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Bala na Cesta

Façam suas apostas, por Pedro Rodrigues

Fábio Balassiano

07/08/2018 14h00

* Pedro Rodrigues

Enquanto a semana foi calma nas trocas de jogadores e assinatura de agentes-livres na NBA, a última terça-feira, dia 31 de julho de 2018, começou a escrever o futuro imediato da NBA e da WNBA. Depois de meses de considerações e declarações favoráveis, o comissário Adam Silver anunciou o MGM Resorts International como parceiro oficial do acordo para apostas legalizadas da NBA e WNBA. Será o primeiro acordo do tipo para uma das grandes ligas esportivas americanas.

Para contextualizar a magnitude deste acordo vamos ter 3 enfoques.

1. Ponto positivo:

A NBA e a WNBA ganham uma fonte de receita que beira quase o infinito. No momento as apostas ficarão disponíveis somente nos Cassinos MGM localizados em diversos pontos do território Americano e em um App oficial que devido a legislação Americana funcionará somente nos estados de Nevada, Delaware e Nova Jersey. Quase um programa piloto ou uma prova de conceito da plataforma. E isso será por enquanto. A tendência a médio prazo será expandir até o momento que qualquer pessoa em qualquer lugar do mundo possa apostar durante na temporada regular, playoffs e Finais.

A NBA fornecerá os dados históricos e quase tempo real para a plataforma digital exclusiva do MGM e cada aposta será taxada, batizada de "taxa da integridade". De grão em grão, ou de aposta em aposta, a liga recebe este corte gerando uma receita que tem a possibilidade de equiparar com a famosa receita da televisão. Para a WNBA, uma liga que ainda patina em divulgação, será um fluxo de dinheiro que pode mudar o patamar da Liga. E para a NBA o ganho será um controle ainda maior de como quem, aonde e como terá acesso ao seu conteúdo.

2. Ponto disruptivo:

A aposta em si é um jogo de probabilidades. Quem tem a probalidade de conseguir alguma coisa ou algo e quanto vale esta ação. Para isso precisa-se de dados. Muitos dados. Dos mais simples como a percentagem que o jogador tem para arremesso de quadra até as mais complexas como a geração de um modelo estatístico com múltiplas fontes de dados para verificar a propensão de ganhar um jogo com um game winner com 0.1 segundo. A NBA possui uma competente ferramenta já disponível no site oficial para quem quiser começar a entender dados estatísticos esportivos de basquete. Mas a plataforma que alimentará as apostas, para que o projeto de certo, tem que "abrir a cortina" de vez dos movimentos de cada franquia, jogador, quadra, calendário, técnico e é claro a arbitragem. Isso faz com que a transparência na NBA precise ser absoluta todos os sentidos do jogo.

Será um ajuste aos GMs e técnicos que ainda utilizam táticas como de descansar jogadores em jogos importantes ou divulgar escalações 45 minutos antes das partidas. Sob pena da perda da confiança no sistema, os dados devem ser informados de forma clara e a tempo hábil da realização das apostas. Acredito que não teremos situações como nas últimas finais da NBA entre Cleveland Cavaliers e Golden State Warriors. O Cavs não informou no jogo 2 que LeBron James teve uma contusão no final do jogo 1. Só o fez no fim da série.

3. Ponto negativo:

Podemos ver o fim do jogo como conhecemos. Ou o surgimento de uma nova NBA aonde a pressão aumentará consideravelmente sobre os General Managers, Técnicos e jogadores. Se hoje as pessoas reclamam direto na rede social com jogadores sobre os pontos que perderam nos jogos Fantasy, imagina quantas menções a conta NBA terá quando um jogador não pegar aquele último rebote, fazer aquela cesta.

Qual será a reação das franquias? Como a parte psicológica dos jogadores ficará quando milhares ou milhões de usuários reclamarem que não conseguiram algo porque o jogador cometeu um erro ou pior porque fez uma cesta a mais e prejudicou a aposta? E como existe o plano de termos apostas dentro dos ginásios podemos ter situações que podem ser constrangedoras. Como em 2014 quando o Toronto Raptors recebeu uma petição para encerrar a promoção de uma franquia de pizza locais que dava um pedaço gratuito quando os Canadenses atingissem 100 pontos. A quantidade de vaias acabava atrapalhando mais os jogadores e técnicos do que ajudava.

Agora imagina em escala mundial! Outro ponto: cada vez mais informação será um bem valioso. Como se comportaram os staffs de jogadores, empregados das franquias e parentes? De novo não precisamos ir muito longe. Lembram do fiasco das contas do Twitter atribuídas ao GM do 76rs Bryan Colangelo? Como a Liga reagiria a quantidade de ações legais de jogadores que afirmam que teve influência no resultado a partir da divulgação destes episódios. E os jornalistas como ficam? Qual será o valor nas apostas de uma mensagem do über jornalista Adrian Wojnarowski? A popular Woj Bomb. E obviamente não podemos descartar o fator ético. O MGM Resorts tem parte da franquia da WNBA Las Vegas Aces. Estamos falando do clássico a "casa sempre ganha"? Ah sim, aonde ocorreu a Summer League da NBA? MGM Grand em Las Vegas. Parceiro acima de tudo, certo?

O desafio está lançado e em breve teremos os primeiros resultados. Vamos acompanhar com imenso interesse se o ganho financeiro será compatível com o esportivo.

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