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Bala na Cesta

Após ano sabático, Tom Thibodeau quer levar Minnesota ao topo da NBA

Fábio Balassiano

01/11/2016 00h10

thibs1Durante os treinos da seleção norte-americana nas Olimpíadas uma voz era a mais ouvida por todos que frequentaram o ginásio do Flamengo, no Rio de Janeiro. Era a de Tom Thibodeau, verborrágico treinador que estava empolgado por de novo voltar a dar treinos ("depois de quase um ano parado estar em uma quadra de novo é maravilhoso"). Após saída do Chicago Bulls, Thibs optou por ficar um ano afastado até que o convite do Minnesota Timberwolves chegou. E não foi qualquer convite. Ele foi convidado para assumir como técnico e também como presidente de operações de basquete, tendo assim o controle completo da parte esportiva da franquia. Conversei com ele sobre o trabalho de reconstrução que ele fará com o Wolves, que hoje enfrenta o Memphis em casa em busca da primeira vitória na temporada (até agora tem 0-2).

thibs1BALA NA CESTA: O que você pessoalmente está esperando desse Minnesota Timberwolves? Imagino que deva ser animador pegar uma franquia que tenha dois nomes como Andrew Wiggins e Karl-Anthony Towns, jovens tão talentosos assim…
TOM THIBODEAU: É animador, claro, mas justamente por ser um elenco muito jovem não dá para pular etapas. Temos um trabalho importante a fazer e vamos trabalhar ponto a ponto, capítulo a capítulo. É muito importante criarmos a nossa própria identidade, e vamos trabalhar nisso dia após dia até chegarmos lá. O sucesso de times como Spurs, Cleveland, Clippers e Warriors não vem do dia pra noite, mas sim de um trabalho de longo tempo, planejado e organizado. Além disso sei que precisamos desenvolver as habilidades dos atletas e fazer com que eles estejam comprometidos com o projeto que temos pela frente em Minnesota. Quando estava recebendo ofertas de trabalho eu sabia que poderia ser desde um time em reconstrução, passando por de meio de tabela e quem sabe até os candidatos ao título. O que me chamou a atenção no Wolves foi poder fazer parte de algo longo, histórico e ao mesmo tempo de poder ensinar essa garotada algumas coisas que aprendi ao longo da carreira.

thibs1BNC: O nome que mais chama a atenção no Minnesota é o do Karl-Anthony Towns, pivô que foi escolhido o calouro do ano em 2016. Quão bom pode ser esse cara sob seu comando?
THIBODEAU: Ele teve uma incrível temporada como novato, isso ninguém tem dúvida. Mas o melhor de tudo é que ainda há muito espaço para melhora no Karl como atleta. Ele tem apenas 20 anos! Mais do que jogar bem é importante que ele e Andrew Wiggins compreendam os seus papeis de líderes da equipe, algo muito importante. Ambos sabem de suas responsabilidades neste sentido e terão que dar o exemplo neste sentido. Vão crescer muito, isso não tenho medo nenhum em te afirmar. Karl tem 20 anos, como te disse, e Andrew, apenas 21. Imagine por quanto podemos ser fortes com os dois jogando juntos e muito bem. É realmente muito encorajador pensar no que esta franquia pode ser em pouco tempo.

thibs11BNC: Você já deve ter parado pra pensar nisso, né? Você foi assistente do Minnesota em 1989 quando a franquia veio para o Draft de expansão da NBA e volta agora como o técnico e presidente da franquia justamente quando o Wolves quer dar um passo importante em sua história…
THIBODEAU: Isso mostra como eu estou velho, não? Outro dia estava comentando com o Coach K que o mais incrível disso tudo é que quando estava no Minnesota em 1989 a maioria dos meus atletas nem nascidos estavam. Por isso eu tenho um carinho enorme pela cidade. Foi lá que tudo começou e é lá que quero ficar por muito tempo.

