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Bala na Cesta

Em ano pré-Draft, Lucas Dias lidera o seu novo clube, o Paulistano, no NBB

Fábio Balassiano

03/11/2016 01h00

lucas2Entrevistei Lucas Dias há menos de cinco meses. Ele acabara de trocar o clube que o formou como atleta, o Pinheiros, pelo maior rival, o Paulistano. E por um motivo singelo: queria se sentir incomodado, instigado, desenvolvido no time dirigido pelo técnico Gustavo de Conti, um dos melhores do país. O jovem de 21 anos entra em um ano fundamental para a sua carreira, o último antes de ele poder participar da seleção do Draft da NBA, com a missão de seguir evoluindo, de liderar um time diferente daquele em que este nos últimos seis anos e também de mostrar melhoria em aspectos importantes de seu jogo como defesa e parte física. Conversei com ele sobre a temporada do NBB que começa para seu novo time no próximo domingo contra o Mogi fora de casa.

lucas1BALA NA CESTA: O que você pessoalmente está esperando para este NBB jogando pelo Paulistano? Quão diferente é este campeonato pra você em relação aos outros que você disputou?
LUCAS DIAS: Estou esperando fazer um bom campeonato. Sei que a temporada passada foi boa, foi legal, mas esse ano vai ser bem diferente. Estou vestindo outra camisa, sei que a responsabilidade que tenho dentro do grupo será grande, algo diferente de todos os outros NBB's que eu disputei. Nesta temporada terei isso no Paulistano, de liderar o grupo apesar de ser um dos mais jovens do time. O Gustavo de Conti, o técnico, me deu esse papel, conversou comigo e me mostrou o que espera neste sentido. Vai ser bem diferente do que os outros que disputei pelo Pinheiros. Neste campeonato terei que puxar o time, liderar a equipe dentro e fora da quadra, então estou tendo que melhorar isso nos treinos para fazer um ótimo NBB, que é o que eu desejo para fazer com que o Paulistano chegue ao lugar que o clube merece, que é lá no topo. Estou treinando bastante para isso.

lucas2BNC: Você me disse recentemente em uma entrevista a mim que saiu do Pinheiros para o Paulistano porque estava buscando o incômodo, uma pessoa que conseguisse expor seus problemas para corrigir. Como tem sido este começo no CAP? Poderia falar de sua rotina de treinamentos, de seus específicos, da melhora no seu lado físico?
LUCAS: Realmente é isso, Bala. Saí do Pinheiros porque não queria mais ficar na minha zona de conforto. No começo do Paulistano vou te confessar que foi bem difícil se adaptar à nova realidade. É uma rotina bem diferente daquela que fazia no Pinheiros. É uma rotina mais forte em relação ao aspecto físico. No começo ficava cansado mais rápido até por voltar de uma lesão no joelho, então foi tudo diferente em relação aos outros anos que tinha vivido no Pinheiros.

lucas1No Paulistano os profissionais cobram muito isso de todos os atletas independente de que tipo de atividade você vai fazer. Se vai chutar, se vai à academia, se vai correr é preciso estar 110% focado e dando o máximo naquilo que estiver trabalhando. Isso no começo foi difícil mas em uma semana já estava no ritmo. Hoje posso te dizer que estou bem melhor do que estava antes. Consigo ver uma evolução mais rápida por aqui tanto na parte física quanto na parte técnica. Estou muito feliz de fazer parte do clube e de conseguir estar me desenvolvendo como atleta. Todo dia acordo bem cedo e às 9h30 já estou na academia. Às 10h15 vou para a quadra fazer um trabalho técnico específico. Depois há os treinos com a equipe. Hoje em dia eu só tenho tempo de descansar das 14 às 16h30, no máximo. Às 18h já tem o outro treino do dia. E sabe uma coisa, Bala? Estou curtindo muito o processo todo pelo qual estou passando! São dias puxados, tem dias que chego em casa realmente morto, mas estou me saindo muito bem e sinto a evolução a cada segundo.

gustavo11BNC: O técnico do CAP é o Gustavo de Conti, um dos melhores e mais exigentes treinadores do país. O que ele mais tem te passado neste começo de trabalho e o que mais você aprendeu com ele neste curto período? Folga é uma palavra praticamente proibida, né?
LUCAS: Sem dúvida o Gustavo é um dos melhores técnicos do país. Isso ninguém tem a menor possibilidade de contestar. Quando fui para o Paulistano todo mundo disse pra mim que o Gustavo tinha um jeito diferente de cobrar dos jogadores e nesse pouco tempo desde que ele chegou da seleção, após as Olimpíadas, eu aprendi muitas coisas com ele. O aspecto que ele mais demanda de mim é a defesa. Ele sempre falava que quando jogava contra mim, comigo estando no Pinheiros, sempre me via marcando em pé, que sempre queria me dar umas dicas mas não podia.

gustavo1Nos treinamentos ele cobra muito de mim na defesa e também na parte de liderança. No Paulista já melhorei bastante neste sentido e sei que há espaço para mais e mais. Estou me sentindo muito à vontade e muito bem no clube. Outra coisa que ele fala pra mim é de ficar mais forte fisicamente. Por isso a importância de todo trabalho que tenho feito na academia. O jogo internacional tem mais contato, e tenho visto isso na Liga Sul-Americana. No Paulista todo mundo falou pra mim que a postura já estava bem diferente, principalmente neste lado de marcação. Estou jogando mais pesado, mais duro. O Gustavo cobra muito de mim, na hora que precisa dar bronca ele dá e na hora que precisa elogiar ele também o faz. Estou muito feliz com os aprendizados que tenho tido ao lado dele e com a convivência diária com ele e toda comissão técnica. Folga a gente quase não tem mesmo, mas esse é o caminho certo. Fiz a escolha certa ao vir pra cá. Estão me tratando muito bem por aqui e estou muito feliz de estar participando deste grupo com ele.

