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Bala na Cesta

Técnico José Neto abre o jogo sobre conquista continental do Flamengo

Fábio Balassiano

25/03/2014 00h30

neto 14-42-22Aos 43 anos, José Neto conseguia sorrir no sábado à noite depois de conquistar a Liga das Américas depois de bater o Pinheiros por 85-78. O técnico, que chegou ao Flamengo no começo da temporada 2012/2013 e que só conhece vitórias e títulos no rubro-negro (foi campeão do NBB passado e tem, também, dois estaduais no currículo), conversou com o blog depois do título e falou sobre o troféu continental, o Mundial e os problemas de salário que este grupo conseguiu superar.

BALA NA CESTA: Qual foi a chave da conquista do Flamengo na Liga das Américas?
JOSÉ NETO: Acho que foi ter conseguido controlar a ansiedade, controlar os nervos. Tínhamos duas decisões, dois jogos decisivos e fomos muito bem neste sentido. Esta é uma competição traiçoeira. Até o ano passado o Final Four era ponto corrido, três jogos, havia uma chance de erro. No de 2014, não. Era ganhar ou ganhar duas decisões. E conseguimos.

neto3BNC: E o que você sentiu naquele momento final, quando o Laprovittola escorregou e o Pinheiros teve duas chances de empatar o jogo com as bolas de três pontos? Você quase teve um treco ali…
NETO: (Risos) É. A gente perdeu a bola, e é por isso que falei em controle emocional, na importância disso. Na hora eu só pensava que tínhamos que defender, que tínhamos que marcar. O Pinheiros tem um poderio ofensivo muito grande, uma força imensa no ataque. Naquele lance final eu só pensava nisso. Conseguimos defender bem naquele momento e no jogo como um todo. Por isso saímos com o título.

BNC: O que passou pela sua cabeça quando você viu o Maracanazinho lotado hoje?
NETO: Na HSBC Arena foi assim na final do NBB5. Mas o Maracanazinho é diferente, é um palco diferente. Tem mais a chama do basquete por tudo o que aconteceu com o basquete. Na hora que entramos hoje (no sábado) o ginásio lotado, esse clima… precisávamos dessa vitória. Tem vezes que precisamos buscar uma motivação externa ao jogo. E a torcida é uma dessas coisas. E eu queria muito essa vitória pois em casa eu tenho um grande exemplo de vitória, de superação de problemas. É pra ela, minha esposa Elis, inclusive, que eu dedico essa conquista.

fla3BNC: Seu time tinha perdido duas vezes para o Pinheiros no NBB. Como fazer para essa informação não entrar na cabeça dos jogadores antes da final?
NETO: Primeiro é não tocar nesse assunto com eles. Do mesmo jeito que eu peço pra eles não pensarem nas vitórias, eu peço que eles apaguem as derrotas da cabeça. Foi isso que fez com que chegássemos onde chegamos. Não podemos ficar remoendo derrotas, independente dos adversários. Na Liga das Américas, não sei se alguém se deu conta, mas fomos campeões invictos. Não dá pra pensar em derrota em uma situação dessa.

BNC: Essa equipe já chegou ao auge? No que ela pode melhorar?
NETO: Nada, que auge nada. Eu sempre acho que podemos e devemos melhorar. Tem muita coisa pra fazer ainda. Um pouco mais de opções ofensivas, ter um pouco mais de controle, essas coisas. Não vejo muito um limite, um lugar em que você diga "ah, aqui está bom". Pelo contrário. A gente vê várias equipes e sabemos que não se joga mais com o nome. Cada dia é uma batalha. No NBB, você acompanha, está vendo o Paulistano fazendo uma brilhante campanha pelo grande trabalho que faz. O Gustavo (de Conti) é um dos melhores técnicos do Brasil. Onde tem trabalho pode ter um basquete forte. Ninguém chega longe por acaso. Campeonato de playoff se define no playoff, não tem muito jeito.

neto1BNC: Você falou no NBB. Como motivar a equipe depois de uma conquista como esta para o NBB?
NETO: Isso é fácil. A gente quer ganhar tudo o que a gente estiver disputando. Conseguimos ter um foco nesta competição (Liga das Américas) que estávamos disputando, e agora teremos cabeça fria para entrar no NBB pensando em ganhar. É botar o foco de novo no NBB para brigar pelo título novamente. Temos que fechar a fase de classificação na liderança para poder ter isso (ginásio lotado), o apoio da torcida e o mando de quadra.

