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Bala na Cesta

O título que muda o patamar de LeBron James na história do basquete

Fábio Balassiano

21/06/2016 06h00

lebron20LeBron James anunciou a volta a Cleveland em 2014 com uma singela frase: "Estou voltando pra casa". Bem diferente do que, quatro anos antes, ele fez para informar ao mundo que levaria seus talentos para South Beach (Miami Heat). Com o retorno ao Cavs, um maduro LeBron tinha uma única missão – dar o inédito título a Ohio.

lebron11E foi o que ele conseguiu neste domingo. Após a frustração de 2015, quando tentou praticamente sozinho (Kyrie Irving e Kevin Love se machucaram) contra um esplêndido Golden State Warriors, LeBron enfim cumpriu a sua promessa diante do mesmo adversário que o havia derrotado na temporada anterior. Cumpriu em grande estilo. Venceu o time de melhor campanha da história da NBA (73 vitórias), saiu de 1-3 para se tornar o primeiro a virar para 4-3 e assinalou no jogo 7 um surreal triplo-duplo (27-11-11), algo que apenas James Worthy e Jerry West haviam conseguido. A comemoração dele depois dos 48 minutos da batalha épica na Oracle Arena, em Oakland, deram bem a dimensão do que ele estava sentindo e do que ele havia alcançado.

lebron9Se em Miami LeBron James aparentava até uma certa arrogância quando ganhou os dois canecos (parecia dizer: "Eu vim aqui pra ganhar e ganhei mesmo. Não tinha dúvida que aconteceria"), o choro e a forma como ele desabou no solo após concretizar a conquista pelo Cavs dão outra dimensão para o seu terceiro título de NBA. Pelo Heat era quase "pró-forma", um rito quase que escrito. Pelo Cleveland, o fim de uma penitência que ele mesmo havia se colocado desde que chegou à liga. Não era ganhar. Era liderar uma cidade inteira que aguardou mais de 50 anos por um título nas principais ligas esportivas americanas. São situações bem diferentes – e por isso mesmo a emoção se justifica. Se jogar no chão era uma forma, também, de dizer um "ufa, acabou, eu consegui o que mais queria nessa vida" que deixou todos bem mexidos. Não era a conquista de um troféu. Era a realização de um sonho de criança. E como protagonista.

lebron3O choro, o beijo na taça, as lágrimas, os abraços incontidos nos filhos se justificam, também, porque o camisa 23 ouviu muita coisa (escreveu isso inclusive em seu Instagram) de um ano pra cá. Ouviu muito quando David Blatt foi demitido pela franquia Cavs ali antes do All-Star Game. Ouviu, também, muito sobre como os Warriors eram fantásticos e como, vejam só vocês, Steph Curry tomaria o lugar dele de melhor atleta do planeta. As finais vieram e James não provou apenas quem ainda manda no pedaço, mas sobretudo a grande diferença entre o verbo estar e o verbo ser. Curry ESTÁ o melhor do mundo para ser o MVP unânime. LeBron É o melhor do mundo há bons cinco anos (no mínimo). E quem É há tanto tempo não é craque a toa, do nada, como se fazer o que ele faz fosse fácil. Antes da decisão eu disse no Podcast que o fator "ego" poderia fazer a diferença. Fez. LBJ jogou pela cidade de Cleveland, mas também porque sua reputação estava em jogo (e muito em jogo). Um possível 2-5 em finais seria trágico. Um 3-4, com um título pelo Cavs, muda muita coisa, embora o cuidado com as palavras seja necessário também.

lebron4E digo isso porque nessas horas os exageros aparecem. Creio ser leviano dizer que LeBron James agora se coloca no mesmo nível do Michael Jordan. Leviano e até certo ponto "resultadista", algo que não sou. LeBron e os Cavs estavam a um minuto (no domingo) de perderem o título da NBA. Poderia perfeitamente acontecer caso Andre Iguodala, por exemplo, tivesse cravado uma bola em que levou um dos tocos mais sensacionais da história do basquete do camisa 23 do Cavs. LBJ saltou 615m, desceu com a bola e no ataque seguinte Kyrie Irving matou uma bola de três fundamental. A comemoração em Ohio poderia não ter acontecido. E mesmo assim a sua performance assustadora nesta final permaneceria intacta.

lebron5Ao mesmo tempo, vencer (e da maneira que foi) coloca James em outro patamar, em outro nível, em outra dimensão, bem mais acima no panteão dos melhores de todos os tempos. Não dá pra afirmar, neste momento, em qual grupo ele vai se colocar (Top-5, Top-10, Top-15 de todos os tempos) porque o cidadão ainda tem 31 anos e muita lenha pra queimar. Já pararam pra pensar que nesta mesma altura dos acontecimentos em 2017 provavelmente estaremos aqui de novo falando do Cavs em outra final da NBA e de quão fantástico James estará sendo para dar o bicampeonato ao Cleveland? Tem muita estrada, pra ele e pros Cavs percorrerem, nos próximos anos ainda. O que dá pra dizer sem dúvida alguma é que ele passou da categoria 'grande craque' para a dos grandes gênios do basquete (Magic Johnson, Isiah Thomas e outros bambas falaram a mesmíssima coisa ontem…). E neste segmento não são muitos os que frequentam, não. Isso todos podem afirmar sem o menor problema, sem o menor medo de errar.

lebron2Ontem revi boa parte do jogo. No domingo você fica no calor das emoções, tentando entender taticamente o que está acontecendo. Nesta segunda-feira, não. Olhei apenas pra LeBron. Suas reações, cansaço, intensidade, liderança, emoções. Era visível o que estava acontecendo ali. Um leão procurando suas presas (Curry, Iguodala, Leandrinho) e buscando um filé macio (no caso o anel de campeão).

Se você chegou até aqui, já dá pra dizer: este foi um dos textos mais difíceis que escrevi em mais de oito anos de blog. O motivo é simples: o que LeBron fez nesta final da NBA é algo quase impossível de "mensurar", transformar, transportar, para palavras. As imagens falam por si. Com 1-3 na série o cara conseguiu 41 pontos, 41 pontos e um triplo-duplo fora de casa no jogo 7 para dar o inédito título a franquia, a sua cidade-natal. "Só" isso, né?

lebron50O Rei segue sendo o Rei. O Rei da selva. O rei do basquete. Disparado o melhor jogador desta década. Disparado o cara (no geral) mais preparado dos dois lados da quadra. Disparado aquele que faz os seus companheiros melhor. Se houve erros no passado, serviram para transformá-lo no que vemos hoje – o atleta da bola laranja mais espetacular do planeta. Seu comprometimento, seu profissionalismo, sua forma de querer evoluir chegaram a níveis absurdos. O toco em Iguodala, com ele indo pro banco espumando de tanta intensidade, comprova isso. Ninguém queria mais o título do que ele. Ninguém lutou mais por esse título do que ele. Ninguém sofreu tanto por este título quanto ele. Ninguém, ali, MERECIA mais o título do que LeBron James.

Vida longa ao rei.

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