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Bala na Cesta

Novo técnico, Zanon abre o jogo sobre futuro da seleção feminina que começa a treinar hoje

Fábio Balassiano

02/05/2013 01h00

Na tarde de ontem, Luiz Augusto Zanon, de 49 anos (completa 50 em 17 de junho), uniu na apresentação da seleção feminina da qual é o novo treinador aquilo que mais ama: basquete e família. Ao lado de sua mãe (Magali) e esposa (Erica), o pai de Carolina, Caio e Camila inicia hoje os treinamentos com a equipe nacional visando os dois amistosos contra o Atlanta Dream e Washington Mystics (times da WNBA), o Sul-Americano (Argentina) e a Copa América (no México). Em conversa longa com o blog, o comandante falou sobre as expectativas do trabalho, da renovada equipe (média de 22,6 anos) que começa a suar a camisa hoje em Americana (cidade em que se sente em casa, afinal treina o time local, vice-campeão da LBF) e de como pretende recolocar o basquete feminino brasileiro nos primeiros lugares em competições de alto nível. Confira o papo com Zanon.

BALA NA CESTA: Antes de começar com a entrevista propriamente dita, queria que você falasse sobre o planejamento de treinos e jogos da seleção feminina visando Sul-Americano e Copa América.
ZANON: Bem, vamos lá. O time se apresentou nesta quarta-feira, e hoje (quinta-feira) começa a treinar. Vamos até o dia 11 e embarcamos para os Estados Unidos. No dia 13 enfrentaremos o Atlanta Dream, dois dias depois o Washington Mystics e no dia 16 faremos um amistoso contra o mesmo Washington. Voltamos ao Brasil, faço uma nova convocação, treinamos até o final de junho e no começo de julho viajamos para a China, onde faremos três torneios contra as anfitriãs e outras duas seleções.  Retornamos direto para a Argentina, onde jogaremos duas vezes contra elas antes do Sul-Americano lá mesmo na Argentina (23 a 27 de julho). Pra fechar a preparação para a Copa América (21 a 28 de setembro, no México), teremos um amistoso no Brasil contra Canadá, Argentina e Porto Rico. Serão mais de três meses com as meninas, e cerca de 25, 30 amistosos. Quero apenas esclarecer, desde já, que os amistosos e torneios já estavam marcados quando eu cheguei, não podendo, até por ser verba do Ministério do Esporte via Lei de Incentivo, mexer muito. Apenas adequei algumas situações que achei pertinente, e posso garantir que ano que vem, nas vésperas do Mundial da Turquia, já estamos trabalhando para atuar contra as seleções europeias.

BNC: Queria que você contasse como foi o contato do Vanderlei, novo diretor de seleções da Confederação, e qual a sua expectativa para comandar a seleção feminina de basquete.
ZANON: Olha, eu não esperava o convite, pra te ser sincero. O Vanderlei ligou primeiro para o Ricardo Molina (presidente do time de Americana) e depois marcou um encontro comigo aqui em Americana. Nos falamos, ele entendeu o que eu queria e acertamos tudo. Não demorou muito, não. Olha, cara, sonho, sonho mesmo eu tenho de fazer o meu melhor trabalho, de evoluir como técnico e pessoa e de fazer as atletas evoluírem também. A palavra-chave para mim vai ser essa: evolução. Se essa evolução nos fizer campeões mundiais ou olímpicos, ótimo. Se a evolução, a máxima possível, não permitir isso, paciência e ficarei feliz. O lance é: evoluirmos o máximo que pudermos no período em que estivermos juntos. O que me motiva, além dessa evolução, é a chance de dirigir a seleção em uma Olimpíada no Brasil. Poxa, quantos técnicos têm essa honra, essa oportunidade? Poucos. Caso consiga completar esse ciclo, será uma honra e tanto dirigir o Brasil diante do nosso torcedor e da minha família. Por isso tudo aceitei o cargo. Pela chance de evoluir como técnico e como pessoa e pela chance de permanecer perto da minha família aqui em Limeira (a cidade em que vive fica perto de Americana, onde treina o clube vice-campeão da LBF).

BNC: Perfeito. Agora falando sobre a seleção em si. Sua primeira convocação causou surpresa e alegria em quem pedia renovação, já que se trata de um grupo de 22,6 anos de média. É uma filosofia que você pretende seguir, ou foi apenas para testar as meninas no primeiro momento?
ZANON: Na minha cabeça eu preciso dar chance para as mais novas para saber o potencial delas. Isso é bem claro. Por isso, nesse primeiro momento eu quero colocar as meninas na quadra e conhecê-las melhor. Vai ser treino, treino e treino. É o que mais gosto de fazer, e assim elas vão melhorar. Parte técnica, tática, personalidade, tudo. Todas as que convoquei precisam de experiência internacional, rodagem, e só vamos conseguir isso dando espaço a elas. Algumas nem tinham passaporte pra viajar, você sabia? Pra te ser sincero, queria até convocar meninas da Sub-19, mas elas estão treinando com o time que irá ao Mundial e não foi possível no momento. Quis dar uma chacoalhada, uma animada, nas mais novas, conhecer de perto e depois vamos ver o que precisamos. Dividi o trabalho em etapas. Nesta primeira, é a chance das mais novas mostrarem serviço. Depois, pro Sul-Americano e Copa América, que preciso de resultado, vou trazer as mais experientes nas posições que mais precisarem. Nesse primeiro momento quero que essas meninas de 20, 21, 22 anos joguem contra as melhores, as lá da WNBA, e se entreguem em quadra. É a chance delas, e meu perfil é muito de fazer as jogadoras evoluírem, né. Mas posso te garantir: vai jogar quem estiver melhor, independente de idade. As mais experientes eu já sei o que podem me dar, o que fazem. As mais novas têm potencial e agora podem mostrar.