BNC: Antes de chegar ao Flamengo você não tinha conquistado nenhum título de expressão. Desde que aqui chegou, na temporada 2012/2013, vieram um título do NBB e agora a Liga das Américas. Os resultados estão chegando mais rápido do que você esperava?
NETO: Olha, eu pensava em ganhar, sim. Eu pensava nisso, sim. Quando a gente assume um compromisso com um time grande, como é o Flamengo, seu foco só pode estar em conquistar tudo o que aparece pela frente. Tivemos o apoio da diretoria desde o início para isso. E é assim que a gente tem que ser. Temos que entrar nas competições não como coadjuvantes, mas com o objetivo de assumir o papel de protagonista.

neto2BNC: A palavra certa não é motivação, mas como foi o seu trabalho de administração do elenco quando os problemas de salário aconteceram na temporada passada e nesta?
NETO: A gente tem isso aí desde o ano passado, antes mesmo de ganhar o NBB. E isso não é fácil, obviamente. Mas eu tenho um orgulho muito grande de dirigir essa equipe não só pela qualidade dos jogadores, mas sim porque é uma equipe de homens, um grupo de caráter que honra o compromisso que eles têm. Eu falo pra eles que devemos fazer a nossa parte. Fomos contratados por um motivo e temos que honrar a camisa do Flamengo todos os dias. Olha, o salário atrasado vão nos pagar. Perder um jogo não tem volta mais. Colocávamos o lado humano, o lado profissional, na frente pelo compromisso que temos com o Flamengo. O time tem um compromisso e vai seguir com esse compromisso. Depois vemos outras formas de ressarcir esse prejuízo.

BNC: Talvez seja cedo, mas o que você planeja para o Mundial de Clubes que o Flamengo irá participar?
NETO: A gente fala bastante entre a gente que temos que sonhar grande, porque o Flamengo é muito grande. E o Mundial é isso, é uma dessas coisas grandes que a gente quer. Vamos levar isso muito a sério, não vamos jogar só pra ver no que vai dar, não. Temos que pensar nessa vitória, em ser campeão. Sobre reforços, ainda tem muita coisa pela frente. Todo mundo aqui precisa renovar o contrato, eu também, tem que ir por partes ainda. O foco agora é no NBB. Depois a gente vê a renovação. O mais importante, e isso precisa ser dito, é que o clube merece estar no Mundial. Antes acompanhávamos mais de longe, mas agora dá pra ser algo mais concreto. Eu amo ver jogos da Euroliga, e estou vendo o Barcelona jogando muito bem no Top-16. Tem o Real Madrid, o Olympiacos, o CSKA. Amo o basquete europeu, vejo os jogos, aprendo muito e tento adequar a nossa realidade. Agora é estudar um pouco mais para estar preparado para este confronto que virá.

netoBNC: A diferença, pelo que você acompanha, é muito gritante mesmo?
NETO: Tem, tem uma diferença. Mas a nossa maneira de jogar, mais rápida, pode gerar um desconforto nos europeus também. Apesar, e isso é bom mencionar, muitos times europeus têm mudado a maneira de jogar. O Real Madrid, que é um grande time, já atua de uma forma, digamos, americanizada. Arremessa muito de três pontos, explora os pick-and-rolls para gerar jogadas individuais e por aí vai. E olha a artilharia de três pontos que eles têm. Temos as nossas características, temos que bater forte naquilo que a gente acredita e ver no que você vai dar. Temos tempo até lá.

BNC: Seu vice-presidente, o Alexandre Póvoa, me disse que o Flamengo não vai entrar no Mundial pra jogar, não. O Flamengo, segundo ele, vai entrar pra ganhar…
NETO: (Risos) É. É essa a mentalidade que a gente precisa ter mesmo. Precisamos pensar assim, disputar de igual pra igual.

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