lucas3BNC: Ano passado você teve temporada incrível pelo Pinheiros, foi All-Star mas este ano liderará um time pela primeira vez. É muito diferente? Como você tem trabalhado este lado de liderança? Tem conversado com jogadores mais experientes, como o Shamell, que é seu amigo, para saber qual a melhor maneira de lidar com isso ou vai aprender no dia a dia mesmo?
LUCAS: Realmente a temporada passada foi muito boa mas é bem diferente, sim, liderar um time. É um papel muito difícil para qualquer jogador. É uma responsabilidade diferente e tenho visto que preciso estar pronto para o desafio não só dentro, mas também fora de quadra. No começo foi difícil chegar e me impor para o grupo. Precisava mostrar que não era mais um no grupo, mas sim uma figura importante. Estou buscando o máximo de informações neste sentido. Conversei muito sobre isso com o Jhonathan e com o Renato sobre isso. O Jhonathan era um dos líderes do Paulistano ano passado e o Renato foi assim em São José. Eles falam muito comigo sobre isso. Converso mais com os jogadores do meu time mesmo. Aprendo muito no dia a dia com os meus companheiros de time e também com a comissão técnica. O Guilherme, pivô, e o Paulão, que chegou recentemente para jogar de pivô no nosso time, também já me dão uns toques legais. Cada dia que passa eu aprendo uma coisa nova. Estou me sentindo muito confiante e melhorando a cada dia.

BNC: Este é o seu último ano que você pode se candidatar ao Draft da NBA, que sabemos ser o sonho de todo e qualquer atleta de basquete. É muito difícil controlar a ansiedade e tentar catalizá-la para o lado positivo, ou seja, para que você jogue cada vez melhor e mostre aos Times da NBA Que é, sim, um jogador com talento para estar na liga?
lucas6LUCAS: Fico pensando um pouco nisso, sim. É impossível dizer que não. Penso, sim, se vou ter uma oportunidade, se não vou ter, se dará certo, essas coisas. Estou com cabeça boa, estou fazendo de tudo e aí vem outra coisa que o Gustavo me cobra muito – ficar forte mentalmente. Quando tiver a oportunidade eu precisarei estar pronto para agarrá-la. Um bom exemplo disso é o Cristiano Felício. Ele saiu daqui, tentou ir para a NBA pelo Draft, não deu certo, muita gente não acreditava nele, mas ele persistiu e hoje faz parte da rotação fixa do Chicago Bulls. Só ele sabia que poderia estar lá. Ele é um grande exemplo pra mim. Estou com minha cabeça tranquila, D's sabe o que faz. Se for pra acontecer de ir para a NBA em 2017, muito bem. Se não rolar, vou seguir trabalhando duro. Tenho um futuro bacana pela frente, e para isso acontecer terei que trabalhar ainda mais pesado do que estou fazendo agora. Estou tentando melhorar nos meus fundamentos do jogo e em todos os outros aspectos – o físico, o mental, o tático, tudo. Pode ser que ainda não esteja, hoje, preparado para jogar com regularidade na NBA, mas confio que posso chegar lá. Se rolar, muito bem, mas primeiro preciso pensar no meu campeonato com o Paulistano e vou usar esse meu sonho como motivação para treinar mais, mais e mais para alcançar meu objetivo. O que for pra ser será.

BNC: De um ano pra cá deu pra perceber uma mudança positiva muito grande em você. Está mais maduro, mais focado, mais concentrado no que deve ser feito. As dificuldades dos últimos meses, a sua troca de clube, a entrada em um time que você não conhecia praticamente ninguém, apenas o Georginho, fizeram com você amadurecesse de que maneira? Onde você busca inspiração e força para seguir forte mentalmente?
lucas10LUCAS: Realmente é muito difícil você sair de um local onde você está há seis anos e conhece todo mundo. Aí você sai e vai para outro local onde não conhece ninguém. Não é fácil não, Bala. Você não conhece ninguém, não sabe se vai dar certo, se vai ser legal, se iria me arrepender. Conversei muito com meu agente, com minha família e foi uma das melhores decisões que tomei na minha vida até hoje. Era algo que precisava passar para crescer. Não é só treino, mas sim raça, força de vontade. O Georginho está lá comigo, é um amigo, mas é mais na dele, quieto. Hoje estou mais focado, não posso mais baixar a guarda. Se eu ficar brincando nos treinos nada do que eu fiz no passado vai ter valido. Tem essa expectativa do Draft para 2017 e tenho que treinar muito. Busco essa força de vontade que você cita na minha família mesmo. Minha mãe é uma inspiração pra mim. Saí de casa com 14 anos e lembro como foi complicado passar meu primeiro final de semana sem ela, Bala. Passei fome algumas vezes quando gastava mais dinheiro do que deveria. Sempre busco motivação neste sentido. Ela está sendo fundamental neste recomeço aqui no Paulistano. Outra coisa importante é que no Pinheiros eu era muito mimado mesmo. Quando os caras encostavam em mim eu ficava bravo e não tinha nada a ver. No Paulistano eu já aceito mais esse contato e estou pronto para isso. Fiz a melhor escolha para a minha carreira. Vai ser um grande ano pro clube e para mim também.

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