thibs2BNC: Como foi o seu ano longe do basquete? O que você aprendeu, o que conseguiu fazer que não fazia antes e quão bom pessoalmente foi ter se afastado um pouco do basquete?
THIBODEAU: Ir ao cinema durante o dia foi maravilhoso. Poder desligar de um jogo de basquete que eu não queria mais ver, também. Passar as festas como Natal e Thanksgiving com minha família era algo que estava em dívida e consegui pagar. Pessoalmente falando te digo que foi maravilhosa a chance que eu tive para refletir, recarregar as energias e obviamente poder visitar uma série de times também. Às vezes temos a oportunidade de dar um passo atrás e ter uma visão diferente das coisas. Tirei vantagem desse período para melhorar como pessoa também.

thibs3BNC: Quantos times você visitou exatamente?
THIBODEAU: Fiquei uma semana em 13 times. Em alguns deles eu voltei para mais uma semana…

BNC: Visitou Spurs, Warriors, Clippers, times que serão seus rivais de conferência nessa temporada, imagino…
THIBODEAU: (Risos) Essa é a parte engraçada da história. Quando eu fui não tinha oferta na mesa e obviamente se tivesse as portas não se abririam tão fácil. Quando fui contratado pelo Minnesota eu recebi mensagens de alguns técnicos, em tom de brincadeira, me dizendo que terão que mudar boa parte das jogadas por minha causa. Mas isso faz parte do basquete e foi muito bom ter visto sistemas de jogo diferentes, novas formas de visualizar o basquete e como os outros treinadores trabalham no dia a dia.

thibs30BNC: Outra coisa que vi que você fez foi ter ido ao SLOAN, o maior evento de ciências do esporte nos EUA. Para um cara que é visto por muita gente e que fique claro que eu não concordo com essa definição, como antiquado, old-school, digamos assim, é uma baita novidade, hein…
THIBODEAU: O esporte mudou e todos precisamos mudar para nos adequarmos a ele. Fui ao SLOAN para aprender e me chamou a atenção o que vi lá sobre a questão de aperfeiçoamento de arremessos. Hoje o basquete é tão estudado, tão detalhado, que qualquer percentual a mais nos arremessos que seu time consegue atingir é uma vantagem enorme. Por isso eu fiz questão de contratar o Peter Patton, especialista de arremessos, para nos ajudar neste sentido. Não dá mais para dirigir um time como se fazia dez, quinze anos atrás.

kat1BNC: Um dos motivos que levaram a sua saída do Chicago Bulls foi bater de frente com a diretoria. Ser técnico e presidente de operações era algo que você estava buscando?
THIBODEAU: Não estava querendo exatamente isso, mas obviamente foi um desafio que veio e eu quis encarar. Não terei tempo de ser tudo ao mesmo tempo, e para as funções de fora da quadra eu contratei o Scott Layden, que veio do San Antonio Spurs, para me auxiliar com este trabalho digamos mais operacional e na tomada de decisões. Vai ser realmente novo para mim e estou disposto a encarar a oportunidade como algo bem enriquecedor para mim.

thibs10BNC: Por fim, uma pergunta: você é visto, e isso eu concordo, como um técnico muito exigente, muito demandante, que leva seus atletas à loucura em alguns momentos. Você vai diminuir um pouco este ritmo por dirigir uma galera mais jovem que nem sempre está acostumada a duras cobranças?
THIBODEAU: Concordo que sou um cara exigente. Mas sou exigente porque lidei e aprendi com os melhores. Não há sucesso sem treinamento além do esperado. Quem quer ser grande no esporte precisa ultrapassar limites diariamente. Mas respondendo à sua pergunta, a resposta é sim, continuarei demandando meus atletas neste sentido. O pessoal de Minnesota já sabe disso desde a entrevista de emprego e creio que foi também por isso que me contrataram. Não faz sentido mudar neste aspecto. Dirigi pessoas como Kevin Garnett, Rajon Rondo, Joakim Noah, Luol Deng, entre outros, que me mostraram dia após dia que quanto maior o comprometimento com a profissão, com o time, com a vida profissional, maiores são as chances de sucesso. Não é segredo algum, e eu te digo que quem negligencia isso no mundo esportivo de alto nível jamais chegará ao máximo de suas capacidades técnicas. É o meu lema de vida e eu não consigo admitir que alguém que tenha muito talento deixe de ser excepcional no que faz por preguiça ou algo do gênero.

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