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Bala na Cesta

Afinal, como o mundo anda arremessando de 3 pontos? Veja estudo!

Fábio Balassiano

27/11/2018 05h02

Na semana passada o técnico da seleção brasileira Aleksander Petrovic deu declaração sobre o estilo de jogo do basquete interno (NBB). Sua citação merece, claro, ser respeitada, analisada e depurada. O cara é experiente, dirige a equipe nacional e lança luz sobre um ponto importante que é a forma como jogamos por aqui.

Ele falou sobre as bolas de três pontos, de seu excesso, e aí decidi ir a fundo. Coloco abaixo, e antes de eu emitir qualquer tipo de opinião, os dados das principais ligas do planeta e das Olimpíadas do Rio de Janeiro (inclusive dos times brasileiro e croata, dirigido à época por Petrovic):

Duas observações óbvias:
A) Ponderei as estatísticas da NBA para 40 minutos de jogo (lá são 48);
B) Na NBA a linha de três pontos é mais distante que no jogo FIBA (7,24 contra 6,75m).

Algumas coisas que acho que acho, como diria o Alexandre Cossenza, do Saque e Voleio:

1) Está claro aí que não há grandes discrepâncias entre as ligas e nem em relação às últimas Olimpíadas. Dos 41,6% do NBB para os 36,4% da Euroliga, apenas 5,2% de diferença nos arremessos totais, nada absurdo.

2) Pra mim, e acho isso também muito básico, nunca foi O QUANTO se chuta, mas QUEM chuta e COMO se chuta. Receber a bola e na primeira oportunidade atirar do perímetro pode ser um erro. Trocar passes para receber livre e tentar uma bola que vale mais que a de dois, um acerto. Usar isso como ARMA, mas não como a ÚNICA arma, a mais acertada de todas.

2.1) O Golden State Warriors tenta 29,5 bolas de fora por jogo na atual temporada da NBA (é apenas o vigésimo no quesito, aliás). O que o diferencia não é seu volume, mas sim os atiradores de elite que há no elenco (Curry, Durant, Klay e, vá lá, Draymond Green, um ala que sai pra arremessar com boa qualidade). Os 38% de eficiência são a segunda melhor marca da NBA atual. A imprevisibilidade de ter um Steph Curry com a bola nas mãos torna tudo ainda mais difícil de marcar. Nunca se sabe de onde ele vai arremessar, e nem quando.

3) Todo time que ganha dita moda. No futebol a gente cansa de ver isso em relação a esquemas táticos, formas de atuar, formação de atletas. No basquete, igual. No mundo, hoje, quem manda é o Golden State Warriors e é natural que seu estilo seja emulado por inúmeras equipes, atletas e ligas. Pra azar dos treinadores ao redor do mundo, só quem tem Curry, Durant e Klay para treinar é Steve Kerr, o que faz a missão dos técnicos de explicar aos atletas que nem todo mundo pode sair chutando de tudo que é canto ainda mais difícil.

4) Um dado interessante, e isso é difícil de ler nas estatísticas, diz respeito a defesas. Na Europa as marcações são pesadíssimas. Por aqui, menos. Há que se construir cada arremesso no Velho Continente. Aqui, menos. Isso faz diferença e nem sempre está nos (frios) números.

5) O que os números também não mostram diz respeito a qualidade dos elencos. Na NBA, obviamente, sobra e é possível arriscar mais. Na América Latina, claro, menos. Talvez o que Petrovic queira dizer é que em um universo com menos talento deva-se arriscar menos, procurar um jogo mais seguro, com cestas de maior potencial de conversão (as perto da cesta). É um ponto de vista interessante e que merece ser analisado / respeitado.

6) Talvez o que falte por aqui seja um entendimento mais claro sobre os momentos de arremessar de dois, de três, infiltrar, passar. Isso vai muito mais na questão da leitura de jogo do que no chute em si. Há uma questão sobre a formação de atletas por aqui, e creio que o volume de bolas de três pontos, as marcações e também a forma como atuamos sejam consequência desta formação.

E vocês, o que acham? Arremessamos demais por aqui, ou os números dizem o contrário?

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