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Bala na Cesta

Veteranos dominam lista dos cestinhas do NBB - como explicar isso?

Fábio Balassiano

30/01/2019 06h00

Divulgação Mogi Basquete

No sábado passado eu vi um bom jogo entre Mogi e Flamengo pelo NBB. No final, vitória rubro-negra por 81-74 em solo mogiano. Além da partida disputada até o final, me chamou a atenção o fato de os cestinhas do duelo terem sido Shamell (20 pontos) e Anderson Varejão (23). Craques consagrados, mas ambos com 38 e 36 anos, respectivamente.

Partindo disso eu fui fazer uma análise mais profunda envolvendo não só o NBB, mas também ligas como a NBA, a Euroliga, a Argentina e a ACB espanhola. Quis entender se o fato de inúmeros veteranos estarem ainda "mandando" na Liga Nacional por aqui é um fato brasileiro ou se é algo internacional.

Nada contra os veteranos que fazem o nível de popularidade e técnico crescerem, obviamente, mas creio, e já escrevi isso aqui alguma vez em um texto que obviamente eu não acho o link (minha memória por vezes me trai…), que o fato de termos cinco jogadores com 35+ anos entre os 10 maiores cestinhas do nosso campeonato nacional fala demais sobre a formação que está sendo feita por aqui nas últimas décadas. Além disso, são cinco estrangeiros no Top-10. Logo abaixo as tabelas.

É óbvio que o fato de termos muitos estrangeiros nos campeonatos faz com que as análises sobre ACB, NBB, Liga Argentina e também na Euroliga, onde tudo fica bem mais misturado por se tratar de um campeonato continental, faz com que as conclusões sejam mais heterogêneas que homogêneas, ou seja, cada lugar possui uma explicação razoável e deve ser explorado individualmente embora esteja claro que a maior média de idade entre os Top-10 dentro os campeonatos citados.

O fator argentino, por exemplo, pode ser entendido porque alguns dos melhores prospectos dos hermanos jogam no exterior (mais detalhes aqui). Isso faz com que o campeonato interno também seja dominado por muitos veteranos e também por poucos jovens (apenas Jasiel Fernandez tem menos de 25 anos). Olhem os "produtos exportados" pelos platenses, porém:

No lado brasileiro, não há tantos craques assim jogando no exterior. Na NBA, Cristiano Felício, Raulzinho e Nenê (nenhum dos três passa de 15 minutos de média na temporada). Na Europa em campeonatos da primeira divisão, Rafa Luz, Huertas, Augusto Lima e Vitor Benite. É pouco, não? Sendo que Nenê e Huertas já passaram dos 30 anos e nenhum dos demais citados neste parágrafos são protagonistas de seus times.

Creio que por mais que os esforços feitos pela Liga Nacional sejam louváveis, e o melhor exemplo seja a Liga de Desenvolvimento, o efeito de anos de falta de trabalho consistente da Confederação Brasileira de Basketball está sendo sentido agora – e estará sendo sentido por longos e longos anos ainda.

A quantidade de atletas formados em alto nível por aqui ainda é baixa (massificação, sabemos, nunca foi o forte da CBB de Grego e Nunes), a qualidade dos nossos atletas que vêm da base ainda não é das melhores (como estão sendo capacitados os nossos treinadores?) e não surpreende, mas assusta que apenas dois deles (Lucas Dias e Lucas Mariano, nono e décimo, respectivamente) apareçam no Top-10 dos maiores cestinhas da atual temporada do NBB. Nos dois casos, chama atenção que ambos não são os "jogadores franquia" de seus times – são David Jackson e Alex Garcia, ambos veteranos.

Por fim, vale um lembrete meio "porta do pânico". Se a geração atual, que fez um sucesso enorme em NBA e Europa (Tiago Splitter, Nenê, Huertas, Leandrinho, Anderson Varejão etc.), não conseguiu ir longe em âmbito internacional (torneios Classe A – Mundiais e Olimpíadas), o que será daqui a dois, três anos, quando esta galera de até 25 anos que joga o NBB e não consegue ter protagonismo por aqui e representar o Brasil nestes campeonatos? Dá pra ter medo agora ou é melhor esperar? Eu não fico tão otimista…

Muita gente pode pensar que este é um problema do produto interno, do NBB, da elite nacional, mas eu não vejo assim, não. Eis um tema que deveria ser explorado de forma mais profunda, porque certamente no próximo ciclo olímpico (visando a Olimpíada de 2024) isso será sentido tanto nos campeonatos internos como nos jogos das seleções brasileiras masculinas. No feminino isso já é uma realidade bem cristalina e vemos onde a modalidade está (tentando sair do fundo do poço).

Ou se trabalha muito a partir de agora ou os próximos anos serão de penúria total.

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