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Bala na Cesta

Entrevista com o candidato a presidência da CBB Amarildo Rosa

Fábio Balassiano

08/03/2017 13h30

Como este blog faz desde a eleição de 2009, fui conversar com os candidatos a presidência da Confederação Brasileira de Basketball. O pleito acontece na sexta-feira, 10 de março, e por isso fui ouvir os dois elegíveis ao cargo máximo do basquete brasileiro. Amarildo Rosa ou Guy Peixoto assumirá uma entidade com R$ 17 milhões em dívida (número até o final de 2015), suspensa de competições internacionais e com credibilidade beirando a zero.

O primeiro a ser entrevistado é Amarildo Rosa (a ordem foi definida por sorteio). Há 12 anos como presidente da Federação do Paraná, o bacharel em teologia de 52 respondeu às mesmas 10 perguntas iniciais que seus oponente (Guy Peixoto estará aqui amanhã com sua visão) e duas (números 11 e 12) diferenciadas para ele.

EVENTO BALA NA CESTA EM SÃO PAULO – 27/03

BALA NA CESTA: Para quem não conhece o senhor, como o senhor se apresentaria para a comunidade do basquete? Quem é o candidato Amarildo Rosa?
AMARILDO ROSA: Fui Secretário de Esporte em São José dos Pinhais durante 12 anos da minha vida e também estou há 12 anos (1997 a 2008) à frente da Federação Paranaense. Nosso lema de trabalho sempre se baseou na gestão participativa, com espaço para atletas, árbitros, dirigentes e entidades opinarem e contribuírem. Com isso formamos uma família do basquete aqui no Paraná. Sempre aprendi que um gestor deve ser avaliado pelos resultados que obteve com seu trabalho, e aqui no Paraná tivemos conquistas importantes nesses anos: a descentralização dos eventos esportivos e promoção da modalidade em outros municípios, aumento significativo de competições e captação de recurso para o Basquete Paranaense com patrocinadores de renome nacional e internacional como Coca-Cola, Wilson, Unimed e Frigorífico Argus, o Programa de Desenvolvimento do Atleta, a Clínica Anual de Atualização e Reciclagem da Arbitragem, o Centro de Excelência do Basquete e o Sul Brasileiro de Seleções Sub-13 e Sub-14. Defendo também que o bom Gestor é aquele que permite a participação, mas sobretudo participa, está presente. Seja nos eventos, pessoalmente se reunindo com aqueles que se importam. Faz parte do seu trabalho e isso não pode ser delegado. Convido aqueles que ainda não conhecem o meu trabalho no Estado do Paraná que acessem nosso vídeo (aqui)  ou conversem com qualquer dos atletas, árbitros, técnicos ou patrocinadores da Federação do Paraná. Temos uma história de construção e experiência, nossas propostas não estão baseadas em "deduções".

BNC: O que leva alguém a querer assumir uma entidade que tem R$ 17 milhões de dívida, credibilidade zero e uma suspensão da FIBA a cumprir? Não é muita loucura?
AMARILDO: Dentro das devidas proporções eu assumi a Federação Paranaense em 2005 também com dívida, também sem credibilidade e sem estrutura. Conseguimos reverter e colocar o Basquete no Paraná onde está hoje. A nossa gestão conseguiu patrocínios do setor privado e a verba do Poder Público. Sempre recebemos o recurso destinado e nunca tivemos qualquer questionamento do Tribunal de Contas. Vejo a dívida da CBB, a falta de credibilidade e a suspensão como desafios. Na minha vida tudo veio sempre com muito trabalho e determinação. Para os desafios tenho muita motivação, determinação e experiência. E a minha motivação é poder fazer um bom trabalho e deixar um legado para o Basquete Brasileiro, assim como eu fiz no Paraná. Uma coisa é certa: o novo Presidente não poderá mais errar, não existe tempo para isso, seja nas decisões financeiras, seja nos relacionamentos com entidades como a FIBA. Loucura é recusar o acompanhamento da FIBA/COB/MINISTÉRIO DO ESPORTE neste momento tão delicado para o basquete brasileiro.

