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Bala na Cesta

Mirando a seleção brasileira, Vitor Benite assume protagonismo para ajudar Flamengo no NBB

Fábio Balassiano

18/09/2012 00h54

Vitor Benite chega diferente ao Flamengo que tão bem conhece. Não pela barba, que tem cultivado apenas por estilo (diz ele), nem por causa dos cinco anos que já viveu nas categorias de base do clube da Gávea anos atrás. Aos 22 anos, o menino que foi escolhido a revelação do NBB3 quando atuava por Franca chega ao rubro-negro depois de um ano em Limeira ("amadureci muito por lá) com a missão de ser um dos protagonistas do time que tem Marcelinho e Marquinhos, duas estrelas do basquete brasileiro na última década.

Maduro, ele sabe que a pressão será grande, que seu nome continuará em voga nas rodas de discussão sobre o ciclo olímpico rumo aos Jogos de 2016 e que seu desenvolvimento será testado não só nos jogos, mas principalmente nos treinamentos do elenco estelar que o Flamengo montou para a temporada. Na entrevista exclusiva ao Bala na Cesta, ele não fugiu de nenhuma pergunta, e mostrou personalidade e consciência não só de sua carreira, mas principalmente da situação do basquete brasileiro na atualidade. Confira o papo com o jogador de 1,90m.

BALA NA CESTA: Muito animado com essa volta ao Flamengo? Qual é a sua expectativa para a temporada que está começando?
VITOR BENITE: Estou muito animado e acho que não tinha época melhor para eu ter voltado ao Flamengo. É um grupo muito forte para a temporada e também muito competitivo internamente, o que fará com que todos cresçam bastante. No momento em que estou hoje, buscando crescer cada vez mais, será muito bom. Além de tudo é um clube que conheço muito bem. Passei cinco anos da minha formação como atleta e como ser-humano aqui dentro da Gávea, e só tenho a evoluir com isso.

BNC: Mudou muito o Flamengo daquela fase que você esteve por aqui?
VB: Mudou bastante. Na época eu passei por um momento em que o Oscar Schmidt veio, o que por si só já gerou uma mudança imensa por causa do tamanho dele e do projeto de basquete do clube. E hoje eu vejo que, dentro da estrutura do basquete brasileiro que temos, acho que na parte física, médica, de materiais, estamos muito bem aqui no Flamengo. Temos dois preparadores-físicos, dois fisioterapeutas, médicos, assistente, tudo isso ajuda.

BNC: E do Benite que foi eleito a revelação do NBB3 por Franca, o que mudou do menino que agora chega ao Flamengo com uma função de protagonista?
VB: Mudou muita coisa. Passei uma temporada em Limeira, e aprendi muitíssimo. Muitos criticaram porque eu fui pra lá, mas antes de tudo a pessoa que mais se cobra sou eu mesmo. Então muita pressão que eu não tinha passado ainda por nunca ter sido O cara do time eu acabei aprendendo lá. Tudo isso fez com que eu amadurecesse, fez com que eu me formasse como um jogador mais completo, um jogador mais consciente das situações que se apresentam. Venho para o Flamengo no momento certo. Há um grupo com jogadores de nome e estou entrando como um deles. Vou continuar crescendo na minha carreira, mas estou muito mais tranquilo para aguentar as pressões que virão.

BNC: Você se cobra demais ou você acha que as pessoas cobram demais de você?
VB: Não, cara, eu sempre fui um cara que me cobrei muito. Minha família mais do que todo mundo sofre com isso, porque já me viu sair chorando de jogo e nos treinamentos sempre com aquela vontade de querer evoluir. Mas isso é natural, é querer sempre ser melhor, o melhor naquilo que estou fazendo. Eu nunca coloquei limites dentro do que posso ser como jogador. Às vezes em algum momento com certeza me atrapalhou essa cobrança pelo fato de eu nunca ter dado uma relaxada, de não entender que ter tranquilidade também era importante. Mas isso é bom. É uma coisa sempre me mantém motivado para melhorar.

BNC: Não sei se os leitores do blog sabem, mas o seu pai, o Frico, foi o ídolo de infância de ninguém menos que Magic Paula, uma das melhores jogadoras da história do país. Você chegou a conversar com ela em algum momento da sua carreira, pediu dicas, ou não chegou a rolar o papo?
VB: Eu conheço a Paula há muito tempo, né, até pela história dela com o meu pai. A Paula sempre foi um ídolo pra mim como jogadora e como pessoa. A forma como ela lida com as coisas, com as situações, isso eu admiro demais. É uma pessoa humilde, que não quer aparecer, justamente como foi em quadra. Ela jogava muito, muito bem, e não queria o holofote. É na dela, tranquila, e isso eu me espelho nela. Você ser um craque dentro de quadra e ser uma pessoa do bem fora dela é fantástico. Não sei se já falei isso pra alguém, mas no Pan-Americano de 2011 a gente fez uma entrevista junto, a gente bateu papo, e sempre foi muito bom. A Paula me deu alguns toques, disse que eu pareço muito com meu pai jogando. Foi muito bacana.