BNC: Três nomes me chamam a atenção nessa convocação. Patricia Ribeiro, que foi muito bem por São José, Joice Coelho, destaque da Sub-19 dois anos atrás e uma das revelações da LBF jogando por Guarulhos, e Ariani (foto à direita), armadora que estava jogando nos Estados Unidos.
ZANON: A Ariani já vinha olhando pra ela há algum tempo e recebi ótimas informações de dentro da CBB sobre seu jogo. Para a posição de armadora, será testada e ganhará chances. A Joice fez ótimas partidas em Guarulhos, e quero muito ver como se comporta em um jogo mais coletivo, mais de sistema, que é como gosto de jogar. A Patricia é a menina que mais joguei contra ela. Conheço suas qualidades e pontos de melhoria, e agora é ver como se encaixa na seleção. Além dessas, tem a Tatiane Pacheco, que foi muito bem na fase final por São José e que agora tem chance na seleção. São todas da mesma faixa de idade, e isso também foi proposital. Não podia testar meninas muito jovens com veteranas no meio. A química dessa meninada é importante demais também.

BNC: Sobre as mais experientes, você já chegou a conversar com a Adrianinha, que me disse, aí em Americana, estar a disposição pra voltar, com a Érika ou com a Iziane (foto à esquerda), cujo estoque de polêmicas é inesgotável?
ZANON: Olha, ainda não falei. Não falei porque ainda não é momento. Quando for, pode ter certeza que eu mesmo vou puxar o telefone e ligar uma a uma para explicar minha filosofia e o que estou pretendendo. Quem quiser vir pra se enquadrar e participar será muito bem-vinda. A única que conversei, mas informalmente, foi a Érika – e porque encontrei em um programa de televisão. Ela me disse só um "tamos juntos, Zanon" e nada mais. Vou falar com todas elas e sei que cada uma tem uma situação diferente. Sobre a Iziane, e isso quero deixar claro, comigo não existe nada do passado. Eu, como técnico da seleção, entro zerado, entro sem querer saber do histórico de nada, de absolutamente nada. E nem quero saber pra te ser sincero. Eu planejo o futuro e só, nada mais. Nunca houve nada comigo, certo? Então é sentar, conversar, alinhar expectativa e tocar o barco. Vou ligar pra ela e vou falar. Sou muito direto e você sabe disso. Não posso pré-julgar uma menina por conta de assuntos anteriores a minha gestão. Não tenho nada contra e nem a favor de nenhuma delas. A palavra-chave, Bala, é 'produção'. Quem produzir, joga. Quem jogar bem vai estar no grupo. Isso é bem simples.

BNC: Pra fechar a parte de quadra, você foi o responsável por fazer Americana marcar como eu há muito tempo não via em solo nacional. É o que você espera na seleção também, não?
ZANON: Sim, e muito. Preciso estar sempre com defesa forte, e farei isso desde o começo. Pode ter certeza que mesmo nesses amistosos contra a WNBA eu vou marcar forte, pressionar a bola, fazer o diabo lá. Não sou maluco de marcar pressão a quadra toda, mas quero meu time marcando forte, abusado, sem medo de absolutamente nada. Vamos lá pra aprender, mas vamos jogar também. Vou usar sempre o que de melhor meu grupo tiver pra defender. Nesse primeiro momento, é a vitalidade, a força física, a juventude das meninas para rodá-las. Tudo isso aliado a um jogo coletivo muito forte no ataque. Para te citar um exemplo, meu time (Americana) ficou muito individualizado nas finais da LBF contra o Sport/Recife. Isso eu não gosto, não é assim que curto, não. Só vamos melhorar o nível da seleção se jogarmos coletivamente e de forma elaborada, escolhendo a melhor jogada, no ataque. Isso tudo com muito poder de decisão, coragem para escolher a melhor jogada. Posso fazer variações de pick'n'roll, qualquer coisa com as meninas, mas vamos precisar de paciência no ataque e muita disposição e entrega na defesa desde o primeiro dia de trabalho. É assim que sempre trabalhei em Limeira (masculino) e Americana (feminino) e não sei fazer diferente, não. O basquete, cada vez mais, caminha pra isso, né. Marcação apertadíssima e controle da posse de bola.

BNC: Por fim, uma pergunta: como você tem feito pra se atualizar, estudar e olhar os rivais que enfrentará no Mundial?
ZANON: Cara, eu vejo tudo. Tudo é tudo mesmo. Passa NBB, Euroliga masculina, Euroliga feminina, NBA, eu vejo tudo. Outro dia estava assistindo na internet a Euroliga Feminina. Leio muito também e acho que aprendo muito. Os últimos livros que li foram do Bernardinho e do John Wooden, dois caras que admiro demais. Falo muito com os técnicos, e peço para eles me avaliarem também. Já fiz isso com a Maria Helena Cardoso e com o Edvar Simões, por exemplo. Tem vezes que vejo jogo também e fico me imaginando como tomaria determinadas decisões em ocasiões como as que se apresentam nas partidas. Tem outra coisa que faço com constância e que me ajuda bastante: eu jogo muito xadrez sozinho. Isso é basquete, cara. Você faz um movimento e precisa imaginar como o adversário vai reagir. O basquete é xadrez, entende? O segredo é manter a cabeça no lugar, manter o controle emocional e tomar as decisões corretas nos momentos mais complicados. Minha grande paixão, no esporte e na vida, é crescer, é evoluir, é sempre melhorar.

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