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Bala na Cesta

Fala, Leitor: O contra-ataque do Leste na NBA, por Rafael Wüthrich

Fábio Balassiano

12/12/2017 13h00

* Por Rafael Wüthrich

Após 1/4 da temporada, temos um equilíbrio enorme, claros candidatos a MVP (LeBron James, Kyrie Irving e James Harden), boas surpresas e algumas decepções. Mas o que me traz aqui é o surpreendente equilíbrio desta NBA. Não só entre os times, mas entre as conferências. Há muito tempo o Leste não equilibrava tanto com o Oeste.

A começar pelo líder geral da NBA. Apurando as temporadas passadas, desde a temporada 2012-2013, quando o Miami Heat liderado por LeBron James (MVP daquele ano) e Dwayne Wade chegou a incríveis 80% de aproveitamento (levaria o título naquela temporada), um time do Leste não liderava a NBA. Posto este ocupado pelo tradicionalíssimo Boston Celtics nesta temporada.

Na data em que escrevo (08/12), os verdinhos lideram a NBA em vitórias (22) e aproveitamento (absurdos 84%), liderados por um Kyrie Irving desejando ser a estrela da companhia de um time azeitadíssimo pelo excelente Brad Stevens. Mas isso é a cereja do bolo. Indo mais abaixo, dentre as 8 melhores campanhas da liga, 4 são do Leste. Além dos óbvios Cavs (72% de aproveitamento e 4a melhor campanha), temos os surpreendentes Raptors (6a) e Pistons (8a) entre os 8 melhores.

Mas o mais incrível é que se olharmos para os 16 melhores, o Leste consegue colocar tantos times quanto o outrora poderoso Oeste, mas com campanhas melhores. Da 9a campanha à 13a, vem 4 times do Leste, na ordem: Indiana Pacers, 76ers, Bucks, e Wizards, para só então virem Portland, Denver, Jazz e Pelicans. Ou seja: se colocássemos os 16 melhores times da NBA independentemente de conferência, seriam campanhas 8 do Leste e 8 do Oeste.

Isso é muito significativo. Para efeitos de comparação, na temporada passada até tivemos 8 times de cada conferência entre os 16 melhores, mas a melhor campanha do Leste seria apenas a 4a no Oeste. Se fizéssemos Leste x Oeste com mandos de quadra para as campanhas melhores em colocações idênticas, apenas o 8o do Leste (Chicago) teria campanha melhor ou igual que seu par no Oeste (Portland). A temporada de 2014-2015 segue na mesma linha.

De 2000 -2001 até a temporada passada, somente em 2008 os times do Leste tiveram mais vitórias sobre os do Oeste que o contrário, quando a conferência Leste teve 51,3% de aproveitamento (231 vitórias x 219) em confrontos contra o Oeste. Há diversos estudos interessantes que mostram que na última década, sempre houve enorme disparidade entre as conferências, de tal modo que até se cogitava a mudança de método para a classificação aos playoffs.

As razões, amplamente discutidas na imprensa americana (vale a leitura deste excelente artigo no Vix), vão desde a mentalidade dos GMs do Leste acreditando na tese ultrapassada de uma estrela solitária que pode carregar um time (como tivemos Paul George em Indiana, e ainda temos Antentonkoupo em Milwalkee e John Wall em Washington) ou mesmo erros e gestões ultrapassadas e desastradas dos times do Leste em comparação com o Oeste (vejam a zona que fazem atualmente com o meu Chicago), o que acho a causa mais provável. No entanto, isso parece estar mudando.

Quando se olham os confrontos entre os times das conferências, hoje temos notória vantagem dos times do Leste. Olhando a tabela, são 77 vitórias do Leste contra 72 do Oeste, algo que não acontecia desde 2008, como vimos. É um aproveitamento de 51,8%, revertendo a tendência de uma década.

Quais as razões? Se por um lado tivemos argumentos vários que apostavam em uma lavada do Oeste, como a debandada de ainda mais talentos para o Oeste (Paul George, Paul Millsap, Jimmy Butler), o fortalecimento de franquias já fortes como os Rockets e os Warriors, e as reconstruções dos times do Leste, tendo a imprensa americana inclusive defendido há 2 temporadas a mudança das conferências, por outro nosso amado esporte mostra que ainda tem uma boa carga de imprevisibilidade que derruba os palpiteiros mais experimentados.

Particularmente vejo alguns fatores claros: boa parte dos trabalhos no Oeste estão desgastados e questionados, como nos casos de Doc Rivers no Clippers, de Alvin Gentry nos Pelicans e de Dave Jorger nos Kings; outros times estão num processo de profunda reconstrução, como o Dallas e o próprio Lakers; e há as gestões ridículas, como a do Memphis e a do próprio Suns, franquias que demitiram seus técnicos. Também coloco no bolo a alta decepção do OKC, que tem um trio de all stars, um ótimo técnico mas que não consegue dar liga, e os próprios Warriors, que não mudaram nada, até se reforçaram, mas jogam.um basquete altamente instável nessa temporada, com seus astros oscilando e extremamente nervosos com tudo e todos (Kevin Durant já foi expulso em 3 partidas nessa temporada por tretas com jogadores ou a arbitragem), algo estranho para um time que é o atual campeão.

Mas vejo também um renascimento do Leste. Noves fora meu triste Chicago, onde a terra está arrasada e colocaram o Mr. Magoo para dirigir o time, franquias que vinham claudicando ressurgiram nesta temporada, como o Detroit e o Indiana, que todos apostavam estar entre os 5 piores timea da NBA antes da liga começar. Também temos a esperada evolução dos Celtics com a chegada de Kyrie Irving, e a melhoria dos Raptors com a saída de jogadores que já não tinham o que entregar e a chegada de sangue novo.

Mas também devemos colocar na conta do esporte. Quem imaginaria uma temporada dessas antes da bola subir 3 meses atrás? É uma temporada surpreendente, afinal. Será que a liga voltará com Leste x Oeste no All Star Game em 2019?

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