Topo

Bala na Cesta

Preparador brasileiro explica lesões em série no começo da temporada da NBA

Fábio Balassiano

30/10/2017 06h20

Comentei aqui no blog na semana passada que a NBA vive uma onda imensa de lesões na temporada 2017/2018 neste começo de campeonato. Gordon Hayward, Jeremy Lin, Kawhi Leonard, Chris Paul, Myler Turner, Aaron Gordon e tantos outros já foram ao chão e ainda se recuperam de lesão (Lin e Hayward só retornam em 2018/2019, casos ainda piores).

Por isso o blog foi conversar com Ale Oliveira, brasileiro radicado nos Estados Unidos e reconhecido como um dos melhores profissionais do país há anos. Fisioterapeuta, Ale trabalhou no Atlanta Hawks e no Brooklyn Nets até a temporada passada, quando saiu da franquia para trabalhar na Geórgia como Diretor de Performance no Kovacs Institute, um dos mais renomados dos EUA. Ale falou sobre as lesões, prevenção, como o ritmo de jogo da NBA atual influencia nisso tudo e muito mais. Confiram.

BALA NA CESTA: A que você credita tantas lesões neste começo de temporada da NBA? Existe algum motivo que você possa citar ou é realmente coincidência?
ALE OLIVEIRA: É complicado de eu responder porque não estou convivendo com os atletas e nem com as franquias. Fica difícil pra falar, mas analisando as lesões é possível ver algumas coisas. Quando os jogadores vão ao solo normalmente o time médico se reúne pra entender como foi a lesão, o movimento, como estava projetado o corpo do atleta no momento em que o choque acontece, essas coisas. A saúde fisiológica do atleta influencia muito também, bem como a fadiga, o desgaste. Essas lesões que aconteceram nesta temporada, dá pra dizer que algumas foram obras do acaso, como a do Gordon Hayward. A força que ele produziu voltando ao solo depois do salto foi brutal. Acontece.

Outras, é possível ver que é fadiga, cansaço muscular mesmo. E isso tem muito a ver com a condição do atleta, que se desgasta muito, descansa pouco e se machuca. Hoje em dia os atletas se recuperam pouco, pois em alguns momentos pensam nos contratos novos, nas suas condições para o próximo campeonato e se esquecem que tão importante quanto treinar é deixar o corpo relaxado também. Às vezes muitos atletas treinam mum pouco a mais, causando um desgaste muscular que fazem com que os corpos fiquem um pouco mais fracos. E aí quando há essa força extrema causada as lesões acontecem. Na temporada passada, muitos atletas que estavam lesionados voltavam rápido demais. E isso causava lesões logo depois do retorno.

BNC: Muita gente pensa que os jogos sendo mais rápidos influencia no número de lesões. O quanto de verdade há nisso?
ALE OLIVEIRA: Influencia, influencia sim. Mas não só isso. Hoje em dia todos os esportes exigem muito mais do atleta. Você vê isso no basquete, no futebol, no baseball, em todos. Não só no jogo, mas também no treino. Um dos lugares onde mais acontece o desgaste é no treinamento, pode ter certeza. Além disso há viagens. O atleta está sendo muito exigido não só nos jogos, mas também nos treinos. Isso causa um desgaste, né? E aí sabe o que acontece? Aquele atleta que não começa o jogo 100% porque está desgastado devido aos treinos na hora que ele coloca o corpo dele em situações que ele não consegue controlar está mais propenso a lesões mesmo. O desgaste e a exigências são absurdos e influenciam nas lesões.

BNC: Como você acha que os times da NBA estão se preparando para evitar que mais e mais lesões aconteçam na temporada?
ALE OLIVEIRA: Os times têm investindo demais em prevenção a lesões. Muito investimento em ciências do esporte, em preparadores físicos, em tudo isso. A recuperação é muito ou tão importante quanto a preparação. Todos times da NBA hoje possuem um especialista de performance que analisa tudo, tudo mesmo. Essa parte de prevenção é fundamental e pode ter certeza que os norte-americanos são obcecados em relação a isso. Vai ter um progresso grande nisso, mas não de uma hora pra outra. Demora um pouco.

Mas tem um fator importante. Os técnicos precisam entender que ciência faz parte do esporte hoje em dia. Nem sempre dá pra treinar e jogar a 100% como eles desejam. Então um dia a mais de descanso, uma folga, um treino a menos, podem ser importantes. A comissão técnica, hoje, deve estar acoplada a comissão médica para as tomadas de decisão. Os preparadores físicos e os técnicos devem trabalhar em um só grupo. Cada atleta tem uma necessidade diferente, exige um jeito, vai fazer a performance de um jeito diferente. Então as preparações, os treinos e as recuperações são diferentes. A NBA, por sua vez, tem tentado arrumar o calendário. Ela está tentando ajudar para melhorar a performance dos atletas. Os atletas também têm investido muito nisso. Eles procuram os centros atléticos para melhorar seus corpos, suas performances, o balanço de suas musculaturas, essas coisas.

BNC: Para o fã de basquete brasileiro, como seria um método de prevenção possível para evitar que mais lesões ocorram?
ALE OLIVEIRA: O melhor jeito para prevenir é trazer a ciência do esporte para dentro do time e entender quais as diferenças e nuances que estão acontecendo. Precisa mudar um pouco o jeito de pensar, entender melhor o corpo humano. O profissional da área de saúde precisa se estudar, se atualizar em relação a ciência. O jeito que gosto de fazer é sempre fazer a análise do movimento do atleta, se possível com câmeras, isso dá um embasamento muito grande. Quanto mais ciência for utilizada, mais ajudará o dia a dia dos atletas e dos times. Tudo respeitando o tempo do atleta e a peculiaridade física de cada um. Durante o campeonato, a recuperação é fundamental, essencial mesmo para que a musculatura volte ao ritmo normal. É o jeito que eu trabalho com os atletas e como os times trabalham também. A tecnologia está crescendo muito e é possível monitorar o atleta em todas as áreas  – desde o suor até no sono. Isso dá uma ajuda tremenda e cabe a nós, profissionais, utilizar.

Sobre o blog

Por aqui você verá a análise crítica sobre tudo o que acontece no basquete mundial (NBB, NBA, seleções, Euroliga e feminino), entrevistas, vídeos, bate-papo e muito mais.