Topo

Bala na Cesta

Sem vaga no Pan, "frustrado" César Guidetti quer continuar como técnico da seleção masculina

Fábio Balassiano

26/09/2017 06h20

O estudioso técnico César Guidetti mede as palavras. Fala com calma, pausadamente, pensando e planejando os próximos passos. Exatamente como faz no dia a dia como treinador. Há três temporadas comandando o Pinheiros, ele levou a equipe a semifinal do NBB na temporada passada e foi convidado para ser o comandante da seleção brasileira na Copa América que terminou com a frustrante eliminação na primeira fase e a não classificação pro Pan-Americano de 2019.

O técnico conversou com o blog na semana passada sobre tudo. O começo da nova temporada com o Pinheiros, o sentimento após ter chegado à semifinal do NBB9, a expectativa para o NBB10, seleção brasileira e, claro, sobre o caso Bruno Caboclo. Confiram.

BALA NA CESTA: Como está sendo esse começo de temporada para o Pinheiros? O time está jogando o Paulista, e em menos de dois meses há o NBB.
CÉSAR GUIDETTI: Estamos começando. É bem gradativo. Optamos por jogar parte do Paulista com jogadores da base dando tempo de quadra e experiência a eles, até que os norte-americanos atinjam o auge de sua forma física. Além do Desmond Holloway e do Cordero Bennett chegou o Chris Ware, um pivô que irá nos ajudar. Pelo fato de chegarem depois necessitam de um tempo para se condicionarem. Temos uma preocupação com o Sul-Americano. A primeira fase logo na segunda semana de outubro no Uruguai (começa dia 11/10), e o trio estará no num melhor condicionamento no final de outubro, começo de novembro, que é quando se inicia o NBB.

BNC: Queria falar sobre o último NBB. Vocês surpreenderam a muita gente quando eliminaram o Vasco e sobretudo o Flamengo no mata-mata. Tiveram 2-0 na semifinal contra o Bauru, mas levaram a virada, terminando entre os quatro primeiros. Qual gosto ficou? Saboroso por ter eliminado gigantes ou amargo por ter visto a final tão perto? E quais as lições aprendidas pelo técnico César Guidetti na temporada passada?
GUIDETTI: Olha, Fica aquele sentimento de que a gente poderia ter chegado na final. Isso é certo. Como você lembrou, fizemos 2-0, tínhamos uma boa condição no jogo 3, quase , faltou pouco mas depois a série virou. O principal que ficou foi o gosto bom de o Pinheiros ter chegado a um nível de jogo igual ao dos melhores times do país. Não acontecia com o clube há alguns anos e nosso objetivo foi alcançado. Vencer e duelar contra gigantes como Flamengo, Vasco e Bauru foi fantástico.

Sobre a lição aprendida. Desde que assumi como técnico venho aprendendo e tirando algumas lições. Esse NBB9 serviu pra aprender que a participação do grupo é fundamental na evolução do dia a dia. As conversas, os treinamentos, sentir as necessidades, escutar o que eles têm a sugerir, trocas de experiências, ser flexível e fazer constantes adaptações para enfrentar os adversários. Fizemos muito isso a temporada inteira, e nos playoffs isso se intensificou muito. O playoff é um torneio de tiro curto. Um dia você joga de uma maneira, em outro dia de outra. É tudo muito estudado. Aprendi muito sobre isso. Minha comissão técnica é muito ativa, estuda muito. Esse comprometimento nos levou a ficar entre os quatro melhores. Enquanto um assistente estuda o adversário outro estuda o nosso time e com essas informações planejamos treinamentos e jogos. Elaboramos estatísticas sobre de diferentes aspectos do jogo que nos auxiliam durante a temporada.

BNC: Qual a meta para o próximo NBB? Vocês chegaram entre os quatro primeiros e imagino que ficar novamente ali seja um objetivo do grupo.
GUIDETTI: No NBB 9 a meta era ficar entre os 5 e isso foi alcançado. No NBB10 as equipes se reformularam e fica difícil fazer um prognóstico mas a expectativa é de continuar jogando no mesmo nível e consequentemente lutar pelas primeiras posições.

BNC: Mudando um pouco de assunto agora e falando sobre seleção brasileira. Você foi o técnico do time na Copa América na qual o Brasil não só não passou da primeira fase como tampouco conseguiu se classificar ao Pan-Americano, um feito negativo inédito. Passado um tempo, qual a sua análise da performance da equipe?
GUIDETTI: Entre convocação, preparação e competição foram aproximadamente 40 dias. Foi uma seleção com muitos jovens, e nesse período tentamos fazer com que eles rendessem como rendem em seus clubes. Dependíamos, também, do que iriamos encontrar lá na Copa América. O México veio com time experiente. Porto rico com uma geração de jovens de muito potencial e a Colômbia com alguns destaques individuais. Chegamos sabendo dos riscos e dificuldades, mas com expectativa de classificar pro Pan e passar de fase.