BNC: Você tem divulgado através das redes sociais um pouco sobre seu plano de governo, caso seja eleito. Quais são as prioridades do Governor Amarildo Rosa caso o senhor vença o pleito em 10/03?
AMARILDO: A minha prioridade é retirar a suspensão da FIBA. Precisamos urgente fazer com que a CBB volte a ser membro com plenos direitos junto a FIBA. Sem isso não há como a entidade voltar a receber recursos. Tornamos público o nosso Plano de Governo em setembro de 2016, e o executaremos dando prioridade a um "choque de gestão" através da severa redução de despesas e renegociando dívidas com fornecedores, prestadores de serviços, funcionários e a própria FIBA. Buscaremos patrocinadores, construiremos novas relações com COB e Ministério do Esporte, mas também descentralizar os eventos da CBB através do apoio de Estados e Municípios de todo Brasil. Priorizarei as categorias de base com os Campeonatos de Base de Seleção Sub-13, Sub-15 e Sub-17 e de Campeonatos de Clubes Sub-13 até Sub-19. Buscaremos apoio nos treinamentos de seleções de base e adulto, mini-basquete, 3×3, Escola Nacional de Treinadores e Clínicas de Arbitragem. Ajudaremos todas as Federações Estaduais com um patrocínio exclusivo e elaboraremos um Projeto Incentivado para custear as taxas de arbitragens na categoria de base nos campeonatos estaduais das Federações para o aumento de participação das equipes nas categorias menores.

BNC: Como o senhor avalia a gestão do presidente Carlos Nunes ao longo dos últimos 8 anos? Há solução para a Confederação Brasileira sair da lama, ou no atual estágio o mais correto a se afirmar é mesmo que o novo presidente deverá praticamente estancar um sangue imenso provocado por Nunes e seu grupo gestor?
AMARILDO: Eu não tenho dúvida de que o problema da CBB não foi a falta de verba de órgãos públicos ou falta de patrocínios. O problema foi de gestão. Tem muito enrosco que foi causado por uma ineficiente prestação de contas as entidades patrocinadoras. Por esta razão digo que o novo Presidente não poderá mais errar e para isso precisa ter experiência com a tratativa deste tipo de recurso. É necessário colocar a casa em ordem e a matemática é muito simples – gastar menos do que se arrecada. Vamos estreitar o relacionamento com os órgãos que tem ajudado o basquete, como o COB e o Ministério do Esporte para continuarmos a receber essas verbas. Além de buscar novos patrocínios, conquistar junto ao Governo Federal o apoio de uma Estatal e retomar o nosso patrocinador máster (Bradesco) também está nos nossos planos.

BNC: Uma das grandes dúvidas sobre o novo presidente é a tal força-tarefa proposta pela FIBA. O senhor assinará isso? Ou mudará de opinião e não irá assinar? Caso assine ou não, quais são as consequências para para a CBB e clubes brasileiros?
AMARILDO: Vou assinar, sim, e não mudo de opinião. É bom para o basquete e é bom para a Confederação. E essa não é uma opinião somente minha ou do nosso jurídico. Todos aqueles que leram o termo de compromisso proposto pela FIBA e conhecem o Estatuto da entidade conseguem entender com bastante clareza de que o proposto não é nada mais do que um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta). A FIBA quer comprometimento por escrito, documentado. Ela está cansada de promessas não cumpridas. Por isso veio a suspensão e ela permanecerá caso não se assuma este compromisso. Precisamos retirar o mais rápido possível esta suspensão pois quanto mais tempo levar, mais tempo os clubes e seus patrocinadores serão prejudicados e mais tempo os recursos no COB e no Ministério do Esporte ficarão retidos. Isso sem falar no tempo para retomar a credibilidade na conquista por novos patrocinadores. Na reunião em Genebra, o Secretário Geral da FIBA alertou a todos os presentes que a CBB será desfiliada da FIBA caso o novo Presidente não aceite a Força Tarefa. Precisamos acabar com as barganhas e fazer crescer a modalidade. Não posso ser IRRESPONSÁVEL em não assumir esse compromisso e rejeitar o acompanhamento de entidades como a FIBA, COB e Ministério do Esporte especialmente em um momento tão delicado. Como já disse, sou um gestor que valoriza a participação, não tenho nada a esconder, não tenho a pretensão de resolver os problemas sozinho. Juntos vamos mais longe. Nestes moldes, a Força Tarefa é um grupo que virá somar através das maiores instituições nacionais do esporte (COB e Ministério).