BNC: E o que você planeja em termos de carreira agora? Você jogou o Sul-Americano, mas acabou não chegando às Olimpíadas. A questão que mais se coloca sobre você, e imagino que você saiba, é se você vai jogar de armador ou de ala-armador.
VB: Cara, essa é uma pergunta que as pessoas seguem fazendo. O que eu penso para a minha carreira, independente da posição em que atue, é que preciso evoluir, preciso seguir melhorando para que meus objetivos sejam atingidos. Isso pra mim é muito claro. O negócio da posição 1 ou 2 é bem simples. Eu sou um grande pontuador, gosto disso, e nunca vou deixar isso passar. Se o Neto (técnico) me colocar de armador, ele sabe que a minha condição de pontuar é grande. Então eu vou armar jogadas e ele sabe que terei a capacidade, também, de pontuar, de finalizar. No meu ano passado em Limeira eu tentei aperfeiçoar muito essa posição de armador. Sou muito acostumado na ala, e preciso também estar atuando com naturalidade na armação. Deixo para os técnicos decidirem em que posição eu atuarei, mas eu quero ficar cada vez mais completo jogando de armador e de ala-armador.

BNC: Dentro do seu planejamento para jogar as Olimpíadas de 2016, qual o ponto que você mais precisa melhorar? É a sua defesa?
VB: Seria clichê eu dizer que preciso evoluir em tudo, né, mas no basquete mundial hoje a parte defensiva exerce uma importância muito grande. Além disso, cada vez as partidas têm mais contato, e os atletas estão ficando cada vez mais altos, mais fortes. Por isso a parte física também é essencial para o meu crescimento. Então para eu ajudar a equipe e a mim mesmo é nisso que preciso evoluir. Também cito a leitura de jogo, que é fundamental para um bom armador.

BNC: Você falou em defesa, e é um cara que tem uma leitura de basquete bem boa. Qual a avaliação do desempenho do Brasil na Olimpíada de Londres?
VB: Este ano eu fiquei só duas semanas com a seleção principal, mas conheço muito bem o trabalho do (Rubén) Magnano (o técnico). Acho que o Brasil realmente fez um campeonato bom. Mostrou defensivamente uma força muito boa, marca de forma consistente e isso foi muito bacana de ver. Mas ultimamente a gente tem pecado na concentração ou na hora de a matar um jogo. Não é nem questão dos nossos jogadores. É algo que a gente tem que acostumar, e a vivência em mais competições de alto nível certamente nos trará essa experiência e sabedoria para decidir corretamente em grandes jogos. Nossa diferença para as outras equipes é a concentração, o foco ali no final de fazer a jogada certa no momento certo – do passe entrar corretamente, do bloqueio do pivô ser bem feito, do drible ser executado no momento certo, essas coisas. Essa parte que algumas equipes já conhecem este momento do jogo a gente ainda está pecando. Mas estamos evoluindo, é o que importa.

BNC: Você falou em defesa muitíssimo bem, e gostaria de tocar em um ponto que não sei se você concorda. Noves fora a diferença técnica, o que me chama a atenção em jogos do NBB e da seleção brasileira é que parece se tratar de outro esporte. Com o Magnano a gente vê uma intensidade, uma volúpia, uma força na marcação que a gente não enxerga em jogos do NBB. Você concorda com esta análise? Consegue explicar por que isso ocorre?
VB: Concordo integralmente com isso. É uma coisa do ser-humano, que acaba se acomodando no nível que se está naquele momento. É bem simples. O cara quando vai jogar contra um time mais fraco, ele diminui o ritmo e este ritmo acaba se incorporando ao seu dia-a-dia. Com isso, você acaba não fazendo as coisas em seu máximo, na sua plenitude. Quando você está na seleção, você não tem este tempo de acomodação. Ou você joga o seu máximo, ou você fica fora ou perde um jogo importante. Então a nossa cultura precisa mudar. Os jogadores precisam mudar a postura, os técnicos têm que mudar a cultura de treinamento se a gente quer se tornar uma potência. A gente não pode chegar no dia-a-dia e treinar leve aqui só porque o time vai jogar daqui a um mês. Não importa se você joga contra time forte, contra time fraco, o objetivo tem que ser, sempre, atuar dando 100% no ataque e na defesa. E é assim que o jogador cresce.

BNC: Pra fechar: você tem algum planejamento de jogar fora, de atuar na Europa, ou isso não passa mais pela sua cabeça?
VB: Eu traço, traço metas, sim. Tenho a meta de jogar fora. Sempre tive, mas em outras ocasiões acabou não acontecendo (quando estive em Franca acabei recebendo uma proposta mas não achei muito interessante). Estou correndo atrás do meu passaporte comunitário europeu, mas estou no Flamengo e prefiro não pensar nisso. Quero ganhar todos os títulos possíveis aqui no clube, fazer o time todo crescer e me desenvolver como atleta e como pessoa. Depois eu penso no que vai acontecer.

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