao prêmio recebido em 2007. O ala manteve boas médias em 2008 (15,6 pontos) e 2009 (14,2), mas caiu de produção em 2010 (9,5 pontos) e foi trocado para o Toronto. A partir disso sua vida virou um périplo.

Jogou até bem na franquia canadense (13,3 e 12,2 pontos de média em 2010/2011 e 2011/2012), mas foi trocado para o Indiana Pacers no meio da temporada de 2011/2012. Foi bem (8,9 pontos), mas seus minutos caíram ao menor nível (19,9) desde seu segundo ano na liga. Era um momento difícil, obviamente, e que ficaria ainda mais complicado quando ele não teve seu contrato renovado pelo Indiana.

lb4Chegou a ficar sem fazer a pré-temporada da NBA, penou horrores para conseguir um contrato, mas enfim chegou uma proposta do Celtics em outubro de 2012. Pegou o avião e desembarcou em Boston com o campeonato prestes a começar. Teve que recuperar a forma física rápido e quando ganhava minutos e a confiança de Doc Rivers foi ao chão. No dia 12 de fevereiro de 2013 (carnaval no Brasil, se não me equivoco) Leandrinho rompeu os ligamentos do joelho esquerdo e muita gente duvidava que ele voltaria a jogar na liga norte-americana (no Brasil houve quem tivesse decretado inclusive o fim da carreira dele).

lb5Mas ele não desistiu. Prestes a completar 30 anos Leandrinho teve que recomeçar. A recuperação física de uma lesão no joelho é lenta, difícil e mexe não só com o corpo, mas com a cabeça. Como seriam os próximos passos? O Pinheiros, de São Paulo, lhe abriu as portas e em novembro de 2013 ele estrearia pelo clube em um jogo de NBB (vitória contra o Flamengo com 16 pontos dele) na primeira partida em 9 meses. Após 8 jogos suas médias foram de 20,7 pontos, 3,3 assistências e 3,2 rebotes, com 68% de acerto em tiros de dois pontos e 36% nas bolas de fora. Ele estava recuperado. E a NBA veria isso. O Phoenix lhe ofereceu um contrato de 10 dias. Depois outro de 10 dias. E por fim uma assinatura de contrato até o final da temporada 2013/2014. Era um prêmio a sua luta, uma volta ao lugar onde ele havia sido muito feliz por quase uma década.

lb12Já seria uma história bonita de superação a de Leandrinho, mas ele ainda escreveria outra página. No final daquela temporada o Phoenix decidiu não renovar com ele. De novo com o nome disponível no mercado ele teria que procurar clube. Isso aos 31 anos e com joelho recém-operado. Não seria fácil. Alvin Gentry, hoje assistente no Golden State Warriors e anos antes auxiliar de Mike D'Antoni no Suns, sugeriu o nome do brasileiro ao novo técnico Steve Kerr (que fora gerente-geral do brasileiro no Suns entre 2007 e 2010). Nome aceito, novo lar, novos companheiros, novas funções. Acostumado a sair do banco com a obrigação de pontuar, em Oakland ele teria que ensinar aos mais jovens e também defender quando solicitado por Kerr.

lb2Tudo correu muito bem na temporada do Golden State (67 vitórias) e a primeira final da NBA na carreira de Leandrinho chegou. Com papel reduzido (7,1 pontos em 14 minutos), mas ao mesmo tempo muito importante (o de substituir os dois melhores jogadores da equipe – Stephen Curry e Klay Thompson), como ele mesmo disse a este blog em entrevista exclusiva .

Na verdade o "tamanho" de seu protagonismo importa bem pouco agora. O fato é que Leandrinho deu a volta por cima de maneira incrível, jogando na NBA em alto nível e tendo funções importantes em momentos cruciais destes playoffs (como quando, mesmo longe de suas principais características, marcou muitíssimo bem James Harden, do Houston Rockets, quando Klay Thompson não conseguia segurar a onda na defesa).

lb8Jogador mais querido do vestiário do Warriors, como disseram Alvin Gentry e Steve Kerr no All-Star Game de Nova Iorque, aos 32 anos Leandrinho Barbosa é responsável também por passar um pouco da experiência que adquiriu aos jovens Curry, Thompson e Draymond Green. De acordo com Kerr, "os mais jovens ouvem, riem e trocam ideias com o brasileiro com naturalidade".

Brasileiro que, a partir da final que começa na quinta-feira às 22h, está a apenas quatro vitórias de se tornar campeão da NBA e escrever a mais bela página de sua trajetória na NBA.

 

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