BNC: O senhor pode ser eleito pelas Federações, da qual faz parte inclusive, mas me parece claro que este modelo federativo, com pouca gente votando e gerenciando o basquete brasileiro, é arcaico e precisa de mudanças. O senhor concorda com isso? Pretende fazer mudanças estatutárias neste sentido? Ademais, como você fará para lidar com Federações que não fazem basquete de base (quase todas)? Qual será a cobrança de você, que será eleito por elas, para elas em relação à massificação da modalidade?
AMARILDO: Concordo. Vamos fazer mudanças no Estatuto da CBB, especialmente no que se refere ao sistema de votação. Não resta dúvida de que o colégio eleitoral é muito pequeno para eleger o Presidente e que não representa todas as áreas que fazem, vivem e dependem da Confederação. Acredito que Associações e Clubes que participam das Competições da CBB poderiam ter direito a voto. No entanto, para haver uma REAL mudança neste sistema arcaico de eleição é necessário algo mais, porque hoje para muitos a decisão pelo voto não se baseia na experiência de gestão no basquete, mas sim na amizade ou na promessa de algum cargo ou vantagem pessoal. Eu me propus a não fazer o jogo. Apresento ideias e propostas. Quem está conosco é porque compartilha da nossa visão e acredita no nosso trabalho. Nesse velho sistema ou você "rifa" a CBB ou você não cumpre as promessas. Há algo além de mudanças estatutárias: é necessário dar exemplo de mudanças o que eu não vejo nesta eleição. Vamos implantar na CBB uma GESTÃO POR RESULTADO. Teremos um projeto incentivado para ajudar os Estados com despesas de arbitragens e fomentar a participação de equipes nas competições de base em todos os Estados. Toda ajuda da Confederação para as Federações Estaduais será em dinheiro mensal e material esportivo ou troféus/medalhas. Essa ajuda será proporcional a alguns critérios como quantidade de filiados, quantidade de campeonatos e quantidade de equipes participantes. As Federações precisam de incentivo e motivação para ampliar seus resultados. E a minha visão em relação a essa situação é resultado do que ouvimos e discutimos nas reuniões que fizemos em 2015-2016 pelo Brasil conhecendo a realidade de cada uma das Federações.

BNC: As duas seleções brasileiras adultas estão sem técnico no momento. Quem seriam seus nomes preferenciais caso assuma a Confederação Brasileira?
AMARILDO: Primeiro vamos nomear um Diretor Técnico e seus coordenadores (Masculino e Feminino). Então, vou ouvi-los, mas já adianto que a escolha do técnico tem critérios: estar participando em competições nacionais, ter tido bons resultados nos últimos anos, ser um técnico moderno que procure sempre se atualizar, e estar em concordância com a filosofia da nova gestão, que será de preservar a ética e o respeito profissional entre atletas, dirigentes, árbitros, entidades e imprensa. Este profissional deverá preservar o bom comportamento dentro e fora de quadra.

BNC: Outro ponto importante diz respeito às categorias de base, abandonadas a própria sorte há anos. Qual o seu plano especificamente para trazer mais jovens atletas para o basquete, desenvolvendo estes jovens atletas para o futuro da modalidade?
AMARILDO: No nosso plano de Governo, além reativar e melhorar a realização dos Campeonatos Brasileiro de Base de seleções Sub-15 e Sub-17, realizaremos também na categoria Sub-13 para incentivar a participação de mais equipes nos campeonatos estaduais nestas categorias. Assim como fizemos no Paraná, quando há 6 anos criamos o Campeonato Sul Brasileiro de Seleções Sub-13 e Sub-14, que tem gerado um crescimento da participação e um aumento também do nível técnico. As seleções paranaenses está sempre entre as quatro melhores equipes nos Brasileiros de Base realizados pela CBB. Tem sido um grande diferencial, tanto que na última edição em 2015 fomos campeões Brasileiros do Sub-15 Masculino, um feito inédito. Também vamos criar a Copa Brasil de Clubes (Sub-13, 14 ,15, 17 e Sub-19) na qual vamos fazer com que as Federações tenham mais participação das suas equipes nos seus campeonatos estaduais também nessas categorias, para seguirem em uma fase regional e uma fase final e certamente teremos mais atletas praticando o basquete em todo Brasil.

BNC: Recentemente houve uma série de rumores envolvendo a relação entre CBB e Liga Nacional. Alguns presidentes de Federações são contra o NBB, afirmando que o campeonato nacional deve voltar a ser gerido pela Confederação Brasileira. O que o senhor acha disso? Pretende realmente acabar com o NBB? Como será a sua relação com a entidade?
AMARILDO: A minha visão e postura sobre a Liga Nacional é uma só: nós reconhecemos o importante e relevante trabalho que as Ligas LNB/LBF fazem. O que deve ficar claro é que a CBB deve e vai realizar na minha gestão as Categorias de Base (Sub-13 até Sub-19) e a Copa Brasil Adulta, tal como está no nosso Plano de Governo. As Ligas Nacionais continuarão realizando os seus campeonatos. E nós alinharemos isso logo após a eleição para afinarmos as ações e competências de cada entidade. Gostaria de deixar claro de que esse compromisso de acabar com o contrato das ligas LNB/LBF não é meu e nem dos Presidentes do Grupo "Bola na Cesta, Brasil!¨. Essa é uma promessa de campanha da chapa adversária e das Federações que a apoiam, que assumiram o compromisso público de acabar com esses contratos, conforme nota oficial divulgada pela Federação Cearense de Basquetebol.

