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Bala na Cesta

No W.O. de Ilhas Virgens, a hora da FIBA rever seu pífio modelo de eliminatórias

Fábio Balassiano

17/09/2018 06h00

Era pra ter sido mais uma noite de festa na Arena Goiânia. Tal qual aconteceu nos dois primeiros jogos das Eliminatórias da FIBA para a Copa do Mundo de 2019, o público local iria lotar o ginásio para acompanhar Brasil x Ilhas Virgens neste domingo às 21h. Iria.

Mas as Ilhas Virgens, alegando problemas burocráticos (não sabia que precisava de visto de trabalho…), não compareceram, o famoso W.O. foi aplicado e a seleção masculina ganhou o jogo pelo placar da lei (20-0) sem entrar em quadra (na real, da real, o time de Aleksandar Petrovic precisou ir a Arena Goiânia, fazer todo protocolo, ver que de fato o rival não compareceu e retornou pra casa com a vitória no bolso.

Que fique claro: a Confederação Brasileira tentou evitar o pior, pedindo ajuda até ao Itamaraty, mas não deu certo. A CBB, vejam só vocês, toda encalacrada com dívidas passadas, terá que agora se desdobrar pra reaver o dinheiro ao público e também conversar com os patrocinadores (frustrados, claro). Neste caso, coitada, a entidade nem tem culpa de nada. A FIBA irá pagar essa conta também?

Enfim, pode ser um texto "parte pelo todo", já que de fato o caso de W.O. das Ilhas Virgens é isolado e de um país cujos problemas financeiros / de organização são imensos, mas passou da hora da FIBA rever seu modelo pífio de eliminatórias para a Copa do Mundo de 2019. Desde sempre fui contra este tipo de regulamento (só ir no buscador do blog), apontando inúmeros problemas que só mesmo os carolas não querem (ou não podem) enxergar.

Primeiro porque tira o campeonato mundial de quatro em quatro anos por um medo bobo de concorrência do futebol, depois porque a ideia de aproximar os times nacionais do público local é tão falaciosa quanto enfadonha e por fim porque basquete, queridos, é mata-mata, e não procissão igual eliminatórias de futebol. São esportes completamente diferentes, realidades distintas, popularidades distintas. Saber se colocar em seu devido lugar é uma arte também.

Via de regra, pouquíssimas seleções nacionais contaram com seus principais atletas para "expor aos seus torcedores". Quando ocorreu, foi exceção e não regra. Na única que poderia ter contado, a última, foi… durante a Copa do Mundo de futebol – apelo zero, portanto. Noves fora a parte de entrosamento, que fica comprometida porque a cada janela o treinador precisa convocar e treinar 10/12 caras completamente diferentes, acho que o alto escalão da FIBA não pensou quão bizarro será o cenário para os treinadores de agora pra frente. Isso criará um mal estar entre técnicos e atletas em 2019 que não está no gibi. Querem ver um exemplo? Com quem Petrovic contará para a posição um? Yago, que jogou todas as partidas, ou Rauzlinho, que está na NBA e nunca pode ser liberado? Com quem a Espanha vai pra armação na China? Ricky Rubio, não liberado pelo mesmo Utah Jazz? Erro de visão banal ao meu ver. E a França, vai colocar Gobert para jogar mesmo sem ter atuado em nenhum minuto das eliminatórias?

Outro ponto bizarro é o seguinte: alguém já parou pra pensar como ficam as competições continentais? Qual o valor, agora, da Copa América, que sempre acontecia de dois em dois anos? E o EuroBasket, clássico e alucinante torneio realizado com as maiores potências do velho mundo?

Se havia algo que funcionava no mundo FIBA era a "escadinha" do calendário. Sul-Americano em um ano, Copa América Pré-Mundial em outro, Mundial no seguinte. Sul-Americano, Copa América Pré-Olímpico e Olimpíada na sequência. Era difícil manter? A Federação Internacional olhou o pote de ouro, olhou pro dinheiro, pro controle (dela) da situação e esqueceu que pra isso é necessário uma coisinha também bem básica – alinhamento com TODOS os stakeholders (Confederações, Clubes, Atletas, Ligas, imprensa, árbitros, técnicos etc.). De que adianta você ter uma Espanha jogando contra a França se na quadra não estarão Ricky Rubio, Sergio Llull, Sergio Rodriguez, Nicolas Batum, Rudy Gobert, entre outros? Qual a serventia de ter um Brasil x Canadá em dezembro sem TODOS os melhores atletas de NBA e Europa? Vale mesmo?

Acho que está claro o que penso: a Federação Internacional, na figura de seu presidente, o argentino Horacio Muratore (foto acima), precisa rever urgentemente seu modelo de eliminatórias pra Copa do Mundo. Reconhecer rápido que não deu certo, e nunca dará, é um acerto e não um erro. Quanto mais postergar, pior. Pior pra atletas, federações locais, clubes, Euroliga, com quem a FIBA trava uma guerra louca e que não tão cedo vencerá, e sobretudo para o público, que fica sujeito a chuvas, trovoadas e W.O.'s bizarros como o deste domingo em Goiânia.

Que termine a Olimpíada de 2020 e a Federação Internacional trate de voltar ao que sempre foi nos últimos anos, quando TODOS compreendiam seus papeis e responsabilidades (Federações, Atletas, Ligas, torcedores, imprensa etc.) para fazer do basquete algo maior.

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