Topo

Bala na Cesta

Com ultimato da FIBA, a CBB chega perto do fundo do poço - pode piorar...

Fábio Balassiano

13/09/2016 01h00

cbb1Você viu aqui ontem em primeira mão que a Federação Internacional de Basquete deu um ultimato na Confederação Brasileira. Inconformada com os rumos da modalidade no Brasil, a FIBA trará um gestor de sua confiança (o espanhol José Luiz Saez) para entender exatamente o que se passa em uma CBB que devia, até o final de 2015, mais de R$ 17 milhões. Como já disse: não dá pra saber, ainda,o  que irá acontecer de agora em diante, mas está bem claro que o alto escalão do esporte se cansou de Carlos Nunes, sua falta de competência e suas bravatas.

cbb2Antes de seguir, vale dizer que no final da tarde a entidade máxima do basquete brasileiro tentou, tadinha, negar o que este blog publicou colocando não só um texto mal escrito em seu site oficial, mas também a carta em que a FIBA informa o que fará na CBB. Tentou, tadinha, dizer que não se tratava de intervenção, mas sim de uma força-tarefa.

patrick1Não vou entrar em questões semânticas ou linguísticas, porque o bizarro disso tudo é que a Confederação chama de "errônea" no primeiro parágrafo a informação divulgada por este jornalista, mas logo depois é possível ver no anexo o seguinte no texto enviado por Patrick Baumann (foto), Secretário-Geral da FIBA: "Permita-me informar que o Comitê Executivo da FIBA, em acordo com o Sr. Usie Richards, presidente da Fiba Américas, concordou com a criação e estabelecimento de uma força-tarefa para ajudar a Confederação Brasileira de Basquete a resolver os problemas que vem enfrentando". Ou seja: a FIBA COMUNICA à CBB que estaria agindo, quer(ia) a CBB ou não. Não foi feita uma consulta de auxílio por parte da Confederação, mas sim recebida uma singela cartinha com um recado simples: "Ferrou pra vocês. Vamos aí entender o que está acontecendo". Se isso não é intervenção…

Bom, agora podemos seguir. Queria colocar alguns pontos para debate. Vamos lá:

Me31) Em primeiríssimo lugar, como se sentem, agora, os órgãos brasileiros? Ministério do Esporte, Comitê Olímpico e os de fiscalização (Controladoria Geral da União, entre outros), o que tem a dizer? Foi necessário que uma entidade internacional chegasse ao ponto de dizer 'chega' para que as contas da CBB fossem devidamente auditadas / fiscalizadas / devassadas. Será mesmo que não há/havia nenhuma autoridade nacional que pudesse fazer isso por aqui? O Ministério, por exemplo, é o maior mantenedor da Confederação há mais de uma década. Será que ele, Ministério, não teria interesse em realmente abrir a caixa-preta da entidade máxima para compreender se sua verba, que no final das contas é a verba de toda população, foi realmente bem utilizada e se a gestão de um dos esportes mais populares do país está sendo bem feita? E para o COB, não seria o caso de uma investigação mais profunda? Infelizmente nada foi feito e agora temos a Federação Internacional trazendo um profissional para liderar a força-tarefa intervenção nas salas da Avenida Rio Branco, centro do Rio de Janeiro.

nunes42) Me perguntaram ontem: E agora, o que será de Carlos Nunes, presidente que está finalizando o seu (péssimo) segundo mandato? Na verdade a resposta cruel, seca e verdadeira é: "Nada". Não acontecerá nada com ele. Se tivesse um mínimo de compreensão dos fatos, se não vivesse em uma bolha, se não habitasse um universo tão diferente daquele que é a realidade do basquete brasileiro ele teria pedido para sair depois da Olimpíada do Rio de Janeiro. Mas Nunes é persistente e um produto do meio político esportivo brasileiro. Trafega bem entre seus pares com suas ilações (alguns ainda caem), não é cobrado por NINGUÉM, ignora as dificuldades que se apresentam, crê que o problema está sempre na conjuntura econômica do país e segue vivendo. Poderia, muito bem, antecipar o final do seu mandato e convocar eleições para o final de 2016, permitindo ao novo presidente que começasse o mandato logo no início de 2017. Seria o único serviço que ele prestaria ao basquete brasileiro em oito anos. Não é crível que isso aconteça, porém. Entre a impossibilidade de uma renúncia e a improvável tentativa dele de rumar para o terceiro mandato aproveitando-se da nova Lei do Ministério do Esporte, é mais plausível acreditar que o mandatário termine o seu mandato em março do próximo ano exatamente como começou a sua história na entidade máxima: flanando no poder e não fazendo absolutamente nada de útil pelo esporte.

