Topo

Bala na Cesta

"Estou orgulhoso - Nada resiste ao trabalho", diz Helinho após conquista do Paulista por Franca

Fábio Balassiano

17/10/2018 02h20

Divulgação: Franca Basquete

Uma das equipes mais tradicionais do país, Franca estreou ontem à noite no NBB. Foi a São Paulo e venceu o Corinthians por 82-80 no ginásio Wlamir Marques para dar continuidade a um começo de temporada bem animador. Na semana passada o time foi campeão Paulista ao vencer o rival Paulistano, que o havia derrotado na mesma decisão em 2017, por 2-0 e dias antes passou sem sustos para a fase semifinal da Liga Sul-Americana.

Por isso conversei com Helinho, o técnico responsável por quebrar a seca de 11 anos sem título Paulista e também uma das cabeças por trás do remodelado projeto francano, que saiu de quase falência três anos atrás para um dos times mais bem administrados do país.

Sofrendo pressão grande após o segundo ano como técnico sem título (algo bem natural mas que para a torcida local não pareceu tanto assim), ele conversou comigo sobre a alegria do troféu estadual, a expectativa para o restante da temporada, as lições que vêm tendo como treinador e como se prepara para se tornar um profissional melhor a cada dia.

BALA NA CESTA: Qual o sentimento de um cara que nasceu na cidade, jogou pela cidade, saiu, viu o time quase fechar as portas, assumiu como técnico e leva o time ao título após 11 anos?
HELINHO: O sentimento é indescritível, tanto de missão cumprida quanto de alegria por poder dar a felicidade para a cidade depois de 11 anos. Além da torcida da cidade, é lindo poder deixar felizes pessoas que não são daqui de Franca mas que torcem pela gente. Acima de tudo, o que eu sempre falo com todos é que além do título a mensagem que foi deixada com a conquista é que para mim é tão importante quanto o troféu que conquistamos. Mensagem de resiliência, de trabalho em grupo, de acreditar sempre, de crer na força do trabalho e tudo mais. Por tudo o que foi acontecendo, o título pra mim foi ainda mais marcante.

BNC: É inegável que Franca montou um time fortíssimo, mas também que você vinha sofrendo, ao meu ver injustamente, uma pressão descomunal de torcida e imprensa locais. O quanto este título mostra que o trabalho estava / está sendo bem feito?
HELINHO: Com certeza mostra às pessoas que o trabalho vem sendo feito, vem sendo bem feito, né? No primeiro ano fizemos coisas boas, mas tínhamos algumas limitações. No ano passado fizemos final Paulista, fomos terceiro na fase de classificação do NBB, mas no playoff fomos eliminados de uma maneira que não foi legal. Por inúmeras situações, sobretudo as lesões que nos acometeram a temporada inteira e em nossos principais jogadores. Nunca tivemos treino seguidos devido a isso. Acontece. Neste ano, o título vem pra mostrar que estamos seguindo uma linha de conduta e que não abro mão dela. Em relação a pressão, acho que desde que tenha fundamento e justa, não vejo problema. Exemplo. Quando perdemos para Paulistano e Bauru na fase de classificação do Paulista, estávamos sem três atletas da seleção (Hettsheimeir, Didi e Lucas Dias). E são jogadores muito importantes. E aí veio uma pressão absurda, acho até que reflexo do que fizemos no último NBB. Mas fico extremamente feliz por saber que as coisas vão acontecendo através do trabalho. Tenho um lema de muito tempo, e algumas pessoas conhecem, que diz que nada resiste ao trabalho. Nada resiste ao bom trabalho. E é assim que vivemos em Franca. Então o foco foi no trabalho para que através dele saíssemos dos problemas que estávamos enfrentando até chegar a conquista do título. Eu, como esportista, sonho como o nosso esporte sendo tratado como qualquer outro. Gostaria que as análises fossem feitas pelo trabalho e não só pelo resultado. Eu não posso, Bala, ligar a televisão e ver um time que está disputando segundo ou terceiro lugar no Brasileiro e ouvir que os caras estão em crise. Isso é triste, injusto, não é coerente. Sonho em ver o esporte como qualquer outra atividade. E que as análises sejam mais profundas. Isso só virá através de uma política esportiva em âmbito nacional, algo que infelizmente não temos atualmente.

