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Bala na Cesta

Personagens do Basquete Brasileiro: Iziane - Parte II

Fábio Balassiano

05/08/2016 15h00

Na parte I da entrevista com Iziane você leu isso aqui .

izianeBNC: No meio disso tudo teve o Mundial de 2006 em São Paulo. Jogaram em casa, Ibirapuera cheio, mas no final duas frustrações – perder da Austrália na semifinal e o bronze contra os Estados Unidos.
IZIANE: E como. Mas aquele Mundial foi uma experiência bacana pra caramba, sabia? Quantos atletas podem dizer que disputaram um Mundial e uma Olimpíada em casa? Eu tive esse privilégio. Acho que esse Mundial de 2006 foi bem legal pra mim porque já estava firme na seleção, amadurecida e ainda havia o suporte das meninas mais experientes. Era uma oportunidade ótima, um time excelente e que se aproveitou do apoio da torcida para crescer. Podíamos até ter sido campeãs do mundo em 2006…

iziane1BNC: EUA perderam pra Rússia na semifinal e vocês poderiam ter ganho o título há dez anos, né?
IZIANE: Sim, sim. Apesar desse final, desses problemas, fomos muito bem. Sabe o que mais machuca, Bala? Aquela geração, aquela galera, merecia um coroamento final com medalha. Janeth, Helen, Alessandra, Cintia. Todas elas mereciam fechar suas trajetórias com a seleção com uma medalha no peito e isso é o que mais doeu na gente. Porque chegamos perto, construímos bem o campeonato, tivemos vitórias muito boas, mas no final escapou das nossas mãos.

iziBNC: Alguma coisa te marcou daquele Mundial?
IZIANE: Lembro de várias coisas dali também. Lembro de uma lesão importante da Érika, que ficou toda a fase de classificação fora devido a isso. Lembro que estávamos muito desacreditadas antes do jogo das quartas-de-final contra a República Tcheca e eu tinha plena confiança de que ganharíamos. Como ganhamos e ganhamos bem (75-51). Estava engasgada com elas, sabia? E sabe por quê? Tinha acabado de sair da República Tcheca, e lá o técnico quase não me colocava pra jogar. Quem era o técnico da seleção delas?

iziane1BNC: O mesmo cara que não te colocava pra jogar no clube…
IZIANE: Ele mesmo. Estava entalada. Queria muito enfrentá-lo. Naquele jogo lembro que fiz quase 20 pontos no primeiro tempo (foram 23 no total) e não demos chance alguma pra elas. Fazia as cestas e ficava olhando pra ele. Foi engraçado. Lembro muito dessa chance de jogar a final sem ser contra os EUA também. Deixamos escapar.

BNC: Aquela semifinal com a Austrália foi de cortar o coração, Iziane…
IZIANE: Lembro bem também. Construímos bem o jogo, tínhamos uma boa frente e elas viraram no último período (31-12) sem nos dar muita chance. Recuperaram, viraram, passaram, ganharam o jogo. Quando fomos ver estávamos apertando as mãos delas depois do apito final. É duro, mas realmente foram dez minutos que nos tiraram uma chance enorme de título. Tanto que a Rússia, que eliminou os Estados Unidos, perdeu a final da Austrália. Estávamos bem naquele jogo e perdemos.

izi1030BNC: Como é entrar no vestiário depois daquele momento?
IZIANE: Pra mim, estes jogos é onde você, enquanto atleta, mais aprende, sabia? Até hoje uso muito este jogo como referência. Falo isso até hoje para minhas companheiras. Não dá pra dar chance, Bala. Tem aquela metáfora do leão. Você dá uma pancada nele. Ele está bambo. Ou você mata ele de vez ou ele vai levantar e vai te comer. No basquete é igual. Se você abriu uma janela pra vencer, vai lá e finaliza isso. Do contrário, o outro time pode perceber a oportunidade e vir em cima de você. É frustrante não você perder, mas sabe o quê? É frustrante perder daquele jeito porque você, como atleta, sabe quão difícil é chegar naquele momento, naquela situação. E estávamos perto. Você está controlando ali, sabe. E do nada sai das suas mãos.

izi1040BNC: Queria explorar uma coisa. Está claro que pra todo mundo que te acompanha que você tem uma personalidade bem forte. Sempre foi assim?
IZIANE: Sempre, sempre. Desde criança mesmo. Tem algumas fotos minhas de quando era criança que já dá pra ver. Pra mim é preto no branco, Bala. Sou muito direta e muito emotiva. Por isso sempre chorei muito também.

