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Bala na Cesta

Técnico líder do NBB pelo Flamengo, José Neto fala pela primeira vez sobre seleção brasileira

Fábio Balassiano

30/03/2017 13h15

Atual tetracampeão do NBB, o Flamengo sacramentou nesta quarta-feira no ginásio do Tijuca, Rio de Janeiro, mais uma vez a primeira posição da fase de classificação do campeonato. Com uma atuação coletiva soberba, o rubro-negro fez 108-74 contra o Minas, chegou a 21 vitórias em 27 jogos e terá o mando de quadra até o final dos playoffs, onde buscará um inédito quinto título nacional consecutivo.

No final da partida conversei com o técnico José Neto sobre isso, mas também sobre os rumores que circulam no basquete brasileiro de que ele, assistente técnico da seleção há mais de uma década e multicampeão com o Flamengo, não será o técnico da seleção brasileira. O nome mais cogitado é o de Guerrinha, treinador de Mogi e que participou de forma ativa da campanha do recém-eleito presidente da Confederação Guy Peixoto. Foi a primeira vez que Neto falou sobre o tema.

BALA NA CESTA: Quão importante para o Flamengo é conseguir mais uma vez o mando de quadra nos playoffs do NBB? Nos últimos anos o seu time se acostumou a jogar quase sempre com o mando de quadra e tem ajudado na conquista dos títulos.
JOSÉ NETO: É importante, e o mérito total é deles, atletas. Eles compreenderam completamente a maneira de jogar, o nosso propósito, a metodologia. Esta temporada foi muito difícil pra gente. Tivemos novos atletas, lesões, problemas, mas a dignidade e o caráter que este elenco possui merecem ser exaltadas. Fico muito orgulhoso de fazer parte de um grupo de seres humanos tão especial. Estou contente porque precisávamos dessa vitória para atingir o primeiro lugar e estou muito feliz.

BNC: Neto, este é um assunto quase que inevitável. Recentemente começaram alguns rumores sobre o novo técnico da seleção brasileira e inacreditavelmente seu nome não tem sido nem cogitado. Não há nada confirmado, mas o barulho é grande e você sabe disso. Já escrevi que acho isso um absurdo, por tudo o que você tem feito, primeiro como assistente há mais de uma década na equipe nacional e sobretudo com conquistas relevantes no Flamengo, mas queria ouvir de você o seu sentimento em um momento como este.
NETO: Olha, Fábio, é a primeira vez que vou falar neste assunto, hein. Durante este tempo todo de seleção, desde 2004 até hoje como assistente, eu construí um patrimônio com o meu trabalho. Já é o terceiro presidente da CBB, já que antes do Guy Peixoto vieram o Grego e o Carlos Nunes, já passaram três técnicos, o Lula Ferreira, o Moncho Monsalve e depois o Rubén Magnano, e posso dizer que neste período todo eu construí muitas coisas com o meu trabalho. É por isso que fiquei este tempo todo na seleção. Só por isso e nada mais. Eu sou muito ruim de fazer política. Por isso invisto muito em construir o meu patrimônio única e exclusivamente através do meu trabalho, do meu dia a dia. Vai acontecer o que tiver que acontecer. Isso é uma coisa que não depende de mim, que não posso controlar. É uma coisa inclusive que eu falo muito com os jogadores: Vamos focar naquilo que depende da gente". Acho que fazer o melhor para o basquete brasileiro, seja na seleção ou seja no meu clube, é uma missão que eu tenho para retribuir a esta modalidade tudo aquilo que ela me deu. Estou bastante tranquilo quanto a isso. É uma decisão que vai ser tomada pelo bem do basquete brasileiro, tenho certeza disso. Então, tal qual aconteceu nas outras vezes em que o presidente da CBB mudou, eu não vou ficar me preocupando muito com isso. Preciso focar no meu trabalho com o meu clube, o Flamengo.

BNC: Neto, eu sei, mas é tudo um pouco diferente agora, não? Você está se preparando para assumir uma seleção brasileira há 12 anos, que como você disse é o tempo em que é assistente da equipe nacional, tem ganho tudo pelo Flamengo e é reconhecido por atletas, torcedores e crítica. É diferente das últimas vezes, não?
NETO: Olha, eu aprendi muito com os técnicos que passaram pela seleção e dos quais me orgulho de ter sido assistente. Com Lula, Moncho e depois com o Magnano. Aprendi muito com todos eles e o reflexo disso é o que está acontecendo com o Flamengo. Cheguei aqui muito contestado, como um treinador que nunca tinha tido uma conquista de expressão, e estamos dando resultado. Isso mostra um pouco da capacidade de armazenar aquilo que você vai aprendendo. Não só na seleção adulta, mas também na seleção de base, por onde passei. No clube trabalhei com atletas experiente, renomados, outros que estão na NBA (Cristiano Felício), campeão olímpico (Walter Herrmann), outros na Europa (Vitor Benite) e isso tudo vai dando uma bagagem para utilizar no momento certo. Meu foco é o Flamengo, Fábio. O dia que surgir a oportunidade de um dia ir para a seleção eu vou pensar com muito carinho.

BNC: Você já consegue relaxar em quadra, ou seja, aproveitar, apreciar o jogo? Ou como técnico, com o seu nível de exigência, isso é impossível?
NETO: É impossível. Tenho tentado ficar mais calmo, mas tranquilo, de forma alguma. Juro que eu tento, mas eu não consigo. Cada lance é importante. E eu cobro isso do jogador. Se eu cobro do cara que cada lance é importante, eu preciso mostrar isso para ele do lado de fora da quadra. Não dá pra ser relaxado em um lance e tenso em outro. Eu vivo cada momento intensamente. Preciso ter um pouco mais de controle, saber apreciar o jogo, mas isso é natural de quem quer vencer e conquistar cada vez mais com este clube.

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