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Bala na Cesta

Após dois anos lesionado, camaronês Joel Embiid renova esperança do Sixers

Fábio Balassiano

31/01/2017 00h04

simmons1Três vezes campeã da NBA, a franquia Sixers viveu momentos de pânico nos últimos anos. Somando as três temporadas mais recentes, 47 vitórias (apenas dez na última) e um desânimo terrível. Veio outro Draft, mais uma primeira escolha, o sorriso da galera do Philadelphia apareceu quando Ben Simmons, ala australiano bastante versátil e considerado o melhor atleta disponível na última leva, foi selecionado. Mas como desgraça pouca é bobagem Simmons lesionou o tornozelo, foi pro estaleiro e não tem previsão de estreia. Mais um campeonato jogado no lixo, certo? Nem tanto.

Com mudança na direção (Bryan Colangelo chegou para dar uma cara mais vitoriosa para uma franquia que se acostumou a gostar de perder e a confiar no tal processo de reconstrução), o Sixers foi ao mercado. Não trouxe estrelas, mas colocou no elenco figuras como o espanhol Sergio Rodriguez, ex-Real Madrid, Jerryd Bayless, Ersan Ilyasova e Gerald Henderson. Perder poderia ser uma possibilidade, não mais uma "obrigação". Nomes experientes evitam derrotas em sequência, mas não só isso. Os veteranos dão tranquilidade para jovens como Dario Saric, croata bom de bola que chegou agora para seu primeiro ano, jogarem. Então é por isso que o caminho do Sixers tem sido menos tortuoso? Nada disso.

embiid1A grande mudança atende pelo nome de Joel Embiid, que tem uma história tão incrível quanto surpreendente. Nascido há 22 anos em Yaoundé, Camarões, jogava vôlei quando foi descoberto pelo também camaronês Luc Mbah a Moute, hoje no Los Angeles Clippers, em uma clínica. Embiid teve seu primeiro contato com o basquete aos 15 anos. No ano seguinte se mudou para os Estados Unidos, onde passou por duas escolas na Flórida para fazer o segundo grau. Recebeu uma bolsa de estudos de Kansas e em 2013/2014 estreou pela universidade. Foi bem com as médias de quase 12 pontos e 9 rebotes por jogo, ainda tinha muito a aprender, mas preferiu testar o Draft da NBA.

Estava sendo bem avaliado pelas franquias quando foi diagnosticado com um problema no pé. Seis meses de molho. Muita gente torceu o nariz para o que seria dele no Draft, mas o Sixers, com a terceira escolha, decidiu apostar em Embiid, atlético e com 2,13m para dominar garrafões por muito tempo. Com a terceira posição, o Philadelphia fez dele o seu mais novo pivô. O que seriam seis meses para quem espera por um novo gigante peso-pesado há décadas?

embiidSó que não foram seis meses. Com problemas na recuperação, ele ficaria de fora de toda temporada 2014/2015 e também perderia o campeonato de 2015/2016 devido a complicações no mesmo pé direito. O Sixers, neste meio tempo, trouxe dois outros homens de garrafão – Jahili Okafor e Nerlens Noel. Todo mundo já descartava Joel Embiid, mas 2016/2017 veio.

Em 4 de outubro de 2016 ele fez a sua estreia na pré-temporada. Jogou 13 minutos e teve 6 pontos. Era um começo, mas o que viria depois? No dia 26 de outubro, primeiro jogo oficial da NBA, a estreia contra o Oklahoma City Thunder em casa. Não dava pra esperar nada, né? Mas Embiid decidiu roubar a cena com 20 pontos, 7 rebotes e 2 tocos em 25 minutos. Trata-se de alguém diferenciado mesmo com minutos limitados (via de regra, ele não passa dos 28 minutos por jogo e quando tem um mínimo sinal de dor é retirado de quadra pela comissão técnica).

Passaram três meses, e Embiid segue encantando a todos (quase foi selecionado para o All-Star Game do Leste). Vivendo seu sonho, como ele mesmo diz a todo instante e muito animado nas redes sociais, ele registra 20,2 pontos, 7,8 rebotes e 2,5 tocos de média em incríveis 25 minutos por noite (quase um ponto por minuto, é isso mesmo). Mais do que bons números, o camaronês é carismático e tem conseguido colocar um pingo de esperança na torcida do Sixers. Com o triunfo de ontem diante do Sacramento em casa (122-119 sem Embiid, poupado devido a dores no joelho) já são 18 vitórias até agora (10 apenas neste ano, o quarto maior número de toda NBA) e uma força ofensiva e defensiva incríveis nos dois lados da quadra. Na sexta-feira, contra o Houston, 32 pontos (4 bolas de 3), 7 rebotes, 4 assistências, 3 roubadas e 2 tocos em uma atuação de tirar o fôlego.

embiid3A história da NBA mostra que jogadores "pesados" perto da cesta sempre causam impactos monstruosos em seus times. A combinação de força e razoável técnica (já são 36 bolas de 3 pontos convertidas, mais de uma em seus 31 jogos até aqui) de Embiid é mais uma prova disso. A cultura mudou, o humor mudou, a perspectiva mudou. Caso mantenha a boa forma física e técnica, Joel Embiid tem tudo para recolocar o Philadelphia 76ers nos trilhos depois de muito tempo.

O dia que Ben Simmons estrear a tendência é que o Sixers tenha uma ótima dupla para chamar de sua por um longo período. Se o processo da Pensilvânia é doloroso, o sorriso de Embiid mostra que pode haver luz no final do túnel. Sua história de superação, improbabilidade e sorrisos distribuídos aos montes para seus torcedores é um dos maiores exemplos desta temporada 2016/2017 do melhor basquete do mundo.

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