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Bala na Cesta

Chicago cai de rendimento, e todos os olhos se voltam para o técnico Fred Hoiberg

Fábio Balassiano

19/12/2016 01h00

bulls4O começo de temporada foi bom para o Chicago. Três vitórias seguidas, o trio Rajon Rondo, Dwyane Wade e Jimmy Butler funcionando, Taj Gibson e Robin Lopez segurando a onda no garrafão e nem mesmo os problemas nos chutes de três pareciam incomodar já que Nikola Mirotic vinha matando bolas. Esta foi a parte boa. Mas não durou muito.

O Bulls chegou a ter 10-6 quando venceu o Sixers no dia 25 de novembro fora de casa, mas de lá pra cá a maionese de Illinois desandou. Rajon Rondo foi suspenso por indisciplina, Mirotic pegou dois jogos de banco de reservas porque teoricamente esqueceu de um treino, o que motivou uma fala bem ácida do técnico Fred Hoiberg sobre o ala-pivô ("Quando ele pensa nós temos sérios problemas. Prefiro Mirotic apenas arremessando"), atletas inseguros (em um momento joga Bobby Portis, em outros Cristiano Felício, por exemplo) e Wade só conseguiu passar da marca dos 20 pontos em três vezes neste período. O resultado? Sete derrotas nos últimos 10 jogos, agora a campanha de 13-13, oitava posição no Leste e todos os olhos voltados para Hoiberg. Hoje o time enfrenta o Detroit em casa com a corda bem no pescoço.

fred1Desde sempre fui muito crítico não só sobre a chegada de Hoiberg, mas sobretudo sobre a saída de Tom Thibodeau de Chicago. Usaram argumentos falhos, irritaram Thibs, fritaram o cara de todos os jeitos e trouxeram alguém que não tinha a mínima experiência de treinar uma franquia com as aspirações do Bulls. Falei em 2015 que a equipe arriscava perder os melhores anos de Jimmy Butler por conta da ausência de um treinador confiável, experiente e que fosse respeitado pelos atletas. Butler mesmo, na temporada passada, chegou a dizer que Hoiberg deixava tudo solto para os atletas, não cobrando-os quando devido e fazendo com que os jogadores ficassem tranquilos demais durante o campeonato. O Chicago ficou de fora do playoff, vocês lembram, né?

fred3A diretoria do Bulls deu um voto de confiança pro cara, manteve ele lá e mudou boa parte do elenco – e de sua configuração. Com Rajon Rondo, Dwyane Wade e Jimmy Butler todos esperavam que as bolas de três não caíssem. Os 30% de aproveitamento de fora do Chicago em 2016/2017 (foi de 37% em 2015/2016) não surpreendem. Era assim que tinha que ser mesmo devido aos atletas que lá estão. O que choca é que Fred Hoiberg não conseguiu fazer nada de diferente para que os adversários, de maneira óbvia e bem clara, passassem a dar dois, três passos para trás quando o trio está em quadra. Uma boa analogia ao time de Illinois é o Toronto Raptors, que não tem chutadores de elite no seu perímetro (apenas Kyle Lowry), mas que mesmo assim encontra soluções para pontuar incrivelmente nesta temporada. São 112,1 pontos por jogo (3º melhor ataque da NBA) tentando apenas 24 de três pontos por noite. O time compensa com muitos lances-livres (21 por jogo saem assim), conversão altíssima de arremessos (48%), um jogo de passes muito bem feito (a cada dois arremessos convertidos, um sai através de assistência) e excepcional índice de pontos por chute (1,32, o segundo melhor da liga). Uma alternativa para o Bulls seria jogar mais vezes com Doug McDermott e Nikola Mirotic, dois dos melhores arremessadores de perímetro do time, mas Hoiberg parece não estar muito alinhado com as novas tendências da NBA e prefere quase sempre manter pivôs altos, pesados e que jogam quase sempre perto da cesta.

wadeO que resulta disso? Um time previsível, com ataque estático e facilmente marcado. Os 101,1 são praticamente o mesmo de 2015/2016 (101,6) e apenas o vigésimo-terceiro mais positivo de toda a liga. Nos arremessos de quadra, outro problema com os 45% de conversão, quinta pior marca do certame. O problema para o Bulls não está nem nos pontos em si, mas na forma que eles vêm. Como não mata bola de fora nem por decreto, as defesas rivais evitam passes. O jogo de um-contra-um de Wade e Butler tem sido acionado, e as assistências murcharam. O Chicago tem 20 por jogo, sexto pior índice da NBA.

fred2Acho sinceramente que não dá pra culpar Hoiberg por tudo de ruim que acontece em Chicago, não. Seria bem injusto e reducionista de minha parte. Para ficar em um exemplo, a formatação do time não foi das melhores, privilegiando um jogo pesado, de arremessos longos de dois pontos e quase não tendo bons chutadores longos no quinteto inicial. Este é um ponto. O outro é que pra mim está muito claro que dá pra tirar coisas melhores de um elenco que possui um futuro Hall da Fama que ainda tem bons dois/três anos em alto nível, um armador que foi campeão da NBA jogando da mesma maneira que atua agora (passando, passando, passando) e um craque de bola no auge físico como é o caso de Jimmy Butler. A questão toda é que o treinador não tem conseguido não só extrair o melhor de seus atletas mas sobretudo arejar as ideias ofensivas, algo que tanto se esperava dele e que tanto se criticava em Thibodeau (embora eu discordasse quase sempre…).

fred3Encontrar um esquema que não exponha as dificuldades de suas principais estrelas e que faça aflorar as qualidades de jogadores que podem render bem mais, como são os casos de Nikola Mirotic e Doug McDermott, é algo que o treinador Fred Hoiberg e os Bulls precisam achar o quanto antes.

Se ficarem jogando da mesma maneira que temos visto neste mês de dezembro dificilmente o Chicago terá uma vida tranquila no ano que começará em menos de quinze dias.

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