BNC: Quando entrevistei a Tamika Catchings ela uma me disse que não admitia que jogadoras menos capazes que ela treinassem menos que ela. Como é pra você esse tipo de coisa? Você, hoje, precisa se controlar um pouco mais, mas é essa questão de exigência que você se impõe e que nem sempre as outras acompanham?
IZIANE: Em relação a isso sempre fui muito tranquila. Sempre respeitei a individualidade de cada uma, o limite de cada uma. Entendo o que a Tamika diz, eu tenho um grau de tolerância muito baixo, mas sempre respeitei a limitação. O que me irrita, o que me irrita mesmo, não é não conseguir. Isso faz parte. É não conseguir porque não se tentou, porque não se quis. Aí não admito. Sobre falar, eu falo mesmo. Obviamente a forma eu tenho aprendido a falar melhor. É aquela coisa, Bala. Eu entendo tudo de todas as meninas. Mas veja um exemplo. Se eu dei um passe à frente e você não chegou lá porque não foi veloz o suficiente porque isso é seu, tudo bem. Erro meu e acontece. Agora, se eu vejo que você se poupou, não deu 100% do que poderia, aí sim, cara, eu fico irritada pra caramba. E isso é diferente. Ser incapaz de fazer por questões atléticas, ok. Faltar vontade não é admissível. Eu dou o meu máximo e espero que cada um dê também.

iziane10BNC: Você acha que tem muito do brasileiro essa não compreensão do seu jeito mais franco, mais direto, de ser? E te explico: na Europa, onde você morou muito tempo, nos Estados Unidos, o que você às vezes disse na sua carreira sempre é tratado como algo normal. Eu mesmo enxergo quase tudo o que você fez com naturalidade, mas aqui no Brasil existe um melindre absurdo. Sou muito objetivo, racional e compreendo que pra você isso aqui é trabalho, negócio, e não brincadeira…
IZIANE: Acho que tem muito da cultura brasileira nisso, sim. O americano é bem direto e crítico. O americano diz: "Sua bola não caiu porque você não fez o movimento certo, sua preparação foi ruim, seu físico estava mal cuidado". Aqui falam em pressão. Nada disso. É cultural, né, de querer ficar justificando as coisas de alguma maneira que não a mais sincera.

izi1BNC: Bom, agora vou começar a te apertar aqui. Depois que as meninas mais experientes saíram da seleção você começou a ser a líder do grupo. Em 2007 teve um Pré-Olímpico das Américas, você errou uma bandeja, o Brasil perdeu de Cuba e teve que disputar o Pré-Olímpico Mundial de Madri. Ali houve aquele case de sucesso imenso, né…
IZIANE: (risos) Também lembro de tudo daquele Pré-Olímpico. Estávamos bem preparadas e focadas para conseguir a vaga. Lembro daquele jogo específico contra a Bielorrússia que já poderia dar a classificação direta. Por isso a minha frustração e a minha reação.

izi5000BNC: Izi, o que se passa na cabeça do atleta quando ele diz pro técnico assim 'Eu não vou entrar'?
IZIANE: Olha, pra mim ali foi simples: sou titular, você conta comigo, você (o técnico) tira todo mundo para tentar igualar o placar. Aí ok, beleza. Só que volta todo mundo menos eu. Aí quando faltam dois minutos, com o jogo perdido, eu tenho que entrar para recuperar o jogo? Neste momento não conte mais comigo. Agora, dentro de vários jogos, isso acontece muito, mas muito mesmo.

BNC: Mas em vários jogos da sua vida já aconteceu isso e você vai lá e entra. Você pode ter entrado fula da vida, mas entrou. É que naquele jogo você verbalizou. E aí explodiu. Ou estou errado?
IZIANE: Não, não está. Pode ser, pode ser isso. Mas já verbalizei em outros, só que em situações diferentes. Exemplo com a equipe do Sampaio Correa, com a própria Lisdeivi, como eu tenho com o Barbosa, já aconteceu de eu verbalizar algumas coisas desse nível também. É que ali foi um acúmulo todo também. Havia saído da WNBA pra jogar com a seleção, e em um jogo desses o técnico não conta comigo?

izi50001BNC: Mas, Izi, não sou defensor de ninguém. Você não entende que técnicos podem tomar decisões ruins? Aquela atitude não foi imatura?
IZIANE: Foi uma explosão, foi uma frustração exposta. Recentemente em um jogo do Sampaio Correa eu não entrei no segundo tempo de um jogo contra Americana. No final do jogo a Lisdeivi chegou pra mim e me disse: "Me desculpe, eu esqueci de você no banco". Achei aquilo ali tão legal, sabe. Não por ser comigo, mas pela sinceridade de um técnico que conversa com seu atleta com toda humildade.