BNC: Qual o seu plano para equacionar as dívidas da CBB? Qual é, exatamente, o tamanho do rombo da Confederação?
AMARILDO: Nos balanços fornecidos pela CBB nas Assembleias a dívida estaria em torno de R$ 17 milhões, mas já calcula-se que ultrapassa esse valor. Como falei anteriormente, essa é uma prioridade. Implantaremos um ¨choque de gestão¨, renegociaremos as dívidas, reduziremos as despesas, buscaremos junto a ¨Força Tarefa¨ toda ajuda possível do COB, Ministério do Esporte e FIBA, renegociaremos com a Estatal Eletrobrás, buscaremos retomar o patrocínio do Bradesco e outros co-patrocinadores que já nos assinalaram confiança e interesse.

BNC: O senhor não só aprova as contas do presidente Carlos Nunes há anos mas também fez parte de um governo (o dele) que praticamente afundou o basquete brasileiro na lama. Não é um contrassenso que o nome do senhor surja agora como uma espécie de oposição a um modelo que o senhor chancelou a participou por tanto tempo? O que me leva a acreditar que o senhor fará algo de diferente do que tem sido feito nos últimos 8 anos de Carlos Nunes?
AMARILDO: Certamente você lembra, mas o Carlos Nunes era o candidato de oposição ao Grego. Votei em Nunes intencionado em apoiar uma oposição para mudança. Inclusive procurei ajudar a sua primeira gestão através da minha participação no Conselho Consultivo de Presidentes. Foram inúmeras as reivindicações que levei as reuniões do Conselho, mas tudo que se tratava neste Conselho era pouco levado a sério. Na segunda eleição não tivemos escolha, novamente eram os mesmos candidatos: Carlos Nunes e Grego, mas Carlos Nunes mantinha as promessas de atender nossas solicitações de mudanças, especialmente a respeito da gestão financeira da CBB. É sempre bom lembrar, conforme foi noticiado em agosto de 2012: naquela ocasião quem apoiou a campanha de Grego foi o atual candidato Guy Peixoto, que também teria apoiado anteriormente a campanha de Carlos Nunes para a primeira gestão. Logo, fica fácil entender que SE EU NÃO FOSSE CANDIDATO EU NÃO VOTARIA NO GUY PEIXOTO, muito menos tendo como vice Manoel de Castro (Presidente da Federação do Maranhão), que sempre deu suporte a gestão do Grego. Quando Carlos Nunes foi eleito pela segunda vez em 2013, ele não cumpriu e não realizou as mudanças prometidas e necessárias. Eu não tive dúvida, e solicitei a saída do Conselho, conforme sua matéria noticiada em julho de 2013. Sobre a aprovação de contas, na Assembleia de 2014 eu não aprovei. E nas Assembleias de 2015 e 2016, período pré-olímpico e ano olímpico, respectivamente, a maioria dos Presidentes decidiu aprovar para não respingar nas quadras e equipes técnicas. Ou seja: mais desgastes em um momento delicado para a imagem da modalidade e para os patrocinadores.

BNC: Pra fechar. O senhor é Presidente de Federação, mas não tem sequer um clube jogando a LBF e apenas agora, com Campo Mourão, participa do NBB. Se seu estado não faz um trabalho muito bom no basquete profissional, como acreditar que o senhor conseguirá fortalecer as instituições para fazer da CBB forte para todos?
AMARILDO: No Paraná realizamos dois Campeonatos Estaduais: Estadual com 5 ou 6 equipes e a Taça Paraná regionalizada com participação de 08 a 12 equipes. Esse trabalho fez com que os Clubes tivessem crescimento, como a Equipe de Campo Mourão, que já está na Liga Ouro há 4 anos e agora na primeira divisão. Não menos importante, a Equipe de Ponta Grossa está há 4 anos na Copa Brasil e na última edição ficou em terceiro lugar na Supercopa. Além, é claro, da equipe Basquete Curitiba que tem participado das últimas 3 edições e feito ótimas Campanhas na Liga de Desenvolvimento. Importante não confundir, não ter time no campeonato Brasileiro não é demérito de nenhuma Federação. Não é atribuição da Federação montar time para jogar campeonatos Nacionais e sim dos Clubes, Associações ou Municípios. A atribuição das Federações é montar as Seleções Estaduais de Base e como relatado acima o Paraná possui todas as categorias e naipes na primeira divisão. Quando estive a frente da Secretaria de Esporte na cidade de São José dos Pinhais-PR, fomos a Capital Paranaense do Basquete. Tivemos a equipe feminina, que entre outros títulos, foi campeã Brasileira em 2000, e a equipe masculina foi terceiro lugar na primeira edição do Campeonato Nacional da Liga (Nossa Liga). Espere e verá, vamos realizar a COPA DO BRASIL. Vai ser a maior atração e sensação das equipes intermediárias desse país!

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