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Bala na Cesta

Após vice da Copa América, dá pra dizer que Argentina se mantém na frente do Brasil?

Fábio Balassiano

04/09/2017 06h20

Terminou ontem a Copa América. E terminou sem festa para os donos da casa. Em Córdoba, a Argentina jogou muita bola no primeiro tempo, fez 42-27, mas viu os Estados Unidos reagirem no segundo tempo (53-34) para virarem o jogo e venerem a decisão por 81-76.

Noves fora o resultado final da competição, a grande questão, neste momento, é tentar entender um pouco sobre o momento em que estão os eternos rivais Brasil e Argentina neste ano de 2017 e projetar para os próximos anos. Os hermanos foram vice-campeões com um elenco pra lá de renovado. Os brasileiros, eliminados na primeira fase e fora do Pan-Americano. Os argentinos, então, estão na frente nesta corrida de elencos mais jovens que os que foram ao Rio-2016, é isso mesmo? Sei não… Vamos lá.

Muito por conta da situação degradante deixada pelo antigo presidente Carlos Nunes para Guy Peixoto, seu sucessor na CBB, o cenário da seleção brasileira precisa ser todo recriado, pavimentado, planejado não do zero, mas do estágio menos 50. Nunes merece aplausos, porque o estrago que ele conseguiu deixar na Confederação Brasileira é digno de prêmio. Guy tem um trabalho descomunal pela frente para corrigir as imperfeições nunescas e para dar condições de trabalho para a comissão técnica e atletas neste próximo ciclo olímpico. Não é nada fácil, obviamente, e a Copa América mostrou que há muita coisa para melhorar (ou quase tudo).

A Argentina, por sua vez, não tem nada a ver com isso e deu as chaves da renovação primeiro nas mãos de Julio Lamas e depois para Sergio Hernandez, o técnico vice-campeão desta Copa América. São dois dos melhores técnicos do país há muito tempo. Ambos são experientes, com estofo, com bagagem pra guiar jovens a um lugar ao sol. Na concepção deles, e com a qual concordo, não dá pra colocar atletas sem rodagem com um comandante também sem rodagem. Os platenses preferiram mãos calejadas para guiar o ônibus de calouros em competições internacionais. É uma sábia decisão ao meu ver.

Dentro de quadra, a Argentina apresentou os jovens Luca Vildoza (22 anos), o excelente Nicolas Brussino (24), Maximo Fjellerup (19), Marco Delia (25), Gabriel Deck (22), Lucio Redivo (23), Patricio Garino (24), Javier Saiz (23) e Tayavek Gallizzi (24). Os nove atletas com 25 ou menos anos tiveram o suporte dos experientes Nicolas Laprovittola (27), Facundo Campazzo (sensacional aos 26 anos) e Luis Scola (interminável aos 37, mal jogou mas estava lá para apoiar a molecada).

O começo dos mais jovens lembra o da geração dourada que ganhou a Olimpíada em Atenas em 2004. Não pelo talento, mas pelo fato de quase todos eles estarem saindo para jogar na Europa ou NBA agora. Redivo tem contrato com o Bilbao Basket (Espanha). Garino e Vildoza, com o Baskonia (Espanha também). Delia, com o Mucia (Espanha). Brussino foi para o Atlanta Hawks (NBA).

De todo modo, vale dizer que tirando Campazzo nenhum deles está pronto (prontinho!) para o grande jogo das competições internacionais Classe A da FIBA (Mundial e Olimpíada). Se perderam em casa para um time de oitavo escalão dos EUA, imaginem o que seria enfrentar Espanha, Sérvia, Austrália, França, todos completos e com atletas brilhando em NBA e Europa. Desculpem, mas os hermanos ainda não estão em condições para tal (e isso não é uma crítica, uma diminuição de seus talentos, mas sim uma constatação).

E vale lembrar: com exceção de Scola, que a gente sabe que jogará com sua seleção até os 654 anos, o que se viu na Copa América é realmente o melhor que os argentinos têm para colocar em quadra. A perspectiva, em caso de desenvolvimento de atletas muito inteligentes e com fundamentos muito bem treinados, é ótima, mas a realidade pede cautela.

No lado brasileiro ainda dá pra esperar um pouco de Huertas, Anderson, Leandrinho, Nenê (todos estes com 34 anos) e sobretudo de Tiago Splitter (32) em relação aos experientes. Na nova safra há Raulzinho (25), Cristiano Felício (25), Augusto Lima (25), Vitor Benite (27), Georginho (21), Leo Meindl (24), Lucas Mariano (23), Rafa Luz (25), Bruno Caboclo (21), Ricardo Fischer (26), Lucas Dias (21), Lucas Bebê (25), Felipe dos Anjos (19 anos e no Real Madrid) e muitos outros.

Digamos que não é um cenário tão animador quanto aquele do começo da geração passada (com os agora experientes atletas citados no parágrafo anterior), mas há valores que se forem bem trabalhados podem vir a ser grandes jogadores de seleção ao meu ver. A única grande diferença que vejo é a que os brasileiros poderiam estar fazendo o caminho que os jovens argentinos estão tentando agora, ou seja, pegar o aeroporto para jogar na Europa. Pode ser um bom acelerador para seus desenvolvimentos. Vai depender, como disse e repito, de suas obsessões, de suas horas de treinamento, de seus desejos, de suas vontades.

Por fim, vale dizer que independente de valores individuais dos atletas o óbvio, o óbvio ululante mesmo, é: não há processo de renovação que dê certo sem planejamento, organização, um técnico excepcional, amistosos de alto nível e horas e horas de treino. Nisso a Argentina está na frente. Se igualar nessa parte organizacional creio que, e posso estar sendo otimista, na parte técnica os brasileiros podem ir longe nos próximos anos também.

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