BNC: Você hoje, olhando pra trás, consegue admitir que errou?
IZIANE: Lógico, lógico que sim. Eu admito que errei, que me arrependo. Mandei mal, mandei mal, sim. Acontece na vida de todo mundo, né? Ali foi uma decisão errada que não deveria ter tomado. As pessoas às vezes me dizem que eu brigo com técnico. Eu não briguei com o Paulo Bassul. Só disse que não entrava e pronto. Nunca desrespeitei, nunca fiz nada. Falei com as meninas inclusive, pedindo desculpa ao grupo. Até o Jogo das Estrelas da Liga ano passado (em 2015) em Franca eu nunca tinha cruzado mais com ele. Cruzei, falei, conversei na boa. Os dois conversaram sobre como ambos amadureceram.

izi6000BNC: É que atleta é fogo, difícil de pedir desculpas, mas se você estivesse numa sala só você e ele, falaria que tinha se equivocado?
IZIANE: Claro, claro que sim. Estou falando com você, falaria com ele também normalmente. Aconteceu. Não me arrependo de nada da minha vida. Mandei mal e pronto.

BNC: Como foi ver aquela Olimpíada de casa? O Brasil foi muito mal…
IZIANE: Foi triste, foi bem triste ver de longe. Fiquei triste porque sei que poderia ter ajudado. E foi naquela Olimpíada que o Brasil efetivamente deixa de ser uma potência mundial. Ficou em penúltimo, foi um primeiro momento de queda. Até agora não conseguimos nos reestruturar.

izi50BNC: Aí você não foi pra Pequim-2008, o Bassul saiu, houve muitas trocas de técnicos, mas em 2012, em Londres, você estava quase lá…
IZIANE: (risos) Fui até lá, até a beira da Olimpíada, e me mandaram de volta pra casa (Risos). Lembro de tudo daquele momento também.

BNC: O que aconteceu?
IZIANE: A gente estava em Lille, na França, disputando um torneio…

izi5000.88jpgBNC: Aí você levou quem não podia levar pro quarto, é isso?
IZIANE: Não, não. Meu namorado estava hospedado no hotel. Fiquei três meses treinando com a seleção brasileira no Brasil sem ver meu namorado, que era americano. Aí ele foi me encontrar nos EUA para os amistosos e depois seguiria para me ver nas Olimpíadas.

BNC: Ué, então por que você foi cortada?
IZIANE: Porque eu dormi com ele.

BNC: E não podia. Você não pensou nas consequências?
IZIANE: Sim, mas não achava que aquela ação tivesse uma consequência tão grande. Em 2008, no Pré-Olímpico que você citou, foi uma coisa de jogo, uma coisa durante uma partida. Ali, ok. Mas em 2012, foi algo de fora de quadra. Achei um pouco demais.

hort1BNC: Quando a Hortência te chamou para anunciar o corte, como foi o sentimento de tristeza por não ir a mais uma Olimpíada?
IZIANE: De tristeza, não. Eu estava perplexa. Ela me chamou e estava toda a comissão no quarto. Eu entrei no quarto, estavam todos lá e eu pensei: 'Caramba, o que aconteceu?'. Daí Hortência começou a falar que eu estava sendo cortada e deu os motivos. Aí falei: 'Vocês estão me cortando por isso?'. E peguei minhas coisas pra ir embora. Liguei pra algumas pessoas, contei o que tinha acontecido e fui embora. Se não era para argumentar, eu não iria argumentar…

BNC: A Hortência era sua ídolo de infância. Foi ela uma das grandes responsáveis pela sua volta à seleção. Como foi decepcioná-la naquele momento? Como é decepcionar um ídolo deste tamanho?
IZIANE: Você tem que perguntar a ela…

hortenciaBNC: Não, não. Você que decepcionou a ela, e não ela a você, Izi…
IZIANE: Mas ela é que se sentia decepcionada. Porque na minha cabeça não tinha necessidade. Eu agi errado porque era uma norma, mas não mudaria em absolutamente nada na vida das pessoas ali.

