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Bala na Cesta

Última medalha em âmbito mundial completa 40 anos no basquete masculino - Marcel relembra o feito

Fábio Balassiano

25/10/2018 06h01

Foto: Arquivo Pessoal

Quase ninguém se lembrou. Nem a CBB, nem mesmo o blogueiro, que só foi reparar na noite de terça-feira. Mas no dia 14 de outubro completamos 40 anos da última grande conquista do basquete brasileiro. Foi naquele 14 de outubro de 1978 às 20h em Manila que o Brasil conseguiria a medalha de bronze no Mundial ao bater a Itália por 86-85 para fechar a sua participação na terceira colocação.

Conversei com Marcel de Souza, um dos grandes craques da história do basquete brasileiro e responsável por garantir a medalha com um arremesso no segundo final contra os italianos. Marcel fala sobre aquela conquista, de como aquela geração bateu na trave para ganhar outros importantes troféus e de como vê a modalidade nos dias de hoje. Papo bem reflexivo e sempre muito bom com alguém que infelizmente hoje está afastado do basquete (médico, ele trabalha em Jundiaí).

BALA NA CESTA: Quarenta anos se passaram da medalha no Mundial de 1978 nas Filipinas. Qual a sua maior lembrança daquele torneio?
MARCEL DE SOUZA: Lembro-me que praticamente não treinei para aquela competição (Nota do Editor: mesmo sem treinar antes, Marcel foi eleito o 3° melhor do campeonato e terminou com 18,9 pontos de média, o sexto maior cestinha daquele Mundial – na frente inclusive de Oscar, que teve 17,7). Estava no segundo ano de medicina e a equipe treinava em Petrópolis. Só comecei a treinar em Manila, a menos de 30 dias do começo do torneio. Foi a época, também, em que o Oscar mudou a sua posição de pivô para ala e eu tive que mudar para a posição de número 2 também. Posso dizer com tranquilidade que aquele foi o melhor time em que já joguei.

BNC: Você é um cara muito frio desde sempre, mas chama a atenção depois daquele arremesso fantástico e da conquista da medalha que você quase não comemorou, saindo andando. Por quê?
MARCEL: Não comemorei porque era muito concentrado no que estava fazendo e sabia que a gente não perde o jogo na última bola. Aliás, essa é a bola mais fácil de jogar pelo menos pra mim: os adversários parecem estar em câmara lenta e não querem te fazer falta para não te colocar na linha de lance-livre. Não custa lembrar a você, Bala, que quando a gente é jovem, e eu tinha 21 anos naquela época, não sabemos a verdadeira importância histórica do que acabamos de fazer. Eu não tinha a menor ideia do que significava ter feito a bola da vitória de uma medalha em Mundial.

Foto: Arquivo Pessoal

BNC: Aquela geração conquistou apenas em âmbito mundial, esta medalha de bronze nas Filipinas. Foi pouco pelo potencial de uma turma que tinha você e Oscar, entre outros?
MARCEL: Como disse foi a melhor geração que já participei. Poderíamos ter obtido um terceiro lugar já em 1974 no Mundial em Porto Rico (perdemos um jogo ganho para Cuba), conseguido uma medalha em 1976 (Ubiratan quebrou a mão no pré-olímpico), ganho esse mundial de 1978 (perdemos um jogo ganho para a Iugoslávia) e obtido uma medalha em 1980, mas o choque de gerações e as desavenças pessoais entre jogadores e entre alguns desses e o técnico nos impediram de conseguir o sucesso que essa geração merecia. Não sei se foi pouco. Merecíamos mais. Passamos perto. Mas não aconteceu.

BNC: Dá quanto de tristeza saber que depois daquela sua cesta o basquete brasileiro não conseguiu ficar no pódio de Mundial ou olimpíada?
MARCEL: É óbvio que dá. Ninguém gosta de ver aquilo que ama não sendo um sucesso. A geração posterior a essa que você citou ainda conseguiu muita coisa, como o Pan-Americano de 1987, que mudou muita coisa na história do basquete, e um quarto lugar no mundial de 1986, algo que considero bem relevante. De lá pra cá os nossos problemas dentro da quadra se agravaram muito e os resultados não vieram.

Foto: Arquivo Pessoal

BNC: Pelo que você vê hoje, um pouco afastado, como analisa o basquete daqui? Vê evolução dentro e fora de quadra, ou ainda não?
MARCEL: Estou afastado porque interpreto o nosso basquete de maneira única, incompatível com o que se reza hoje. Perdemos nossas características principais que são também inviáveis com o jogo que se pratica por aqui atualmente. Temos lacunas gravíssimas na nossa formação (passes, arremessos, dribles, defesa e ataque 3×2) que inviabilizam nosso futuro a curto e médio prazos. Nossos jogadores de futuro são imediatamente identificados por agentes e mandados ao exterior, onde perdem a noção histórica do basquete brasileiro e se tornam mais um no meio dessa multidão de jogadores mundiais. Acho difícil uma solução imediata para o nosso problema de falta de resultados internacionais de expressão tendo em vista toda essa conjuntura que te falei. Há questões de quadra, situações de fora dela, mas o fato é que atualmente estamos bem longe de termos soluções para elas.

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