Topo

Bala na Cesta

O grande mérito de José Neto, campeão do NBB pelo Flamengo

Fábio Balassiano

02/06/2013 01h00

José Neto começou a carreira de técnico no adulto pelo Paulistano no começo da década passada. Treinou bons times, fez ótimos trabalhos, lançou Marcelinho Huertas no cenário nacional e surgia como opção diferente da apresentada pelos técnicos brasileiros – era inconformado, estudioso, meticuloso e falava coisas bem distintas das dos treinadores que dirigiram a modalidade em clubes e seleção por tantos anos. Era um começo promissor, portanto.

O tempo passou, os anos passaram, e Neto parecia entrar no lugar-comum da turma da prancheta. Ficou anos sem um trabalho consistente que seja (tanto por seleções de base como técnico principal, na adulta como assistente ou em clube) e ano passado assumiu Joinville em uma chance bem clara de mostrar serviço. Era um time do NBB de razoável para bom e sem pressão imensa por resultado.

E Neto foi bem, muito bem. Fez ótima campanha, apresentou bom padrão de jogo, venceu algumas partidas contra bichos-papões, levou o time ao playoff, quase eliminou o Pinheiros (perdeu de 3-2 depois de estar vencendo por 2-0) e saiu do NBB muito valorizado.

Recebeu propostas, mas preferiu o Flamengo, clube grande e que desejava voltar a conquistar o NBB. Recebeu um elenco fortíssimo de "brinde", mas ao mesmo tempo alguns problemas para contornar na temporada desde seu princípio – lesão de Marcelinho Machado, troca de diretoria, eliminações em Liga das Américas e Sul-Americana e derrotas seguidas após ficar meses invicto no torneio nacional.

E sem mudar uma vírgula de sua linha de trabalho ele seguiu lá sempre do mesmo jeito – com sua gomalina posadinha no cabelo, com suas frases de motivação nas redes sociais e com o grupo na mão, algo que o manteve sempre por cima não da carne seca, mas do elenco como um todo e no controle de todas as situações do time, do clube e do campeonato.

Ele conseguiu isso colocando ordem na casa desde o início e delegando funções claras a todos do elenco: Marquinhos, na ausência de Marcelinho, seria o grande pontuador; Duda, a arma que viria do banco; Olivinha, o faz-tudo de sempre; Caio, o pivozão que todos esperam dele; e Benite e Kojo os responsáveis pelo ritmo de jogo de u time que correu o menos possível (na final contra Uberlândia foram meninas 70 posses de bola, evitando erros e chutes do adversário). Isso, claro, sem falar na defesa, que melhorou demais no decorrer do campeonato e foi a principal arma da equipe na decisão e no playoff contra São José e Paulistano.

É sempre bom lembrar: o agora campeão Flamengo fez a segunda melhor campanha da história da fase de classificação do NBB, teve o melhor jogador da competição, uma das melhores defesas, não perdeu no Rio de Janeiro nos playoffs e conseguiu suportar a pressão de um perigoso jogo 5. Mérito imenso de quem comanda, não? Tirando a parte das reclamações intensas contra a arbitragem durante os jogos o cara foi realmente sensacional no NBB (Neto, pára com isso, pois seu trabalho é ótimo!).

Não sei exatamente o que houve (talvez a influência de Rubén Magnano, de quem é assistente na seleção – o argentino tem muito carinho por ele e por Gustavo de Conti, todo mundo sabe), até porque quase nunca falo com ele (tenho a impressão que ele não vai com a minha cara, e isso é justo pelas críticas que já fiz a ele), mas isso não importa. O que vale muito para o basquete brasileiro é que o Neto agora campeão pelo Flamengo parece muito com aquele Neto do começo da carreira lá no Paulistano – e isso é ótimo.

Tão igual que mantém a gomalina no cabelo, o inconformismo e um jeito diferente de dirigir equipes no Brasil (se ele não consegue isso sempre, ao menos alguns dos conceitos estão ali, bem claros, bem cristalinos).

Parabéns a ele pelo título, o primeiro de sua ainda curta carreira. E que ele não entre naquela zona de conforto tão perigosa para profissionais de sucesso. Ele ainda tem muito a alcançar.

Sobre o blog

Por aqui você verá a análise crítica sobre tudo o que acontece no basquete mundial (NBB, NBA, seleções, Euroliga e feminino), entrevistas, vídeos, bate-papo e muito mais.