BNC: Também viu a Olimpíada de lá. Voltou direto pra Washington, na WNBA. Também frustrante?
IZIANE: Pô. Essa aí eu fiquei puta de não ter jogado. Não fui antes pra WNBA pra ficar treinando com a seleção. Abri mão do maior salário da minha vida. Tinha acabado de sair de uma final com o Atlanta, valorizada, fui pro Washington e fiquei na seleção. Treinei, me dediquei e não rolou. Olha, Bala, pra mim nessa idade é muito desgastante, sabe. Nessa idade, concentração, treinamentos. Me dediquei, ajudei e não deu certo. Estava injuriada mesmo.

izi1000BNC: Achou que depois daquele momento nunca mais iria voltar pra seleção?
IZIANE: Olha, foi diferente. Eu queria não mais voltar à seleção. Tudo bem que era uma regra, que tirassem meu salário, mas me cortar por causa daquilo e levar 11 para a Olimpíada? Achei demais, sabe.

BNC: Aí você volta pro Brasil, monta o time lá com o Betinho, o Maranhão Basquete, e lembro que nos encontramos uma vez no aeroporto logo depois do Jogo das Estrelas em Franca, 2015. E te disse: 'Izi, reflita. Tem uma Olimpíada pela frente e você ainda é capaz de ajudar'.
IZIANE: E eu te disse: 'Se me chamarem, eu volto. Se precisarem, eu volto'. Depois que passam esses momentos você reflete. Eu estou aqui, treinando com a seleção brasileira e vou dar o meu melhor para ajudar a seleção brasileira.

barbosa8BNC: Quando o Barbosa voltou você sentiu que tinha uma chance ali com ele, não? Porque eu converso com o Barbosa e ele me diz que te entende…
IZIANE: A gente sempre se deu muito bem. O Barbosa é muito bom técnico de seleção porque sabe lidar com diferentes egos. Seleção brasileira são as melhores de seus clubes que chegam pra jogar juntas. O Barbosa sabe disso. Fiquei muito feliz quando ele assumiu não por mim, mas porque sei que ele entende do basquete feminino e seria capaz de brigar pela gente.

izi2BNC: Pra fechar aqui a parte de basquete. Como foi ganhar o título nacional pelo Sampaio Correa? Pela sua cidade, diante do seu povo, ginásio lotado…
IZIANE: Fiquei muito feliz porque foi um prêmio para o projeto de quatro anos. Conseguimos premiar o povo maranhense, que abraçou o projeto com muito carinho. Enquanto tinha a LBF, transformamos a cidade na capital brasileira do basquete. Ia ficar muito frustrada se não tivesse conseguido dar o título para a cidade. Acho que aquela torcida merecia, sabe. O Maranhão é muito carente de alegrias e o basquete conseguiu dar isso. Quando acabou o último jogo todo mundo estava pulando, saltando e eu fiquei parada. Eu queria aproveitar aquele momento vendo a alegria dos outros. Queria guardar na minha cabeça a felicidade dos outros, entende? O jogo já estava meio ganho, estava quase 30 pontos e eu lembro que ficava olhando pra arquibancada, pros torcedores, pros amigos.

iziane1BNC: Sua relação com a imprensa, como é?
IZIANE: Olha, eu sempre tive uma convivência muito boa com a imprensa, apesar de eu achar que ainda se bate muito nessa parte ruim da minha carreira. Mas hoje eu entendo como as coisas funcionam e o que vende, o que dá audiência. Realmente acho que falta uma cobertura maior. As finais da LBF, por exemplo, foram pouco divulgadas, sabe. Precisamos de uma maior abertura na imprensa, principalmente na televisão, que é o que traz público. A internet fez com que o basquete feminino não morresse em termos de cobertura, mas para vender o basquete feminino mesmo a gente precisa de mais televisão.

izi1BNC: Você guardou dinheiro?
IZIANE: Guardei, mas dentro daquilo que o basquete feminino permite. Os salários não são imensos, bizarramente altos. Mas consegui guardar alguma coisa, sim. Não descarto trabalhar com o Sampaio, mas como dirigente, por exemplo.

BNC: Você pensa em continuar o esporte, mas em outras funções, né?
IZIANE: Sim, não penso em abandonar essa parte esportiva.

