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Bala na Cesta

Quem é o ex-ala da seleção que trocou as quadras pelo escritório e administra as finanças de atletas

Fábio Balassiano

31/07/2019 05h00

Formado pela Universidade do Pacífico, Gabriel Aguirre, de 2,08m e potencial físico descomunal, tinha uma carreira promissora no basquete brasileiro. O ala-pivô fez parte de uma das melhores seleções brasileiras de base dos últimos anos, a masculina que foi vice-campeã da Copa América Sub-18 em 2010 nos Estados Unidos, perdendo para os donos da casa na última bola, mas em 2016 optou por sair do esporte.

Filho do argentino Gustavo Aguirre, figura conhecida do basquete nacional por ter atuado por aqui nas décadas de 70 e 80 em Palmeiras (SP), Vasco (RJ) e Franca (SP), o rapaz hoje com 27 anos que teve uma passagem pela Espanha em 2010 antes de se formar em 2015 na Califórnia largou o basquete em 2016 e atualmente trabalha como consultor financeiro, falando sobre planejamento de finanças para seus clientes. E afirma que o esporte ajudou a transformá-lo no profissional que é hoje mesmo o meio esportivo sendo muito diferente do famoso "mundo corporativo".

No bate-papo que tive com Aguirre, que atualmente tem em sua carteira de clientes ao lado de Rodrigo Bevenuti alguns atletas do NBB como Lucas Dias (Franca), Renan Lenz (São Paulo), Alexey Borges (Mogi), Vithinho (Unifacisa), Gui Deodato (Minas) e Guilherme Teichmann (Corinthians), além de Saraelen Leandro (Pinheiros), Marjorie Correa (França) e aula Mohr (Egito), do vôlei, o ex-atleta e agora Gerente Comercial da empresa W1, cujos sócios austríacos sempre apostaram no lado esportivo dele por acreditar que a união de disciplina e foco dariam certo, sobre sua carreira, seu dia a dia e também conselhos para questões financeiras.

BALA NA CESTA: Você tinha uma carreira muito promissora no basquete de base, fez parte de seleções brasileiras, e aí foi estudar fora. Qual o momento da sua vida que você teve que optar entre o mundo corporativo, digamos assim, e o basquete? Como foi essa decisão?
GABRIEL AGUIRRE: Olha, a carreira no basquete foi realmente bem promissora e sou realmente muito grato pelo que o basquete me deu. Minha última temporada foi em São José dos Campos em 2015/2016, vi que o mercado não estava lá essas coisas pra mim, tinha uma faculdade boa nas costas, tinha chance de entrar no mundo corporativo e fazer uma carreira legal. Quando o basquete começou a cair um pouco, não tinha mais aquelas propostas atraentes, já tinha alguns problemas físicos e eu fiz uma avaliação racional. Não tinha tanto pra entregar no médio e longo prazos, e aí preferi entrar no mundo corporativo. Isso foi em 2017, quando ainda estava na dúvida se iria pro basquete ou não. Acabei dando muita sorte, uma empresa emergente, conheci os donos austríacos muito rápido, proposta muito boa e assim fiquei. No começo foi difícil, claro, eu joguei 13, 14 anos o basquete, mas a decisão foi racional e sou muito satisfeito. Zero frustração com o esporte e sigo meus passos na consultoria com muita alegria.

BNC: Antes de entrarmos nas finanças, lembro que você fez parte de uma das melhores seleções brasileiras de base dos últimos anos. Em 2010 vocês jogaram uma duríssima Copa América Sub-18, perderam a final contra os EUA por pouco. O que ficou daquela final? Faltou um pouquinho, né?
AGUIRRE: Eu trato essa seleção, esse momento, com muito carinho até hoje. Esse grupo que você cita estava junto desde o Sub-14. Falo com quase todos os jogadores e o técnico, Walter Roese, até hoje. Fomos muito bem na Copa América em 2010 e fechamos nossa jornada em 2011. Ganhar seria lindo mesmo, na casa dos caras, mas aquele time tinha Austin Rivers e Kyrie Irving. O gosto é muito mais de carinho, boas lembranças, do que de amargor mesmo. Pretendo seguir falando com meus amigos pra sempre. Foi um momento lindíssimo das nossas vidas.