BNC: Das mensagens que você recebeu, qual a mais te emocionou? Da Luiza Trajano, dona da Megazine Luiza e que comentou efusivamente no Instagram do Franca Basquete? Do seu pai, o mítido Helio Rubens Garcia?? O que te fez desabar após a conquista?
HELINHO: Olha, estou muito feliz com todas as mensagens que recebi. Passou quase uma semana e estou tentando responder a tudo o que recebi das pessoas. Foi muito carinho, um reconhecimento bem legal. Com certeza a do meu pai foi incrivelmente emocionante. Ele estava viajando, me ligou chorando e dizendo que foi fantástico. Disse uma série de coisas bacanas que me fizeram desabar de verdade. A da Luiza Helena é diferente e tem um viés do que te falei acima, do profissionalismo, do trabalho, da gestão. Ela sabe de tudo o que passamos aqui recentemente para montar não só o time, mas a estrutura do Franca Basquete, a nova estrutura. Hoje temos uma sede, um Centro de Treinamento, uma área de comunicação mais preparada, marketing atuante. Ela é muito parte disso e você sabe bem. Nós passamos por muitos problemas. A mensagem dela foi muito importante porque nos momentos mais difíceis ela sempre teve a sensibilidade de me dar dicas, apoio e palavras de carinho por saber que nem sempre os resultados vêm rápido. Todos remando pro mesmo lado, isso é o mais importante. Ela é um fenômeno, um gênio do Brasil, e fico feliz de ter podido dar esse presente a ela e a toda torcida francana.

Divulgação: Franca Basquete

BNC: Em Franca, você sabe bem, não tem essa de comemorar muito. Agora foco no NBB e Sul-Americana. O título paulista dá mais confiança ou pressão pra seguir adiante?
HELINHO: Como diz o Phil Jackson, depois da última taça de champanhe já está na hora de pensar na próxima conquista. E eu levo essa filosofia par aminha vida, sabe. Tenho certeza que este é um grupo focado, humilde, mas que sabe de seu potencial. Eles sabem da importância de ganhar, mas principalmente de estar fazendo bem feito, da maneira correta, da maneira que treinamos e pensamos. Meu pai sempre me dizia: "Não é ganhar ou perde, mas trabalhar de forma correta. Não é em Franca, mas em todos os lugares". Em Franca ainda mais por causa da história, da cultura, da identidade local. E isso é uma coisa que por aqui não se abrir mão. Em nenhum lugar na verdade, ainda mais aqui. Certeza que o grupo entende isso, comemorou o Paulista e já está focado no NBB e na Liga Sul-Americana. Contamos com a volta do pivô Rafael Hettsheimeir, lesionado há um mês, para nos dar ainda mais força. Este grupo é vitorioso e sensacional.

BNC: Uma das críticas que se faz a você é que, por ser muito novo de idade e na função de técnico, muitas vezes seu comportamento é meio "boleiro", meio jogador. Isso incomoda? O quanto o revés na temporada passada te fez crescer como profissional para se tornar alguém mais ciente das responsabilidades de técnico nesta temporada?
HELINHO: Bala, de verdade eu aprendi muito com o revés da temporada mas também aprendo muito com as vitórias. Sinto meu crescimento em todos os sentidos e não vou abrir mão de evoluir, não. O que posso te falar é que tenho estudado muito, trabalhado muito e estou fazendo coisas fora do basquete também. Estou com um trabalho de mentoring, uma espécie de trabalho de coaching com um cara espetacular da Universidade de Goiânia, o Heitor. Isso tem me ajudado muito. A cada dia que passa tenho procurado crescer em todos os sentidos. Tenho muitos defeitos, mas tenho uma autocrítica muito forte de saber o que estou fazendo bem e onde preciso melhorar. A partir disso vou trabalhando para corrigir os meus problemas. Tenho total noção e ter vivido 30 anos na quadra ao lado do me pai me mostraram isso também. Estou feliz com meu espaço atual e vou continuar conquistando ao lado da multidisciplinar comissão técnica de Franca. Eles foram importantíssimos neste título também.

Divulgação: Franca Basquete

BNC: Além dos nomes, de longe me parece que este elenco é mais focado, unido, que o da temporada passada? Sem fazer crítica a nada e nem ninguém, poderia falar mais do grupo da temporada atual? Meu raciocínio procede ou não tem nenhuma relação?
HELINHO: Esse grupo é extremamente comprometido com o trabalho e que aceitaram e assumiram a responsabilidade de jogar na capital do basquete. Por isso existem obrigações que devem ser cumpridas, coisas a fazer. São todos jovens, mas muito maduros e sabem que têm que trabalhar muito, zelar por esse clima de união e alcançar os objetivos que temos pela frente. Essa galera que temos é bem especial e conseguimos pescar bem isso desde o momento das negociações para contratação. Fazer com que cada um cresça a cada dia é fundamental. Quero que todos saiam de cada treino podendo dizer que eles fizeram os companheiros deles melhores, mais competitivos. Assim todos crescem. Esse foco em evoluir, em querer crescer juntos, é o que me dá mais motivação para trabalhar. Todos têm muita alegria de fazer e jogar um pelo outro.

Sobre o blog

Por aqui você verá a análise crítica sobre tudo o que acontece no basquete mundial (NBB, NBA, seleções, Euroliga e feminino), entrevistas, vídeos, bate-papo e muito mais.