BNC: Fora de quadra, como a Iziane passa o tempo?
IZIANE: Hoje em dia é 90% do tempo com meu Instituto. Se não estou jogando ou treinando estou cuidando das coisas do Instituto. Hoje em dia são 120 crianças que a gente atende lá em São Luís há dois anos. Temos pedagogia, assistência social, tudo isso lá. E tenho que cuidar de tudo isso. Um pouco de lazer que consigo é ir para a praia aos domingos. Ali na Praia do Meio. Temos um grupo de amigos que sempre frequenta ali há muito tempo. E cinema. Gosto muito de filme, de todos os tipos de filme. Vejo de tudo. Eu sou muito ativa. A vida precisa ser vivida. A gente descansa quando for morrer. É mais fácil.

izi2BNC: Ser mãe, você não quer?
IZIANE: Nunca quis, sabia. Nunca nem sonhei com o príncipe encantado, essas coisas. Sempre me dediquei muito a minha carreira e talvez isso tenha tirado um pouco esse lado mais pessoal. É o ônus da carreira de atleta. Ser mãe, pra mim, é uma dedicação pra mim que eu não quero pra minha vida. Quero ter um companheiro, mas sou muito crítica em relação ao mundo e não sei se quero colocar alguém no mundo do jeito que ele está hoje, não. As pessoas hoje não são tão humanadas como eram antigamente. As pessoas deixaram os valores humanos meio de lado. Eu tenho um sobrinho que joga, tem 14 anos e a gente conseguiu colocar os nossos valores nele. Mas é complicado, porque o mundo vai corrompendo as pessoas. Não sei se quero passar por essa luta.

izi3BNC: Quando você olha a situação do Brasil hoje, te preocupa?
IZIANE: Sim, e muito. Me preocupa muito. Estávamos até em Americana disputando a LBF quando votaram o impeachment da Dilma e me preocupava muito com o rumo das coisas. E eu pensava: 'Caceta, vou é me mandar daqui. Vou aproveitar meu sobrinho, que deve estudar nos EUA em breve, e fico lá de vez'. Mas a verdade é fico muito triste, sabe. Isso é algo que me visualizo fazendo para tentar melhorar a vida das pessoas. Me filiei ao PSL (Partido Social Liberal) e quem sabe concorra ao cargo de vereadora no Maranhão. Eu acredito muito na política enquanto teoria, mas as pessoas aqui no Brasil querem entrar na política não para melhorar a vida do próximo, mas sim para se beneficiar pessoalmente. São coisas bem diferentes. As pessoas esquecem que ali estão os sonhos do país inteiro para ter uma vida mais digna. Em São Luís eu moro em um bairro onde as pessoas não têm o que comer, não tem água. Bala, não tem água. As pessoas às vezes criticam o Bolsa Família, mas se não for isso aquela pessoa ali vai comer o quê? O nosso Brasil me decepciona um pouco nisso, sabe. Quando chegam, estes políticos, ao poder e não olham para o povo isso me decepciona demais.

izii1BNC: Dos políticos, quem você admira?
IZIANE: Está difícil, né? No Maranhão, é impossível negar o poder da família Sarney. Chegou a presidência da República, isso é importante. Mas hoje em dia os valores que eu acredito como básicos para a população estão muito longe dos políticos que deveriam representar o povo. Não consigo ver um político se dedicando ao cargo como deveria, sabe. Eu sinto sempre que meu direito democrático está sendo violado pelos políticos.

BNC: Isso tudo acaba voltando para o que você falava de não querer ter filho, não?
IZIANE: Como vou botar um filho nesse país assim, Bala? Eu fico abismada com as pessoas. Minha amiga estava grávida do terceiro filho e eu só olhava pensando no absurdo. Mas isso sou eu, claro, eu que penso assim. Eu não me vejo em condições de colocar uma criança no mundo. A vida não é um mar de rosas o tempo todo, mas hoje em dia está complicado pensar em ter alguém que dependa 100% de mim.

iziiiiBNC: Quantas atletas têm esse nível de entendimento político? Por quê atleta se mete tão pouco em questões políticas relativas ao esporte?
IZIANE: São muito poucas as que se metem. Quando houve aquele boicote à seleção no começo do ano eu trouxe este tema. Quem estava lutando pelos atletas? Naquele momento, era uma luta das jogadoras ou de terceiros? Entende o que quero dizer? Falava pra elas sobre como as coisas funcionavam, como elas deveriam entender, tudo isso. Falo inclusive em relação às coisas da CBB. Se tem convênio, o que é convênio, o que é Lei de Incentivo, o que é patrocínio. Todos deveríamos saber disso. É o básico. Falo isso com as atletas, falo muito. Eu mesmo pergunto tudo, mas o atleta em geral não se mete muito. Só foca na quadra e deixa o resto com o cartola. É uma pena, mas os atletas não gostam muito. É cultural, é reflexo do país também. Deveria ter aulas de política nas escolas desde muito cedo. O esporte é reflexo do país, nada mais que isso.

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