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Bala na Cesta

A importância da paz selada entre Magic Johnson e Isiah Thomas - agora falta Michael Jordan

Fábio Balassiano

23/12/2017 06h00

O grande momento da semana no basquete aconteceu fora das quadras. Depois de mais de duas décadas sem se falarem, Magic Johnson e Isiah Thomas fizeram as pazes em um especial pra lá de espetacular produzido pela NBA TV no quadro chamado Players Only ("Só os jogadores", algo assim). O UOL publicou matéria grande sobre isso aqui, ó.

A frase de maior repercussão do programa foi: "Você é meu irmão. Deixe eu me desculpar com você se eu te machuquei. (Me desculpar) se não ficamos juntos. Deus é bom por nos juntar de novo", afirmou Magic, antes de os dois caírem no choro copiosamente.

Pra quem não lembra, Magic Johnson ficou revoltado da vida com Isiah porque pensou que o armador do Detroit Pistons, então seu melhor amigo em toda NBA, teria espalhado, algo que hoje sabe-se que não é verdade, que Magic seria gay ou bissexual quando do anúncio que o craque do Los Angeles Lakers contraiu o vírus HIV em 1991. O camisa 32 sentiu-se traído, não abraçado pelo excepcional armador do Detroit Pistons e cortou relações até a semana passada, quando os dois se reencontraram na Califórnia.

O impacto mais forte disso tudo foi a retirada de Isiah do Dream Team, que em 1992 foi campeão olímpico em Barcelona. Nenhum dos jogadores do elenco queria ter Isiah por perto, mas obviamente as vozes mais fortes daquele elenco eram Magic Johnson, Larry Bird e Michael Jordan.

Magic sentia-se traído e deixava claro isso para todos na USA Basketball, a confederação americana de basquete. Bird fazia-se de desentendido e dizia que por ele tanto fazia, mas obviamente as rusgas dos tempos de Pistons x Celtics ainda existia. E Michael Jordan, bem, MJ queria ver o diabo por perto mas não Thomas porque anos antes era o Detroit Pistons que fazia o então iniciante Michael comer poeira nos playoffs contra a franquia de Michigan. Com isso, o camisa 11 do Pistons ficou injustamente de fora do melhor time da história do basquete.

Na entrevista que ele deu a mim em 2015, suas palavras foram bem claras: "Sendo muito sincero: adorava competir contra Chicago e adorava competir contra Michael Jordan. E o jogo te leva a algumas vitórias memoráveis e a algumas derrotas torturantes. Não ter ido aos Jogos Olímpicos de Barcelona em 1992 me machucou demais, muito mesmo. Foi um momento de cortar o coração, que doeu bastante, um dos mais difíceis da minha carreira. Ao mesmo tempo, fiquei muito feliz que a medalha de ouro veio ao meu país. Queria muito ter estado lá, pois fiz parte daquela geração, mas como não estava eu só podia fazer uma coisa – torcer por eles. E foi o que eu fiz da minha casa", disse-me.

Sobre Isiah Thomas, vale a pena falar uma coisinha ou outra sobre um cara que hoje é muito menos lembrado do que merece. Vindo de uma família muito humilde de Chicago, Isiah ficou conhecido por ser o protagonista de um dos times mais lendários da NBA, os Bad-Boys do Detroit Pistons, aquela equipe que se fechou por um objetivo maior (ganhar títulos) jogando de uma maneira única, pesada e bem física.

A maneira não era bonitinha, tatibitate, fofa e por isso injustamente os feitos são menos valorizados do que deveriam. Por ser, digamos, o protagonista dos "personagens maldosos" da história (os gênios comportados Michael Jordan, Magic Johnson e Larry Bird eram os bonzinhos) os Pistons e seu craque maior não recebem tanto carinho assim. Tendo desprezado qualquer polimento de imagem, Isiah quase sempre é deixado de lado nas discussões dos melhores de todos os tempos – um erro absurdo. É o jeito dele, e nada disso deveria ser levado em consideração, porém.

Mas uma rápida olhada em Wikipedia, YouTube ou qualquer coisa que o valha desvendam o mistério. Isiah é um dos, no mínimo, 50 maiores jogadores a terem pisado em uma quadra de basquete. Foram partidas épicas, como aquela em que ele fez 25 pontos em um PERÍODO de final de NBA com o TORNOZELO TORCIDO na final de 1988, dois títulos (1989 e 1990), três finais com uma franquia que até então era patinho-feio na NBA, um MVP das finais (1990) e uma justa entrada no Hall da Fama em 2006.

Isiah é o maior ídolo da história do Detroit Pistons, um craque acima de qualquer suspeita e alguém que fazia de TUDO na quadra (marcava, pontuava, armava jogo, dava assistência etc.). Isso ninguém tira dele e torço muito para que as futuras gerações possam apreciar o que esse cara fazia pela sua equipe, olhando menos para narrativas midiáticas de bem contra o mal e mais para performances dele e sua classe atuando pelo Detroit.

Por fim, vale dizer que o tempo é o senhor da razão. Vamos ver, agora, se Michael Jordan, com quem Isiah travou duelos homéricos, rompe as rusgas do passado e abre brecha para um salutar reencontro de dois gênios do basquete. O esporte agradeceria, mas pra quem lê e leu um pouco sobre a história de Jordan eu acho bem improvável que isso aconteça.

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