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Bala na Cesta

Uma história sobre Chris Bosh, que foi dispensado do Miami ontem e está oficialmente aposentado

Fábio Balassiano

05/07/2017 06h20

Na noite de ontem o Miami anunciou que dispensou Chris Bosh, atleta que há 2 temporadas não atua profissionalmente devido a uma embolia pulmonar. Ele está proibido de voltar às quadras por ordens médicas. Adicionalmente, a diretoria do Heat também informou que o número 1 de Bosh, 2X campeão com a franquia, será aposentado.

Grande jogador, 2X campeão da NBA, 4X finalista, All-Star e ídolo também em Toronto, Bosh também é conhecido por sua educação além do normal. Lembrei de uma história que vi ao vivo e conto abaixo.

O ano era 2014 e eu estava cobrindo o meu primeiro All-Star Game da NBA em Nova Orleans. Não sei se todos sabem como funciona o lance de entrevista coletiva em um evento assim, mas há "janelas" em que se pode falar com os astros. Às vezes de 20, 30 ou 40 minutos. Ficam todos em um mesmo espaço (uma sala, no vestiário etc.) e a imprensa se amontoa pra falar com as estrelas. Há uma foto meio bizarra minha quase que em cima de Kevin Durant em que estou sendo quase aniquilado por 5 microfones e câmeras.

Mas, bem, voltando. Bosh, certamente o menos midiático do Big3 de Miami nas janelas de entrevista de quinta a domingo e com quem já havia falado e tido ótima impressão dias antes, estava sentado na sala de entrevistas pós All-Star Game (no domingo, portanto). Os olhos estavam em LeBron James, Dwyane Wade, não me lembro em mais quem.

Mas lá estava ele. Sentado, atendendo a todos calmamente e ouvindo as recomendações da assessoria da NBA. "Faltam 10 minutos". "Faltam 5". Lá o cara é OBRIGADO a atender à imprensa durante o tempo pré-estabelecido. Pode ficar mais, se quiser, mas se sair antes paga multa (aquele cara da NFL, Lynch, não dava entrevista e pagava uma baba de multa anualmente).

Até que Chris ouviu a orientação de que faltavam 3 minutos, balançou a cabeça afirmativamente entendendo o recado e viu um grupo de uma TV chegando. Se arrumou na cadeira e ia começar a responder. Mas o repórter se enrolou no inglês. Não foi pouco não. Muito mesmo. Bosh perguntou de onde era o rapaz, que disse ser da Venezuela. Não sei exatamente qual a pátria-mãe de sua mulher, mas o jogador do Miami disse em espanhol que sua esposa era de origem latina e que teria toda calma do mundo para responder.

O repórter sorriu, mas todos ali ouviram a assessora da NBA gritar "it's over, guys" (acabou, meninos). O jornalista disse um "obrigado, Chris", o câmera desligou o equipamento, o produtor já estava se virando. Mas Bosh replicou: "estão indo aonde? Vocês não fizeram a entrevista comigo". No que o repórter disse: "acabou o tempo, ela disse. O erro foi nosso de não ter conseguido fazer a entrevista antes".

E aí Bosh saiu com uma frase animal que nunca me esqueci: "você não precisa se desculpar. Estou aqui pra te ouvir até a hora que for preciso. Entendo seu nervosismo e estou aqui pra te ajudar. Vou pegar uma água enquanto você religa o equipamento e já retorno pra te responder".

O venezuelano pulou de emoção, fez a sua entrevista de 15 minutos totalmente exclusiva e sem interrupção com Bosh. Eu estava ali editando meu material, fiquei feliz pacas de presenciar isso, mas não entendi direito quando vi o venezuelano saindo do ginásio com uma camisa número 1 do Miami nas mãos. Curioso, eu fui perguntar onde ele tinha comprado, já que não o vi com a vestimenta antes da entrevista. E aí o colega explicou.

Bosh não tinha ido pegar uma água. Foi pegar uma camisa de presente pro rapaz que, como quase todos nós, de vez em quando dá umas travadas em situações não muito recomendadas.

Grande Chris Bosh!

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