Vencemos com pequena diferença na estreia a Colômbia. O jogo contra o México era decisivo mas não fomos bem principalmente no segundo tempo e fomos derrotados por um bom time que teve méritos e chegou na semifinal. O saldo importava e acabou nos complicando. Contra Porto Rico era vencer ou vencer. Fizemos um jogo equilibrado. Tivemos chances de passar na frente do placar mas faltou um pouco de tranquilidade, e isso é compreensível nesse momento de renovação. Numa renovação ocorrem oscilações de rendimento e infelizmente não classificamos. No final das contas, te digo que não alcançar o objetivo foi frustrante. O basquete brasileiro tem tradição em Pan-Americanos. A gente está vivendo os 30 anos da conquista de 1987 e tudo o que ela representa. Todos estavam focados em classificar para Pan de 2019 e quando você não consegue alcançar vem essa frustração, um sentimento complicado.

BNC: E sobre seu trabalho em si, qual a avaliação que você faz?
GUIDETTI: Foi uma experiência importante como treinador. Os resultados são muito importantes na carreira do técnico, sei disso, e agora tenho que superar, aceitar e virar a página. Quando não se alcança o resultado esperado, o objetivo, logicamente que não existe uma satisfação. Fiz o que podia fazer de melhor naquele momento, o apoio foi total, mas a partir do momento em que não se chega onde se quer eu falo sem medo: não fiquei satisfeito com meu trabalho. Avaliar depois é fácil, apontar erros também. Mas a principal virtude é dar soluções no momento, no ato, no calor da situação. Na minha opinião isso faltou. Sou muito crítico e me cobro muito. Depois que terminou a Copa América, fiz o relatório pra CBB e lá uma análise mais profunda foi feita e passada.

BNC: Você espera continuar como técnico? Há jogos de eliminatórias ainda neste ano. O que lhe foi passado?
GUIDETTI: Olha, Fábio, a princípio continua tudo como estava. Eu tive algumas conversas pós-competição e está tudo como terminou. Não houve nenhum outro tipo de conversa, ou de sair ou de ficar. O que tenho conversado indica a continuidade. Então a expectativa é ficar pra eliminatória que é uma situação diferente devido a essa mudança no formato. É uma situação nova para todos países. Antes era uma competição única, período único. Agora, em etapas. É um desafio. Saber com quem poderemos contar, quem não poderá vir, quanto tempo de treino teremos, essas coisas. A seleção será formada por jogadores liberados por suas equipes e respectivas ligas e teremos que nos adaptar a isso.

BNC: É inevitável falar sobre o Bruno Caboclo. Como você viu aquele lance de ele não retornar à quadra? Não foi a primeira vez que você viu isso de perto, né? Você era assistente do Paulo Bassul em 2008 quando a Iziane também se negou…
CABOCLO: Exato, estava em Madri com o Bassul em 2008, mas era uma situação bem diferente. A Iziane era experiente em seleções brasileiras e Bruno, um jovem começando. Enfim. Quando o Bruno jogou no Pinheiros eu era assistente técnico e dei vários treinos pra ele. Na seleção a gente conviveu bem também. Foi uma situação inesperada. O jogador se recusar a entrar em uma partida de seleção brasileira pegou a todos de surpresa. A primeira impressão que tive foi de vê-lo cabisbaixo, triste, incomodado com algo. Perguntei se estava tudo bem e o resto vocês já sabem. Ali foi o nosso penúltimo contato. No intervalo, ele não queria falar. Ali foi a última vez que o vi e conversei. Ele só dizia que ia embora. Ele teve uma reação, tentamos convencê-lo mudar de ideia e nada. Ele disse que não iria entrar e que queria ir embora. Foi bem complicado e ele foi dispensado. Bruno é um jogador em formação. Acredito que seja um momento da carreira que ele tenha que dar um passo importante para reverter essa situação. Torço para que ele amadureça, que entenda o que fez, a importância de vestir a camisa da seleção e que ele busque o espaço novamente.

BNC: Fica alguma tristeza no gestor César Guidetti quando há um comandado fazer uma coisa assim? Digo: a culpa não é sua, mas em algum momento bateu uma frustração de ver um membro do seu time ter uma atitude tão feia quanto a do Caboclo?
GUIDETTI: Entendo perfeitamente a sua colocação. Cara, quando tenho culpa eu assumo, quando erro falo sem problema algum. Como fiz nesse papo aqui. Mas sinceramente neste caso específico do Bruno não ficou nenhum tipo de dúvida na minha cabeça porque eu tenho certeza que fiz tudo de uma maneira muito especial. Conheço ele, sei da personalidade dele. Ele é na dele, introspectivo. É um jogador que eu sabia como lidar porque já fazia isso no Pinheiros. Como gestor, algumas coisas a gente tem controle. Em outras, não. Não entendi o motivo pelo qual ele fez isso mas aconteceu e temos que virar a página, seguir trabalhando.

Sobre o blog

Por aqui você verá a análise crítica sobre tudo o que acontece no basquete mundial (NBB, NBA, seleções, Euroliga e feminino), entrevistas, vídeos, bate-papo e muito mais.