Topo

Bala na Cesta

Após vexames na Copa América, a pergunta: qual o plano para resgatar o basquete brasileiro da lama?

Fábio Balassiano

28/08/2017 06h20

Como você sabe, acabou ontem o período de seleções para o basquete nacional em 2017. E com dois vexames. A seleção feminina não se classificou ao Mundial de 2018 (primeira vez que isso acontece desde 1959) e a masculina foi eliminada na primeira fase ao perder de México e Porto Rico (corre o risco, ainda, de não jogar o Pan-Americano de 2019 pela primeira vez). Tudo isso já seria horrível se não fosse uma coisinha ainda pior – ninguém por aqui sabe qual é realmente o plano da Confederação Brasileira para tirar o basquete da lama.

abordei este tema anteriormente e retorno a ele. Não estou aqui para tangibilizar o tamanho da culpa do novo presidente Guy Peixoto nos mais recentes vexames das seleções adultas masculina e feminina nas respectivas competições. Acho, sim, que ele tem uma parcela de responsabilidade, mas obviamente menor que a de seus antecessores Carlos Nunes e Grego. Isso é um fato cristalino e todos concordam.

O outro lado da moeda é que Guy Peixoto e seus diretores sabiam exatamente (ou minimamente) onde estavam pisando quando começaram a articular a candidatura para a presidência da CBB. Era, desde sempre, uma Confederação em crise (de identidade, financeira, de credibilidade etc.). E suspensa. Por isso entendo fortemente que os primeiros meses de Guy foram atribulados porque ele precisava tirar a suspensão da FIBA, colocar as duas seleções pra jogar, fechar o contrato do Centro de Treinamento, viabilidade verbas e muito mais. Não era fácil a missão, eu compreendo isso.

O lance todo é que a partir de hoje, dia 27 de agosto, o novo mandatário da entidade máxima precisará apresentar no barato do barato um planejamento estratégico para retirar o basquete brasileiro da lama. Sem mais competições adultas até no mínimo novembro de 2017 (eliminatórias masculinas pra Copa do Mundo de 2019), o presidente precisa mostrar o que ele tem de melhor em sua trajetória profissional – seu lado estratégico. O lado estratégico para seleções adultas, seleções de base, campeonatos de base, capacitação de árbitros, geração de receita com patrocinadores, área de marketing, mudança do departamento de comunicação, relação com a Federação Internacional, com Federações Estaduais e muito mais.

No macro ele tem um plano para mostrar. No micro, é mostrar como este plano está dividido em diferentes caixinhas. Espero que cabeças mais arejadas, e não algumas atrasadas que temos visto dando as cartas na Confederação neste novo mandato, sejam colocadas para trabalhar. Do contrário, dá pra dizer que não podemos esperar resultados diferentes (e bons) fazendo a mesma coisa que se fazia nos últimos 20 anos.

Entrando um pouco no ramo das seleções. O que será feita da adulta feminina? Ano que vem não temos Mundial para elas, mas há Sul-Americano. Quem vai jogar? As jovens? Serão alçadas às feras novamente? Jogarão amistosos contra times de alto nível, ou Angolas ou Camarões da vida? Participarão de clínicas, jogarão a LBF ou serão monitoradas pela CBB? E a masculina, vai jogar as eliminatórias para a Copa do Mundo de 2019 com que atletas? Quem será o técnico? Os atletas da NBA não serão mesmo liberados, certo? E os da Europa, conseguirão vir? São dúvidas que eu desconfio que nem o pessoal da Confederação saiba responder. Espero estar enganado, mas não creio que o pessoal da entidade máxima saiba.

Dei a ideia da vez passada de ele montar uma matriz de responsabilidade, colocando todas as esferas necessárias em uma sala e definindo autores e atividades para que o esporte saia da lama. Nem precisa ser isso, não. Precisa, mesmo, que alguém divulgue, ou implemente, um planejamento estratégico de longo prazo para o basquete brasileiro. E que envolva Ligas, Técnicos, Atletas, Árbitros, Clubes e Federações nisso.

Insisto em um ponto central da discussão: o basquete brasileiro NUNCA será 100% forte se TODOS os segmentos não estiverem remando para o mesmo lado, algo que não acontece nos dias atuais. Em suas salas, em suas trincheiras, cada um acha que fazendo a sua pequena parte já estará de bom tamanho para o seu produto ser melhor. Ledo engano. Não há basquete forte com ligas fortes e seleções fracas. Não há esporte sustentável com seleção forte e clubes quebrados. Achar que um e outro podem caminhar sozinhos é um erro.

Guy Peixoto precisa liderar esse diálogo e apresentar urgentemente um plano para retirar o basquete na lama, exata e realmente no lugar em que o basquete se encontra depois de mais uma vez pagar um mico colossal em Copa América.

Terminaria este texto dizendo que pior do que está não fica, mas a capacidade de se colocar cada vez mais pra baixo no fundo do poço é algo que o basquete tem mostrado que só ele é capaz de fazer. Vamos ver se, a partir de agora, há uma mínima capacidade de reação. Todos esperamos por isso.

Sobre o blog

Por aqui você verá a análise crítica sobre tudo o que acontece no basquete mundial (NBB, NBA, seleções, Euroliga e feminino), entrevistas, vídeos, bate-papo e muito mais.