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Bala na Cesta

Utah Jazz 'cumpre promessa' e voltará ao playoff da NBA após cinco anos

Fábio Balassiano

26/01/2017 06h00

jazz31Antes da temporada 2016/2017 da NBA os analistas norte-americanos apostavam no Utah Jazz entre os quatro primeiros da conferência Oeste do melhor basquete do mundo. Sempre achei um tremendo exagero, principalmente por acreditar que Spurs, Warriors e Clippers não sairiam das três primeiras colocações, com o Grizzlies tendo mais chance de ser o último a conseguir mando de quadra para o playoff.

Acertei em quase tudo, com a exceção que o Houston Rockets tomou o lugar do Memphis entre os melhores do Oeste, mas o mais bacana de tudo é notar que de fato o Utah, do brasileiro Raulzinho e do técnico Quin Snyder, está cumprindo a, digamos, promessa que muita gente colocava pra eles antes da temporada. Com metade do campeonato já disputado, a franquia de Salt Lake City tem 29-18, hoje enfrenta o Los Angeles Lakers em casa para abrir uma sequência de quatro jogos em seu ginásio, está na quinta colocação da sua conferência e a não ser que aconteça uma grande catástrofe irá jogar o playoff da NBA depois de cinco anos (a última foi em 2012, e a derradeira vez que o time passou de fase no mata-mata aconteceu em 2010, ainda na gestão Jerry Sloan).

E como o Utah Jazz tem conseguido jogar bem, vencer jogos e se aproximar de seu objetivo principal para esta temporada? Coloco abaixo alguns pontos:

jazz11) Defesa: É o principal atributo da equipe. O Jazz é um dos três times da NBA a não levar 100 pontos por jogo (Spurs e Grizzlies são os outros), tem a defesa menos vazada (95,5 pontos por noite) e está em segundo lugar no percentual de conversão dos arremessos dos adversários (43,4%). Um dado interessante em relação a marcação é que muita gente aqui no Brasil pensa que ela se torna forte porque força erros dos adversários. No Utah não é assim. A franquia está na penúltima posição quando o assunto é desperdício de bola do rival, com apenas 11 vezes vendo o oponente não arremessar à cesta, e no mesmo local em roubadas de bola (6,6). Para o time do bom técnico Quin Snyder o importante é vigiar a bola, evitar arremessos livres e depois atacar com consistência.

jazz22) Estabilidade ofensiva: Se na NBA atual correr loucamente no ataque e chutar de três pra caramba estão em voga, no Utah não é bem assim que a coisa funciona. São 99,4 pontos por jogo e apenas 25 arremessos do perímetro por noite, índices que colocam a franquia lá embaixo no ranking da liga nos dois itens. Mas há um dado que faz o time ser muito equilibrado: o percentual de conversão de chutes é de 46%, o oitavo maior do campeonato. Não é quanto um time chuta, mas sim COMO o time chuta, né? Como controla bem o ritmo de jogo, motivo pelo qual o armador George Hill foi contratado aliás, os desperdícios de bola não se acumulam (apenas 13 por partida) e os adversários não pontuam com facilidade. O jogo não se divide, sabemos, e o Jazz ataca bem porque defende bem (e defende bem porque ataca bem).

jazz3333313) Altruísmo no ataque: O maior pontuador do Utah Jazz (Gordon Hayward) tem 21,8 pontos por jogo. Está "apenas" na posição 24 entre os maiores pontuadores da NBA. Isso é ruim? Não, não. Pelo contrário. Gordon (analisado abaixo) é ótimo, responde por mais de 20% dos pontos de seu time, mas o setor ofensivo de Quin Snyder é muito bem dividido e recheado de atletas pontuando bem em todas as posições de quadra. Além dele estão com mais de dez pontos o armador George Hill (18), Rodney Hood (ala com 14 por jogo) e o pivô Rudy Gobert (12,8). Destacam-se também o ala-pivô Derrick Favors (9,3), o experiente ala Joe Johnson (8,1), o ala-pivô Trey Lyles (8,0), o ala Joe Ingles (6,4) e o armador Shelvin Mack (7,9). Estes últimos quatro vêm do banco de reservas. E nem falei de Boris Diaw, excepcional passador, Raulzinho e Alec Burks, que também contribuem.

jazz414) Gordon Hayward: É o melhor jogador-franquia que quase ninguém fala na NBA. E dá pra explicar de uma forma bem simples. O cara não é midiático, joga em um time que não tem muito apelo de mídia desde que o duo Stockton-Malone saiu de cena e é um moço bem comportado, sem grandes polêmicas em seu currículo. Mas joga muito basquete o ala de 26 anos, viu. Com ótima técnica e bom físico, Hayward evolui a cada temporada desde que chegou à liga há seis temporadas. Suas médias de 21,8 pontos, 5,7 rebotes, 3,5 assistências, 45,5% nos arremessos e 39,9% nas bolas de três pontos são excepcionais, consistentes e todas (com exceção das assistências) as melhores de sua carreira.

jazz35) Rudy Gobert: Peça fundamental na defesa do Utah, o francês de 2,18m, 24 anos e braços longos é o que os americanos chamam de cadeado do garrafão. Se posiciona perto da defesa e está sempre pronto para distribuir tocos nos adversários. Lidera a NBA no quesito com 2,5 todos por noite, aliás. Só que nesta temporada Gobert tem se interessado, digamos, também em finalizar os passes de George Hill, que joga muito bem com ele em pick-and-roll (corta-luzes). São 12,8 pontos por jogo (quase 50% a mais que a média atingida em 2015/2016) e 66% de aproveitamento nos chutes. A fundação e o crescimento do Jazz passam por ele no presente e no futuro. Pela primeira vez ele tem média de duplo-duplo (são 12,6 rebotes) e algumas partidas "animalescas", como as três seguidas de semana passada: 19+19 contra o Orlando, 18+17 contra o Phoenix e 27+25 contra o Dallas. Três vitórias.

jazz21Ainda não dá pra saber como o Utah Jazz se comportará no playoff e muito menos nos próximos anos, mas se o objetivo para esta temporada era chegar ao mata-mata, o time de Quin Snyder, que também merece muitos elogios, será cumprido com louvor. Salt Lake City voltará a ver uma partida de pós-temporada depois de cinco anos. A última vez foi em 7 de maio de 2012. A espera vai chegar ao fim em 2017.

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