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Bala na Cesta

Brasil estreava na Olimpíada masculina há um ano - o que deu errado pro time ser eliminado na 1ª fase?

Fábio Balassiano

07/08/2017 06h10

Há exatamente um ano a seleção brasileira masculina estreava na Olimpíada do Rio de Janeiro. Naquele 7 de agosto de 2016 o time de Rubén Magnano enfrentou a Lituânia na Arena Carioca I, saiu perdendo de 58-29 no primeiro tempo, reagiu no segundo, mas no final acabou derrotado por 82-76 (meu relato dia aqui).

Como todos já sabem, a campanha da equipe foi de apenas 2 triunfos em cinco partidas (Espanha e Nigéria nas vitórias, Lituânia, Croácia e Argentina nas derrotas), levando a uma vexatória eliminação na primeira fase. Passados 12 meses, será que dá pra colocarmos as coisas em perspectiva para mostrar o que deu tanto deu errado? Vamos tentar.

1) Começos ruins -> Em quatro dos cinco jogos da primeira fase o Brasil saiu perdendo. Contra Lituânia, Croácia, Argentina e até a fraquíssima Nigéria a seleção masculina saiu atrás. Para um time que sempre viveu em frangalhos psicologicamente, conviver tão de perto com o pânico desde o primeiro minuto não era um bom sinal. O saldo de todos os períodos iniciais foi de -17 pontos.

2) Foco na medalha, não na primeira fase -> Este tema foi abordado também por Vitor Benite na já histórica entrevista dada por ele ao Podcast Bala na Cesta (ouça aqui). Desde o começo da preparação da seleção masculina jogadores e comissão técnica só falavam em medalha, medalha e medalha. O foco na primeira fase ficou em segundo plano mesmo diante de rivais fortíssimos como Lituânia, Argentina, Espanha e Croácia.

Um bom exemplo disso é o primeiro tempo do jogo de estreia, o da largada, o da carta de apresentações para o mundo. O Brasil mostrou quão instável seria durante toda a Olimpíada logo naquele 7 de agosto. Diante de um time muito bom, viu a Lituânia pisar no acelerador para pavimentar a sua vitória com os 58-29 da primeira etapa.

3) Rubén Magnano -> Técnicos não jogam, e muito embora alguns dos grandes erros do Brasil nas Olimpíadas tenham sido individuais, era Rubén Magnano quem escalava e treinava os indivíduos daquele grupo que estava no Rio de Janeiro para os Jogos Olímpicos. Magnano foi mal durante quase toda a sua gestão na seleção masculina, mas salvou o seu pior de seus sete anos de governor para a Olimpíada.

O treinador errou em absolutamente tudo: nas declarações, na postura arrogante, nas substituições, nas marcações equivocadas (como quando começou com Nenê marcando a Andres Nocioni contra a Argentina – é sério!), no esquecimento de atletas de bom rendimento no banco (Benite e Giovannoni em duelos contra Croácia e Argentina, por exemplo) e na forma travada e franciscana com a qual a equipe nacional jogou diante de sua torcida. Times muito bons às vezes conseguem sobreviver sem um excepcional técnico para ir longe (exemplos não faltam disso!). Um time que precisa subir de nível, porém, necessita que o técnico o coloque em posição de vencer. Não foi o que Magnano conseguiu no Rio-2016.

4) Senso de urgência -> Lembro que antes do jogo contra a Croácia, o terceiro da primeira fase (antes, derrota contra a Lituânia e vitória agônica contra a Espanha), falei com um membro da equipe brasileira e disse: "Rapaz, esse jogo aí é o mais importante da vida de vocês. Eu faria de tudo para não enfrentar a Argentina no vida ou morte". E ouvi o seguinte: "É difícil não pensar nos hermanos desde agora". Deu no que deu. O senso de urgência contra os croatas beirou a zero, o Brasil foi para o intervalo perdendo de 10 pontos, viu Bojan Bogdanovic pegar fogo com 33 pontos e foi derrotado por um time não mais que bom por 80-76. De novo o time iniciou mal o duelo, correu atrás durante os 20 minutos derradeiro, tentou um "sprint" final (26-21 no quarto período), mas não deu certo.

5)Lances-livres e Bolas de três pontos -> O basquete atual é dividido em algumas vertentes, né? As bolas de três, por exemplo, exercem uma importância absurda no sucesso das grandes equipes. Está aí o Golden State Warriors que não me deixa mentir. Quem as converte com maestria sai na frente e quase sempre termina na frente. Na Olimpíada o Brasil converteu apenas 29% de suas tentativas de fora. Teve o terceiro pior aproveitamento de toda competição. Sabem quem ficou em primeiro e segundo no quesito? EUA e Espanha, que ficaram respectivamente com ouro e bronze nos Jogos. Nos lances-livres o cenário foi parecido. Entre os atletas que tiveram mais de 10 chutes tentados do perímetro, apenas Vitor Benite passou dos 35% de aproveitamento (com 7/16, ele saiu-se com ótimos 43%). Benite jogou 65 minutos em TODA Olimpíada.

Com 73% o time de Magnano ficou também com o terceiro pior aproveitamento. Ou seja: nas bolas que valem mais (as de três pontos) e naquela em que não há marcação (no lance-livre) o time brasileiro foi muitíssimo mal.

Concorda comigo? O que mais faltou ao time de Rubén Magnano para ir longe no Rio-2016? Ah, o jogo contra a Argentina merece um post à parte, né? Merece, merece sim. Voltarei a ele em breve por aqui.

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