BNC: O quanto do esporte te ajuda no dia a dia do mundo corporativo? Te pergunto isso porque comigo acontece muito na questão da superação, trabalho em equipe, resiliência, essas coisas. Que ensinamentos do basquete você traz no seu dia a dia?
AGUIRRE: Pergunta boa, bacana mesmo. Eu vejo muito valor nisso. Lá nos EUA quando o atleta se forma as empresas olham isso com muito bons olhos. As empresas enxergam aquele atleta, aquela atleta, como alguém que tem resiliência, senso de liderança, bom comportamento, disciplina, como se portar como gestor, essas coisas. No Brasil é meio ao contrário, uma visão distorcida. Na minha empresa a visão dos donos, austríacos, ajuda. Outros ex-atletas também trabalham conosco e todos com a mesma mentalidade de crescer juntos, caminhar juntos. Hoje sou Gerente Executivo comercial e lidero um time de quase 50 pessoas. O que mais levei da minha faculdade dos EUA foi a maneira de pensar. Visão empreendedora, disciplina, forma de se pensar e agir. Isso te deixa preparado mentalmente para ser um líder, para saber trabalhar em equipe. Esse esforço lá atrás me ajudou muito no meu crescimento profissional. O esporte me deu isso e sou eternamente grato.

BNC: Atualmente você trabalha com assessoria financeira para pessoas. Como é seu dia a dia? E o quão difícil foi para um atleta se acostumar a se conscientizar em relação ao tema? Falta muito no dia a dia dos clubes esse lado de formar cidadãos conscientes sobre essa questão financeira, não?
AGUIRRE: Hoje meu trabalho é muito relacionado a finanças pessoais. Não sou agente autônomo de investimento como muita gente exerce essa função. Sou mais um cara de planejamento financeiro geral. Por eu ter vindo de uma família que sempre teve uma educação financeira boa e eu ter morado nos Estados Unidos, um país que desde sempre fala sobre o tema, essa transição do mundo esportivo pro corporativo neste sentido não me afetou muito. Ter morado na Espanha e nos EUA me deram uma visão importante sobre o tema. Sempre tive o hábito de guardar dinheiro, mesmo que pouco. Meu dia a dia é dar treinamento e me reunir com clientes para transmitir conhecimento sobre como guardar, como investir, como fazer sobrar, comprar imóveis, aposentadoria, essas coisas. Este é um tema muito recorrente nos últimos dias aliás.

Relacionando pro basquete, hoje em dia já tenho alguns atletas do Brasil que são meus clientes e gosto muito desse nicho. São pessoas que precisam se conscientizar porque a carreira de jogador é curta, o mercado no Brasil ele pode ser um pouco perigoso, porque é pequeno, pode ter salário atrasado e se você não tiver uma boa reserva acontece de você quebrar. Ganha muito dinheiro enquanto joga e depois que acaba o bicho pega. Não é um viés que quero pra ninguém e tenho ajudado essas pessoas a tomar boas decisões financeiras sobretudo pro pós-carreira. O que mais ouço dos meus clientes atletas é: "Ah, como seria bom se eu tivesse começado isso antes…". Meu objetivo é começar a falar o quanto antes sobre planejamento financeiro com todos eles.

BNC: Eu vejo que isso tem mudado muito e alguns atletas atuais já falam em investimento, planejamento, essas coisas. Você tem alguns atletas em sua carteira de clientes, certo? Qual é a principal demanda? É organizar a casa do dia a dia, aposentadoria, seguros de vida?
AGUIRRE: Como te disse, hoje sim. Há muitos atletas do NBB e agora estamos tentando falar com atletas da base. Há muitos do NBB que ainda não conhecem o nosso trabalho e o nosso principal foco pro atleta é ajudar a pensar com a mentalidade correta, sobre a necessidade de guardar dinheiro, ter uma reserva de emergência e como eles, como em alguns casos sendo provedores de renda da família, devem proteger as suas famílias. Aí entram ações, investimentos, formas de investir o dinheiro. É muito sobre o que ele quer e eu chego mais com a solução. Até a como usar milhas a gente ajuda. É importante explicar isso tudo pros atletas e mostrar a eles que educação financeira deve ser um tema tratado desde o começo da carreira, e não apenas no final.

BNC: Pensando não só em atletas, mas no público em geral, qual a principal dica que você dá para quem pensa em finanças pessoais? Existe algum segredo?
AGUIRRE: Olha, se eu pudesse dar uma dica é entender onde se quer chegar. Desenhar e mentalizar onde se quer chegar em termos financeiros. Se eu não sei onde quero chegar, qualquer caminho serve. É importante saber onde se quer chegar para depois viabilizar a maneira de como atingir esses objetivos. Às vezes o atleta pensa em ser contratado por um time, pegar rebotes, pontos, mas não se pensa em finanças. Mas isso precisa ser pensado, mentalizado desde sempre. Só peço sempre para tomar cuidado para fazer esse tipo de acompanhamento com alguém profissional, com alguém do ramo, alguém com experiência para ajudar. É um tema importante e é fundamental cuidar de cada centavo desde o começo da vida.

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