cbb13) Chegamos, então, ao fundo do poço do basquete brasileiro após a Federação Internacional anunciar a força-tarefa intervenção na Confederação Brasileira? Não, ainda não. Como venho dizendo neste espaço há mais de cinco anos, o buraco do basquetinho nacional é sempre mais fundo que a gente pode crer. Se Carlos Nunes é um péssimo presidente, e é mesmo, o que dizer da possibilidade de termos Barbosa ou Amarildo Rosa assumindo uma entidade que deverá, ao final de 2016, quase (ou mais de) R$ 20 milhões? Me opondo à frase daquele famoso político, o que está ruim pode ficar, sim, bem pior.

cbb24) Este novo capítulo do mico infinito que é essa CBB comandada pelo duo maravilhoso formado por Grego e Carlos Nunes há quase vinte anos só vem a comprovar aquilo que penso, escrevo e falo há tempos: ou o basquete brasileiro passa por uma revisão sistêmica COMPLETA ou não conseguirá sair da lama em que se encontra. Sou voz praticamente única abordando este tipo de assunto que, eu sei, cansa pacas, mas creio ser importante falar desta questão pois impacta decisivamente no que vemos em quadra. Nunes, e Grego também, são produto de um meio promíscuo, sujo, retrógrado, conservador, pouco inteligente e sem um pingo de idéia para tirar o esporte da situação lastimável vigente. Ou para, abre a cabeça (e o coração) e mexe em tudo (na forma de se eleger presidente, na gestão, no planejamento, na relação entre clubes, técnicos e jogadores, na transparência, no trato com a imprensa, na tão sonhada massificação da modalidade), ou continuaremos onde estamos – o termo "onde estamos", na verdade, significa andar para trás.

caminho6) Se me perguntassem onde mexeria em primeiríssimo lugar na Confederação eu diria: na estrutura de votação e na formação de um comitê gestor de altíssimo nível para comandar a CBB. Seria um caminho. Não é possível que só 26 presidentes de Federação votem no mandatário do país e que logo depois não precisem trabalhar nem um pouquinho para melhorar a condição do esporte em suas localidades.

caminho1Não é possível, tampouco, que os diretores e gerentes do esporte da bola laranja sejam, desde sempre e para sempre, tão ruins, tão fora de sintonia com o que se faz de melhor em termos de gestão esportiva no planeta. O novo presidente, portanto, não deveria ser apenas um cara com credibilidade em alta, mas sim alguém que conseguisse colocar ao seu lado personagens relevantes para mudar o rumo da história. Há ótimas cabeças pensantes querendo auxiliar o basquete no Brasil. É preciso colocá-las, todas, na mesma página e em condição de, neste momento, procurar alternativas para recolocar a modalidade nos trilhos. Seria necessário, no entanto, uma abertura grande na Confederação, fazendo com que essa turma de bem se aproximasse, e não se afastasse, do basquete. Para isso ser possível, é fundamental que se crie um ambiente extremamente profissional, transparente, sério e que seja atraente para estas pessoas exporem suas ideias. Algo que, desculpem dizer, no momento está MUITO longe de acontecer não só no basquete, mas em quase todos os esportes do país.

Concorda comigo? Comente!

Sobre o blog

Por aqui você verá a análise crítica sobre tudo o que acontece no basquete mundial (NBB, NBA, seleções, Euroliga e feminino), entrevistas, vídeos, bate-papo e muito mais.