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Bala na Cesta

Como a manutenção do elenco do Warriors faz a franquia dar dinheiro para outros times na NBA

Fábio Balassiano

03/07/2017 06h00

O mercado de agentes-livres da NBA segue a todo vapor, as franquias estão trazendo seus reforços mas para o Golden State Warriors este verão americano só tinha um significado: renovar com as suas principais estrelas. E sem pensar no teto salarial da liga para 2017/2018.

Na própria sexta-feira a franquia anunciou as renovações de Shaun Livingston (US$ 24 milhões, 3 anos) e Steph Curry (US$ 200 milhões, 5 anos). No sábado à noite, o ala Andre Iguodala, cortejado homem que vem do banco de reservas para mudar o jogo todas as noites, anunciou que fica no Warriors por US$ 48 milhões e mais 3 anos. O mesmo ocorreu com o veterano ala-pivô David West.

Como a permanência de Kevin Durant é dada como certa (só pode ser anunciada em 7 de julho) e os contratos de Draymond Green e Klay Thompson só expiram em 2020 e 2019, respectivamente, todos os principais jogadores do Golden State ficarão continuarão no elenco. E por incrível que possa parecer isso fará com que os donos do time tenham que dar dinheiro aos rivais na próxima temporada. Sim, é isso mesmo.

De acordo com as regras da NBA, o teto salarial em 2017/2018 será de US$ 99 milhões para cada uma das 30 equipes. O limite que as franquias podem pagar é de US$ 119,2 milhões. Só que há uma regrinha bem clara neste sentido: para cada dólar acima dos US$ 119 milhões que um time despeja em salários para seus atletas, há uma multa a ser paga. E essa multa é dividida igualmente entre a parte operacional da liga (o escritório central em Nova Iorque fica com a metade para reinvestir como achar melhor) e os times que não pagam esta taxa (ver mais aqui).

De acordo com o especialista Bobby Marks, da ESPN americana, com a renovação de suas estrelas o Golden State já tem comprometidos mais de US$ 130 milhões em salários. Em uma projeção otimista e renovando pelo mínimo possível com os demais atletas necessários para contemplar os 15 jogadores obrigatoriamente sob contrato para o começo de uma temporada, o valor sobe para US$ 137 milhões. Com isso, só em multas a franquia pagará pouco mais de US$ 40,2 milhões. Ou seja, entre vencimentos para atletas e a multa há um total a ser pago de quase US$ 180 mi.

Atualmente, de acordo com o Hoopshype, 27 equipes estariam elegíveis a receber a metade do valor da taxa (US$ 20,1 milhões) do Warriors. Apenas Portland e Cleveland já passaram do valor máximo e estão na mesma situação. Como referência vale dizer que os novos salários de 2017/2018 (tanto de calouros como das novas contratações e renovações) ainda não estão contemplados no site, o que deve fazer a lista de franquias não aptas a receber a grana do Golden State aumentar.

O escritório central da NBA espera a formalização dos novos vencimentos até o começo da próxima temporada para começar a aplicar as sanções e informar ao Golden State para que times exatamente a sua bolada de no mínimo US$ 20 mi será fracionada.

E você acha que os donos da franquia Warriors estão preocupados com isso? Nada disso. O Golden State sabe exatamente o que está fazendo e a opção do grupo liderado pelo multibilionário Joe Lacob foi a de não medir esforços para manter o seu time vencendo e entre os melhores da NBA. Lacob sabe que pagar os melhores funcionários não é custo, mas sim investimento. Mesmo que para isso uma parte desse investimento seja em multas que vão para outras equipes.

Cinco dados interessantes mostram que Lacob está certíssimo nesta lógica:

1) Ele comprou o Golden State seis anos atrás por US$ 450 milhões. Hoje a equipe vale no mínimo US$ 2,6 bilhões. Em 2010, ano pré-compra por este novo grupo, a franquia era a 18ª que mais valia na NBA. Em 2017, a 3ª. Fica atrás apenas de Knicks (US$ 3,3 bi) e Lakers (US$ 3 bi), que mesmo mal das pernas em termos de resultados na quadra têm tradição e dominam mercados gigantescos (Nova Iorque e Los Angeles).

2) O Warriors chegou a três finais consecutivas da NBA pela primeira vez na história. Tudo indica que continuará reinando no Oeste por muitos e muitos anos;

3) Seu ginásio de quase 20 mil pessoas encheu exatamente em TODOS os jogos de 2016/2017. Na fase regular da competição, em 41 partidas, com tíquete médio de US$ 112 a renda ficou em US$ 2,1 milhões por noite e US$ 89 mi no total da temporada. Nos playoffs, 9 embates na Bay Area renderam mais US$ 67 milhões só em entradas para as partidas decisivas. Em uma soma simples, só em ingressos na Oracle Arena temos US$ 156 milhões. Sem aumentar nada o valor do ingresso para o campeonato que está por vir dá pra dizer que o montante já cobriria 87% de salários e multas para 2017/2018. Um fato interessante: a lista de espera para adquirir o carnê para toda temporada do Golden State possui mais de 32 mil pessoas atualmente. Não a toa o time está construindo um novo ginásio, previsto para ser inaugurado em 2019 em São Francisco, para quase 20 mil pessoas;

4) Falamos no ponto anterior de ingressos, mas esta obviamente não é a única fonte de receita das franquias da liga norte-americana Além dos contratos negociados coletivamente (TV's, marca de material esportivo, bebidas nos ginásios etc.), quanto mais forte a franquia é, maior a bagatela que ela consegue em apoios locais que são negociados individualmente e a partir de agora com patrocinadores que colocarão suas marcas diretamente na camisa dos times, algo até então inédito para a NBA. Vice-campeão, o Cavs conseguiu US$ 10 milhões anuais da Goodyear. É bem provável que o Warriors consiga fechar por mais que isso;

5) O número nunca é aberto para o público final, mas de acordo com estimativas da Revista Forbes a franquia Warriors teve de lucro líquido em 2016 de mais de US$ 100 milhões. É mais que claro que o investimento feito por Lacob e seu grupo seis anos atrás já foi pago. A ideia deles, claro, é continuar pisando forte no acelerador para multiplicar seus ganhos.

De acordo com projeções envolvendo os novos salários de Steph Curry e a possível manutenção do quinteto que envolve o magriça, Klay Thompson, Kevin Durant, Draymond Green e Andre Iguodala por no mínimo mais três anos a franquia estará pagando US$ 1,2 bilhão até 2021 entre salários para seus atletas e multas para ligas e times.

Enquanto estiver ganhando, aumentando o valor da franquia, enchendo ginásios, vendendo camisas aos borbotões e tendo lucro líquido ao final de cada temporada Joe Lacob e os demais donos do Warriors não estarão muito preocupados.

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