No dia da abertura do Pan, vale a pena relembrar a conquista do basquete feminino em 1991 em Cuba

Acontece hoje a cerimônia de abertura do Pan-Americano de Lima. Pro basquete feminino os jogos só começam, porém, no dia 6 de agosto.

No Grupo A ao lado de Canadá, Porto Rico e Paraguai, o time brasileiro comandado por José Neto estreia contra canadenses no dia 06/08 (15h30), no dia seguinte joga contra as porto-riquenhas (23h) e fecha a participação na primeira fase em 8 de agosto contra paraguaias (20h). As duas melhores seleções de cada chave (no outro lado estão EUA, Argentina, Colômbia e Ilhas Virgens) fazem as semifinais e os vencedores a decisão do ouro.

Mas quando se fala em Pan-Americano a primeira imagem que vem à cabeça, quando pensamos em basquete feminino, é a do ouro nos Jogos de Havana em 1991. Ninguém esquece dessa imagem, né?

Fidel Castro, o líder cubano, se negando a entregar medalhas para Paula e Hortência, mitos do basquete brasileiro que ajudaram a vencer as donas da casa na decisão por inapeláveis 97-76. Pouca gente sabe, mas antes do jogo Fidel foi tentar conversar (e desestabilizar) as atletas brasileiras. A técnica Maria Helena Cardoso, em entrevista ao blog, contou como foi:

"Ele queria falar com as nossas atletas antes da partida. A Eleninha (assistente-técnica) é que veio me contar que ele queria falar. E eu mandei avisar lá: "Antes, ele só fala comigo. Com as atletas, só depois". E ele falou comigo, conversamos, batemos papo. Mas pelo menos não influenciou, não pressionou as atletas".

Deu certo. Geniais, Hortência fez 30 pontos, Paula outros 24 e o Brasil passou por cima de Cuba naquela decisão. Ficou com o ouro e na cerimônia de premiação Fidel desceu de seu lugar para parabenizar e brincar com as brasileiras.

"No pódio, durante a entrega das medalhas, o Fidel chamou a mim e a Hortência de brujas (bruxas), mas a vitória foi de toda a equipe. Ele era mais um incentivo a favor delas. Foi muito gentil da parte dele descer de seu camarote para parabenizar nossa equipe. Só deu mais valor ao nosso título", relembrou Magic Paula ao site da CBB em 2015.

O caminho até o ouro começou lá atrás e vale a pena ser relembrado. Na primeira fase, vitórias contra EUA (87-84), Canadá (74-66), Cuba (90-87) e Argentina (83-56) entre 3 de agosto de 1991 e 8 de agosto. Na semifinal do dia 10 de agosto, 87-78 contra as canadenses e uma olhadela para ver quem enfrentar na decisão. Os EUA saíram na frente, lideraram quase o jogo todo, mas no final Cuba conseguiu uma corrida, fez 86-81 e venceu as norte-americanas.

Os 97-76 mostraram um Brasil maduro, regular, consistente e sem medo de enfrentar a torcida adversária. As 12 campeãs do Pan-Americano de 1991, comandadas pela genial Maria Helena Cardoso, são: Adriana (12 pontos), Ana Lúcia (7), Hortência (133), Janeth Arcain (87), Joycenara (7), Magic Paula (110), Marta Sobral (92), Nádia (24), Roseli (5), Ruth(23), Simone Pontello (9) e Vânia Hernandes (9).

Mais lindo que o ouro, que o gesto de Fidel de reverenciar as brasileiras, que a consolidação de Janeth, Paula e Hortência como gigantes do basquete mundial, foi como aquela conquista abriu espaço para que o Brasil pudesse continuar dominando o esporte mundialmente pelos anos seguintes.

A partir da conquista do ouro em Havana, a seleção feminina iniciou uma trajetória de glórias. Até a equipe brilhar diante de Fidel Castro, o Brasil nunca havia disputado os Jogos Olímpicos. No ano seguinte estreou em Olimpíadas em Barcelona-1992. Em Mundiais, o país tinha a medalha de bronze obtida em São Paulo, em 1971. Depois do sucesso no Pan, foi campeã mundial na Austrália em 1994, prata na Olimpíada de Atlanta-1996 e bronze nos Jogos de Sydney, na Austrália, em 2000. Além disso obteve quartos lugares nas Olimpíadas de 2004 e nos Mundiais de 1998 e 2006. Tempos bons – e que infelizmente demorarão a voltar.

Abaixo o vídeo completo da partida histórica de 1991: