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Bala na Cesta

Raulzinho fala do Rio-2016 e da expectativa por medalha em casa

Fábio Balassiano

01/06/2016 06h01

raul2Raulzinho chega para a Olimpíada do Rio de Janeiro, a segunda de sua carreira, empolgado por uma boa temporada no Utah Jazz, a sua primeira na NBA. Mais do que isso. Aos 24 anos, o armador sabe que sua função mudou. Em 2012, em Londres, era um jovem entrando em um grupo de atletas experientes. Agora, é considerado peça-chave pelo técnico Rubén Magnano para os Jogos. O blog conversou com ele na segunda-feira na sede da NBA Brasil, no Rio de Janeiro, sobre seleção brasileira, da emoção de disputar uma Olimpíada em casa, de sua temporada de estreia na NBA, do jogo de despedida de Kobe Bryant do qual ele fez parte e muito mais. Raulzinho contou inclusive uma história bem interessante sobre seu pai, o ex-armador e hoje técnico da Caldense (MG) Raul Togni, que não disputou a Olimpíada de 1992 para acompanhar o seu (dele) nascimento. Confira o papo, que será dividido em duas partes.

raul3BALA NA CESTA: Começo falando de seleção agora. O que esperar dessa Olimpíada que é tão especial? Especial por ser em casa, por ter chance de medalha, por provavelmente ser a última de boa parte dessa geração mais velha…
RAULZINHO: A gente espera que seja uma boa Olimpíada. A gente teve tropeços em Olimpíadas, em Mundiais, que deixaram a gente fora da luta por medalha e a gente aprendeu muito com isso. Olimpíada é um campeonato curto, e um dia, um jogo, te aproxima ou te afasta de brigar por medalha. Todos estão maduros e aprendemos muito. Na Olimpíada de 2012 todos éramos muito novos naquele tipo de situação. No Mundial de 2014 aprendemos muito, tiramos várias lições. Conseguimos ganhar da Argentina, que estava engasgado havia muito tempo, mas logo depois jogamos contra a Sérvia, contra quem havíamos vencido na primeira fase, e perdemos. Mas isso serve de aprendizado e creio que estamos preparados pra Olimpíada. A gente conversa muito entre a gente, temos um grupo no WhatApp só dos jogadores e está um clima bem legal. Todos estão bem confiantes que podemos ir longe.

raulpai1BNC: Esta é sua segunda Olimpíada, e não digo que você vai estar realizando um sonho do seu pai, o Raul, porque isso você fez em 2012 em Londres. Mas imagino que jogar uma Olimpíada com ele em casa deva ser especial pra você e toda sua família, né?
RAULZINHO: Tem uma história que quase ninguém sabe. Em 1992, nas vésperas da Olimpíada de Barcelona, meu pai estava treinando com a seleção e pediu dispensa dos treinamentos porque minha mãe estava grávida de mim e ele foi acompanhá-la. Ninguém sabe se ele iria ficar, porque havia uma série de bons armadores, como Guerrinha, Cadum e Maury, mas tinha boas chances. Aí ele acabou que não foi porque eu estava pra nascer. Vinte anos depois eu fui para uma Olimpíada que ele não pôde vir. Nessa daqui meu pai está bem tranquilo. Ele não queria nem vir porque estava com medo da confusão, desorganização, lugar pra ficar, essas coisas. Mas falei com ele: "Pai, esta é uma oportunidade única. Você tem que vir". Consegui convencer meu pai e minha mãe também vem por causa dele, né. Então todo atleta tem direito a dois ingressos. Dei os meus dois pros meus pais, meu irmão vai estar aqui também e pra ele não vir sozinho um amigo meu estará aqui com eles. Vai ser maravilhoso poder compartilhar isso tudo com eles no Rio de Janeiro.

raul10BNC: Sobre a Argentina, um dos adversários na primeira fase, é inevitável lembrar do jogo que você fez contra os Hermanos no Mundial de 2014. Foram 21 pontos, a melhor atuação da sua vida com a camisa da seleção brasileira. Já dá pra prever o que será do duelo contra eles de novo?
RAULZINHO: Nosso grupo todo é difícil. Se você olhar do outro lado também há times muito bons. EUA, a Austrália que virá completa, os dois que sairão do Pré-Olímpico mesmo. São dois grupos bem complicados, mas concordo que o nosso é o mais difícil mesmo. Acho que temos que pensar jogo a jogo, e o da Argentina será mais um desafio que iremos enfrentar nestes Jogos. É lógico que a gente sempre teve muita dificuldade de jogar contra eles, mas temos que esquecer isso agora. Primeiro vem a Lituânia, depois a Espanha, logo depois o time do Pré-Olímpico. Tem muita coisa até enfrentar a Argentina.

raul4BNC: Você jogou o último jogo do Kobe Bryant lá na NBA. Passa pela sua cabeça que você vai enfrentar os caras de novo e provavelmente na última aparição daquela geração dourada com Manu Ginóbili, Luis Scola e Pablo Prigioni? Dá pra carimbar mais uma vez os argentinos?
RAULZINHO: Eu não penso assim. A gente precisa ganhar de quem for. Lógico que pra eles vai ser um momento especial, assim como pra gente também será. Não vai ser bom se eles terminarem a carreira mal, e não será bom pra gente se não fizermos um bom papel em casa. Todos querem a medalha.

BNC: Em 2012 você tinha 20 anos, estava estreando na Olimpíada. Quais as diferenças do Raulzinho que era um jogador de composição de elenco na Olimpíada de Londres pra esta, em 2016, quando você será bastante efetivo? Eu acho isso uma loucura, mas se eu não perguntar meus leitores me matam, então vamos lá: passa pela sua cabeça ser titular no lugar do Marcelinho Huertas devido a boa fase que você vive?
raul20RAULZINHO: Comparando 2012 com agora eu sou outro jogador. Outro mesmo. Tive experiências bacanas. Na Espanha e neste último ano na NBA contra os melhores atletas do mundo. Vou estar preparado pra jogar o tempo que for e nas situações que o técnico Rubén Magnano achar melhor para mim e para o time. Quanto a isso, nenhum problema e está muito claro na cabeça de todos. Se for um minuto ou 40, darei o meu máximo. Essa disputa com o Marcelinho é uma disputa boa. Aprendi muito e te digo: não sei se seria o jogador de hoje se eu não tivesse o aprendizado que tive com ele nos últimos anos. Ele é um cara que me ensinou muito, muito mesmo. É um amigo fora de quadra acima de tudo. Não tem disputa de tomar o lugar dele, de ele tomar o meu, porque na seleção tem muita hierarquia também. Ele está na seleção há mais de uma década, é o capitão e fez muito mais do que eu pelo time. O que o Magnano decidir vamos aceitar numa boa. O Brasil estará em boas mãos. É uma disputa saudável e que só tem a somar pra mim e pra ele.

raul50BNC: Nesse grupo que vocês têm dos jogadores é comentada que pode ser a última chance de se ter uma medalha pra maioria dos caras dali? Anderson Varejão, Alex, Nenê, Leandrinho…
RAULZINHO: Não, a gente nunca falou sobre isso. A gente fala da chance, de estarmos jogando em casa, de estar focado, mas nunca de última seleção. E nem vai falar. Essa é uma decisão muito individual de cada um. Não comentamos nada disso sobre isso nem entre a gente.

BNC: O Magnano deu uma entrevista e falou que uma das coisas que mais preocupa ele é a distração que uma Olimpíada em casa pode trazer para o grupo. Muita família, amigos, muita gente pedindo foto, ingresso, pra visitar a galera. Como ele está falando disso com vocês, de restrições, essas coisas?
RAULZINHO: A única conversa que tive com ele sobre isso foram 10 minutos quando estava em Utah e ele falou isso, mas sem detalhes. Não entrou muito, mas citou isso de estar focado e do grupo estar bem fechado, sem distrações. Ele citou isso de serem, na Olimpíada, dez, 15 dias, e um período fundamental para nos concentrarmos em torno de um único objetivo que é a medalha.

neto1000BNC: Os jogadores do Utah Jazz que podem vir ao Rio de Janeiro (o francês Rudy Gobert e os australianos Joe Ingles e Dante Exum por exemplo). O que eles te perguntam sobre a Olimpíada? É só sobre o Zika mesmo?
RAULZINHO: Todos eles são bem experientes, já jogaram em outros países e sabem como é uma Olimpíada. Tem algumas brincadeiras, mas nada demais, não. É mais sobre Zika mesmo. Perguntam muito, até para conhecer de fato o que é. Eles acham que é uma coisa que é muito maior do que é. Acham, sei lá, que qualquer mosquito que te picar você pega Zika, essas coisas. A gente passa um pouco de conhecimento pra eles neste sentido.

Continua…

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